Já tivemos um navio petroleiro baptizado com o nome Matchedje, que ia buscar crude no Médio Oriente o qual, posteriormente era transportado para ser refinado ali na Matola porque havia uma refinaria que herdamos do colono, à boa moda da HCB.
Com a nossa refinaria operacional destilavamos sozinhos o Diesel, a Gasolina, o Petróleo de Iluminação e outros derivados e, no fim, ainda ficávamos com a "sujidade " do crude ou petroleo bruto, que é o Alcatrão que usávamos para construir e reabilitar estradas e hoje, tanta falta nos dá para os mesmos fins.
Após a Independência, a Cebola que hoje virou comédia, era produzida em Boane conjuntamente com a batata reno e, o nome Mazambanine ali no Umbeluzi, não era uma denominação abstracta. Ali produzia-se e armazenava-se batata de verdade, em quantidades industriais.
Todas as zonas produtivas do Distrito de Boane, incluindo extensas Zonas da Matola Rio eram áreas eminetemente de produção agricola.
A falta de uma politica de protecção das zonas destinadas a agricultura levou a que todas as extensões agrícolas do Distrito de Boane fossem retalhadas em quintas para ostentação, na maioria dos casos. O "Ximate xa Boane" (tomate de Boane) cantado pelo saudoso Fany Mfumo não foi obra do acaso. Em Boane produzia-se tomate em quantidades industriais que Maputo e Matola não conseguiam absorver.
Hoje, passa-se por Boane, a ir-se comprar vulgo "guevar" a comédia da cebola, tomate, repolho e outras verduras na Africa do Sul onde há uma política clara de protecção de zonas e reservas para a produção agrícola e não é para menos: comida, IS NUMBER ONE. O resto vem depois.
Quem atravessa a fronteira de Ressano Garcia para o lado sul-africano, alí mesmo nas barbas da fronteira, é imediatamente recebido por extensas farmas de produção de alimentos, em ambos lados da N4, as quais circundam aquelas primeiras lojas ali em Komatipoort.
Em Malelane os canaviais vão até as paredes dos centros comerciais e, apesar de haver muitos capitalistas, ninguém ousa parcelar uma zona agricola em zona residencial e a razão é simples: se a produção de comida só se pode fazer em certas zonas propícias para isso, pode-se construir casas em "qualquer lugar " incluindo nas pedras.
Do nosso lado, a falta de politicas de protecção de zonas ou terras produtivas, aliado à explosão demográfica e ocupações desordenadas de espaços, incluindo zonas agrícolas, daqui há uns 5, 10 ou 15 anos, vai surtir os seus efeitos nefastos.
Estamos a brincar com as zonas com potencial agricola. Amanhã, vamos chorar. Estamos a estragar sozinhos, tal como aceitamos voluntariamente matar a nossa próspera Indústria do Caju.
Moçambique era dos primeiros 3 maiores exportadores mundiais da amêndoa da castanha de caju. A nossa ignorância aceitou que abandonássemos isso. Alguém ou, algumas pessoas de então, não perceberam o que é estar entre o 3 primeiros do Mundo.
Se nem isso percebemos, temos razões bastantes para hoje estarmos a formar caravanas de camiões para irmos comprar repolho, cebola, tomate, cenoura e outras verduras e, os sul-africanos tanto agradecem a nossa ignorância, a nossa inércia, a nossa falta de imaginação tal como deixamos de refinar petróleo na Matola, para irmos importar Gasóleo, Gasolina e Petróleo de Iluminação refinados na Ásia, numa clara brincadeira e falta de valorização de muitas das conquistas que a Independência nos proporcionou.
IGNORÂNCIA MATA, E MATA MESMO.
Por Damião Cumbana
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