EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (141)
Quando Moçambique foi eleito membro não-permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), jubilou-se.
Eu, particularmente, pensei que fôssemos usar aquele pódio para a salvaguarda dos interesses de Moçambique, da África, dos países em desenvolvimento e do mundo na defesa da paz e segurança internacionais. Mas nada. Estamos a usar aquele palanque para mendigar. Fizemos tanto esforço para estar naquele lugar, afinal o objectivo era infestá-lo, assediando outros membros, na tentativa de atrair caridade internacional.
Moçambique, por culpa dos seus governantes, é como um individuo que expõe, publicamente, seus aleijões, chagas e outras deformações físicas, impressionando as pessoas, tirando partido das suas exibições hediondas e auferindo lautos proventos.
O Presidente, recentemente, esteve em Nova Iorque onde se juntou às outras potências mundiais membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas para discutir a segurança e a dignidade de civis em zonas de conflito. E o Presidente esqueceu-se do que o levou para lá. Concentrou-se em pedidos de apoios, nomeadamente para a reconstrução de Cabo Delgado.
Cá em casa, o Presidente nunca conversou com o povo sobre a reconstrução de Cabo Delgado. Nós não sabemos quais são os planos do Governo para aquela província, mas foi falar com pessoas, talvez nada interessadas no assunto.
E sempre foi assim. Assuntos que nos dizem respeito, ouvimos de terceiros. O que se constata aqui-e com muita tristeza- é que não temos nenhum projecto de Estado.
Presidente: mendigar não faz nenhum Estado! E já que temos o problema da cebola que está tão cara, como as camisetas de Taibo Bacar, é provável que o Presidente, na próxima reunião do Conselho de Segurança da ONU, suba ao pódio para pedir aos outros membros que nos apoiem em allium cepa- nome científico da cebola.
Por que não falamos da cebola entre nós? Talvez, até, seria uma soberana ocasião para o ministro Celso Coreia nos esclarecer se das três refeições, que diz que os moçambicanos têm, qual delas tem cebola!
Bom: uma coisa são crises políticas, outra um pântano político. As primeiras podem ser mais ou menos evitáveis, mas fazem parte do processo político normal. Já a segunda situação nunca deveria acontecer. Remete para águas estagnadas, águas que contaminam o País.
E por falar de águas estagnadas, vale lembrar que o processo de Manuel Chang desestagnou. Ele vai, definitivamente, para os EUA, decidiu assim a justiça sul-africana esta quarta-feira. Por que abordo esta questão nesta missiva. Porque, por mais que nos esforcemos para fazer crer ao povo, a justiça, neste País, anda a brincar de cavalinho com o poder político; sendo que a justiça é que é montada.
Recorrentemente, penso que quem deveria apresentar, no Parlamento, o Informe Anual, sobre as actividades do Ministério Público no âmbito do Controlo da Legalidade, é o Presidente da República.
A mim me parece que no organograma do Ministério Público, o primeiro é o Presidente. Depois é que vem a Beatriz Buchili.
Por isso, pergunto a si, Presidente: depois desta decisão da justiça sul-africana o que nos resta fazer para tentar travar, pela enésima vez, a ida de Chang para Nova Iorque?
Se não haver meios- por vias legais- de travar essa ida de Chang para os EUA, talvez devesse-se arranjar formas de convencer Cyril Ramaphosa para, por meio da sua influência, falar com Ronald Lamola.
Assim despachávamos um camarada, a indicar, para ir ter com Chang na cadeia de Modderbee. Evitar-se-ia que ele, chegado à Nova Iorque, comece a cantar tudo. Pode colocar tudo a perder, não acha?
Não se pode confiar cegamente nos chineses!
DN-26.05.2023