Por Edwin Hounnou
Nas celebrações do Dia da Cidade da Beira, que se celebra a cada 20 de Agosto, a Secretária de Estado da Província de Sofala, Stella Pinto Zeca, disse que o governo construiu o Parque das Infraestruturas Verdes da Beira, PIV, algo magnífico, impressionante e belo. Os presentes na Praça, em voz baixa, desmentiram aquela versão. Para reforçar a ideia, escrevemos que o Parque das Infraestruturas Verdes e protecção costeira são obras do Conselho Municipal da Beira, CMB, e não do governo. O CMB, na pessoa do seu então presidente, Daviz Simango, foi quem concebeu o projecto e procurou o respetivo investimento. O governo apareceu no momento do corte da fita e agora reclama a paternidade dessas infraestruturas.
O governo nunca esteve presente em nenhum momento para além do corte da fita e do bater de palmas. Por demais razões, o mérito da concepção, da busca de financiamento e da construção pertencem ao CMB e não ao governo que procura puxar a brasa para sua sardinha o que demonstra a falta de ideias e ausência de iniciativa.
Os beirenses viam Daviz Simango, que tenha o eterno descanso, acompanhado de técnicos da (empresa CHICO) percorrendo o Chiveve, de uma ponta a outra, a desenhar o projecto do PIV, que tem uma paisagem inigualável que deixa a Beira orgulhosa. O CMB pagou uma fortuna em indemnizações a construções abrangidas pelo projecto e o governo não tirou um único centavo.
Para a Beira não ficar inundada, em épocas de marés altas ou de chuvas intensas, o CMB está à procura de mais financiamentos para construir mais seis bacias de retenção de águas pluviais, e não só. A Beira tem três bacias que emprestam um movimento cíclico ímpar das águas do mar para a bacia e vice-versa, todas as tardes, devido ao facto de a Beira se localizar abaixo do nível médio das águas do mar.
Ninguém viu algum ministro nem secretário de estado nem governador no momento do levantamento de dados, muito menos na procura de financiamentos. Daviz Simango falou com o Banco Mundial para financiar o projecto. Convenceu a KFW, um banco alemão, a financiar aquele projecto. As duas instituições financeiras para além de desembolsarem fundos para a construção do PIV estão, igualmente, a financiar as obras da protecção costeira. Daviz Simango não pediu a Holanda para financiar o PIV, como o disse Filipe Nyusi, explicou Albano Carige, actual edil da Cidade da Beira. Acrescentou que a bancada da Frelimo na Assembleia Municipal da Beira chumbou todas as iniciativas do Município, ora assumidas por Nyusi como sendo do seu governo.
Os fundos conseguidos tinham, pela lógica, que passar pelos cofres do Estado, para serem inscritos como doações. Não constituem dívida para o Estado como pretendem insinuar, incluindo o Presidente da República, Filipe Nyusi. Antes, apareceu o ministro das Obras Públicas e Recursos Hídricas, Carlos Mesquita, a falar que o PIV e as obras da protecção costeira são da iniciativa do governo. Não se trata de uma emoção da pré-época eleitoral mas da intenção do governo de se apoderar da paternidade dessas Infraestruturas para somar pontos. O governo está à procura de louros e louvores sem ter para tal trabalhado.
Temos visto o governo mais preocupado com a Cidade Maputo, como se fosse a única urbe do país. A Beira tem problemas de saneamento mais graves que Maputo, porém, oppp tratamento tem sido desigual por razões que podemos imaginar que sejam de condão político. Os beirenses não morrem de amores pelo partido governamental ei sso é um segredo público, devido à ostracização pelas estruturas do poder central.
A igualdade no tratamento das pessoas que se possa evocar não passa de uma letra morta. A discriminação é concebida a partir de cima. Se as autoridades municipais da Beira tivessem que esperar por Maputo, a cidade do Chiveve estaria hoje pior do que está agora. Temos informações sobre queixas reiteradas do CMB de atrasos constantes de transferências de fundos para o funcionamento normal da autarquia.
A cidade de Nacala-Porto está com problemas muito sérios de erosão e o habilidoso governo não tem feito o suficiente para estancar a situação. Quem for a Nacala-Porto poderá se aperceber de que o governo é extremamente pobre em ideias. Não têm imaginação quase de nada nem visão a longo prazo sobre qualquer coisa. Por isso, o Presidente Filipe Nyusi anda de localidade em localidade a inaugurar cantinas, edifícios de tribunais, centros de saúde, salas de aulas, caminhos, furos de abastecimento de agua, etc., numa clara demonstração da falta de agenda política capaz de fazer correr para frente o país.
O que fazem os seus ministros, governadores provinciais e até administradores distritais? Filipe Nyusi parece um desocupado que só se preocupa em aparecer por aparecer. Está presente em todas inaugurações, seminários e workshops que acontecem em Moçambique. Que tipo de presidente temos nós? Não é por acaso que o nosso país está de pernas para o ar. Mesmo assim, Filipe Nyusi se bate para conseguir um terceiro mandato que é para nos afundar cada vez mais.
Queremos ver soprar outros ventos e visualizarmos novos horizontes. O país está a precisar de uma direcção forte e visionária que nos tire do matope em que nos encontramos. Mais Filipe Nyusi ou outro igual a ele? - Não, já chega! Basta! Moçambique tem tudo para se desenvolver mas isso não tem acontecido por falta de políticas públicas consentâneas. Enquanto consentirmos ou permitirmos que gente incapaz pegue no volante do país, não sairemos do chão em que nos encontramos.
VISÂO ABERTA – 02.05.2023