Por Edwin Hounnou
Vai-me desculpar pelo meu atrevimento, mas me move um único objectivo que todos os cidadãos e todas as organizações políticas, económicas e sociais tenham as mesmas oportunidades a fim de criarmos uma sociedade justa, a paz seja uma realidade quotidiana e desenvolvida. Vivemos rodeados de condições propícias para conflitos de grandes proporções devido a graves limitações a oportunidades da maioria dos cidadãos moçambicanos da livre escolha dos seus governantes.
Tem sido assim de ano para ano que os processos são viciados desde o recenseamento, passando pela eleição indo desaguar no apuramento de resultados. Para as eleições autárquicas que se aproximam não fogem à regra. A importação de eleitores fantasmas já começaram a afluir aos postos de recenseamento. Há evidências de que o seu partido iniciou a engendrar esquemas para defraudar.
Os processos eleitorais têm sido um entrave às aspirações do povo em criar uma sociedade onde todos - homens e mulheres de todos os estratos sociais, origem étnica, cor - se possam rever e possam, com orgulho, dizer que está é a minha pátria, não só pelo de ter nascido aqui, mas, é fundamentalmente, desfrutar dos seus benefícios. A canção do seu partido diz que "quem não é da Frelimo, o problema é dele", é uma triste realidade por que passam milhões de moçambicanos que não pertencem à Frelimo e os sem-partido.
Todos desejam sentir-se donos e senhores deste Moçambique. O nosso país não é nem pode ser uma propriedade do seu partido que tem encetado todas as ilicitudes possíveis para continuar como governo sem o merecer. Todas as oportunidades devem ser colocadas ao alcance de todos os cidadãos sem qualquer espécie de discriminação.
Não estou a revelar nenhum segredo que as eleições têm sido violentas e fraudulentas. Senhor Presidente, em 2014, vimos, na Beira, indivíduos idos de Cheringona, Chemba, Buzi, Tica, Nhamatanda, etc., a serem trazidos para votarem no candidato da Frelimo e na sua lista. Nas autárquicas de 2014, em Marromeu, foi notório o esforço da polícia para favorecer o seu partido. Isso foi muito mau.
A Frelimo transmite a ideia de que, só por si, já não vence nenhuma eleição. O recursos aos apoios consubstancia aquilo que ouvimos a chamada de atenção de dirigente do dirigente ANC, Matheus Phosa, falando na Universidade Wutivi a dizer num colóquio: "Cuidado, Frelimo, muitos já não te querem"!
As forças policiais irromperam pelas assembleias de voto onde "roubaram" as urnas para o comitê local da Frelimo. Não nos podemos esquecer da vitória da Renamo na autarquia da Matola, em 2018, porém, invertida pelo empurrão das autoridades judiciais e eleitorais. Assim, as eleições são um golpe à democracia.
Estamos há quase 30 anos em sistema multipartidário, mas muitos do seu partido ainda têm medo do pensamento diferente. Tanto as eleições presidenciais e legislativas quanto as autárquicas têm sido um palco de violência política. O seu partido quer todo o espaço político apenas para si. Quer que as eleições sejam um momento que visa confirmar o poder para o mais esperto que se socorre da polícia, dos órgãos eleitorais e não da vontade povo através do seu voto.
Enquanto não se respeitar a vontade do povo, as eleições que vivenciamos servem para nos distrair e são um piscar de olho para a comunidade internacional que adora eleições de faz-de-conta. São um mero cumprimento do calendário para que continuemos na lista de países democráticos que, regularmente, realizam eleições. O seu partido, Senhor Presidente, têm que deixar de ser um problema para comecar a ser parte da solução dos problemas que sufocam a nossa gente e o nosso país.
O Senhor Presidente pode mudar o cenário de eleições de brincadeiras, bastando, para tal, instruir aos seus seguidores que, em democracia, não é crime ser diferente. Diga aos seus seguidores para não violentarem a oposição por não se tratarem de inimigos mas de outros moçambicanos com pensamento diferente. Diga aos agentes da polícia para não tomarem papel activo nas eleições a fim de favorecerem a um dos contendores e prejudicarem aos demais actores políticos.
Se fizer isso, Senhor Presidente, será considerado como homem de bem e não um vilão, como vários sectores da sociedade moçambicana o consideram. O seu partido tem que aprender a caminhar sob os seus pés. Tem que descer da boleia da polícia frelimizada, dos órgãos eleitorais subservientes e da justiça que sempre abençoou resultados fabricados por malandros e fraudulentos.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 03.05.2023