Em Tete, concretamente nos distritos de Changara e Doa, existem locais de transição e postos de controlo de transportes de mercadorias. Entretanto, segundo constatamos no terreno, o negócio da madeira em Tete é actualmente controlado por um empresário local que financia constantemente as autoridades governamentais no distrito de Doa, chegando ao ponto de usurpar as áreas de exploração de outros operadores.
Na investigação constatamos que mesmo indocumentados, recentemente três camiões conseguiram passar por vários Postos de Controlo, dentre eles, o mais protegido deles – o Posto de Controlo de Changara! Portanto, os camiões seriam apreendidos no Posto de Controlo de Matemo, onde dias depois através de supostas ordens superiores viriam a seguir viagem em direcção a Chimoio.
Do trabalho investigativo realizado no terreno constatamos que a madeira em causa era proveniente de Doa, onde uma empresa local, é acusada pela comunidade local de estar a fazer desmandos ao longo das áreas florestais do distrito e não estar a honrar com preceituado pela Lei de florestas e das compensações. Fontes locais, explicaram à nossa reportagem que constantemente a operadora acaba abatendo árvores até de áreas não atribuídas a si.
Portanto, em Tete a exploração ilegal de madeira vem perdendo “seus adeptos”, segundo fontes governamentais e da Sociedade Civil, tudo devido ao forte trabalho que esta a ser desenvolvido pelo Gabinete Provincial de Combate à Corrupção em Tete, que tem investigadores e operativos instalados em vários pontos da província, chegando a deter vários intervenientes, dirigentes e empresários anteriormente vistos como intocáveis. No entanto, dados colhidos pela “Integrity” é pelo facto dos locais onde antes as florestas eram devastadas já não terem espécies para serem exploradas pelos grupos que anteriormente promoviam tais crimes ambientais.
Um outro aspecto é de que os grandes players do negócio, mudaram de região e de actuação com a mudança do governo provincial, onde o anterior timoneiro, considerado como amigo pessoal do actual Presidente da República e que na altura uma empresa supostamente pertencente ao filho, fazia e desfazia nas florestas de Tete, explorando a espécie de madeira mais preciosa que a província tinha ou têm – NKULA, sem deixar de lado Chanato e Mondzo.
O outro cenário evidenciado pela “Integrity” é de que os distritos de Macossa, Sussundenga, Guro, Machaze e Tambara, na província de Manica são os locais onde a madeira continua a ser explorada desenfreadamente e em quantidades assustadoras, conforme entrevistas concedidas por residentes locais e organizações locais.
Curiosamente é em Manica, onde se encontra instalada uma empresa de produção de carteiras escolares pertencente supostamente a “membros da família real moçambicana”, que no período áureo da publicitada “operação tronco” foi a que mais se beneficiou da madeira apreendida pelas autoridades governamentais.
Outrossim, dados colhidos no terreno indicam que o negócio de exploração desenfreada da madeira em Manica é facilitado através de esquemas de aluguer de licenças, pois embora, estabeleça que o regime de exploração é por licença simples e de exploração por contrato de concessão florestal (nestas últimas havendo classes [preciosas, 1ª, 2ª, 3ª e 4ª classe] e taxas de exploração que começam de 50 Mtn a um milhão de meticais por metro cúbico, a situação de exploração desenfreada de madeira nos últimos anos continua preocupante com a devastação de florestas por empresas legalmente constituídas e outras praticadas por membros das comunidades que alegadamente não se beneficiam dos proventos das empresas.
No entanto, numa conversa tida em off the record com alto quadro da AQUA em Manica, explicou que a situação nos últimos dias está a registar melhorias, pois embora, a preocupação esteja ainda com os furtivos que usam serras manuais para a exploração de madeira em pranchas com enfoque para os distritos de Machaze, Sussundenga, Gondola e Macate para alegadamente alimentar as carpintarias da cidade de Chimoio.
Numa outra perspectiva, segundo a FAO, os recursos florestais e fauna bravia, em Moçambique, estão ameaçados principalmente pela ocorrência do desmatamento, incêndios florestais, exploração desregrada e ilegal da madeira, havendo previsões do desaparecimento de cerca de 2.8 milhões de hectares de floresta até 2035, facto que agravara a situação de pobreza e vulnerabilidade de milhares de pessoas que encontram na floresta o seu meio de subsistência.