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O meu pedido de desculpas à minha prole. Se eu soubesse o que sei hoje, aos dezasseis anos teria feito vasectomia.
Isto não é um país que uma pessoa decente possa deixar aos filhos.
Um estado repleto de contradições das mais cruéis.
Completamente libertino onde deveria ordenar.
Extremamente prepotente e violento onde deveria escutar, no momento e onde ser mandão, pede cooperação.
Resultado: este caldeirão explosivo em fermentação, cuja combinação química é completamente imprevisível e inominável.
Não vos preparei para este pesadelo, meus filhos.
Reconheço!
O desordenamento começa no ministério de educação, deseducando, em consequência o sistema completamente viciado.
E acaba na estrada, onde as regras foram levadas a obsolência, sem nenhum decreto, ficando numa espécie de vacatio legis.
Reparem bem, meus filhos, que evoluímos para era dos símios, onde vale a força do mais forte.
De permeio temos as repartições, onde os extorcionários da população atingiram foros de bradar aos demónios.
Vejam esses desvarios: comandante da polícia e director de escola, chefes de quadrilhas de assaltantes, notários cobradores de valores que eles próprios estabelecem para reconhecimento indevido de assinaturas; exemplos tirados, um de meios de informação, outro de vivências.
E mais acima, ministros, juízes, pca(s) presos e/ou indiciados.
Presidente em suspeição.
Melhor do que isso, nem o velho Abarros poderia prever, na sua lauta imaginação, quando ele afirmava: esses gajos até roubam cocó.
Só ainda não sei, se isto é uma tragédia ou uma comédia.
Quiçá uma tragicomédia.
Em face desta realidade dominante, meus filhos, o vosso pai reconhece, após ter-vos sujeito a regras rígidas e princípios de disciplina respeito solidariedade e outras tretas afins, que foi incapaz de ler os sinais dos tempos, e não soube destrinçar os novos preços dos velhos valores: na vez de não matar, deveria ter dito, mata, esfola, grelha e come.
Na vez de não roubar, deveria pragmaticamente ter-vos matriculado na UniPrinvivest com bolsas da Ematum, ou talvez deveria remeter-vos a cursos de esquadrões da morte, públicos ou privados, como os novos tempos ditam.
Aprenderiam a sobreviver, nesta selva, no meio destes novos predadores.
Hoje, sinto que deixei filhos, “in álibis”, que estão desnorteados, desarmados e estarão num dilema sem precedentes e decerto questionando a qualidade de educação que lhes conferi.
E o vosso pai pede-vos imensas desculpas, publicamente, por essa desorientação.
Desorientado também, ando eu, confesso-vos meus filhos, que já não sei, se este país não me merece ou se eu não mereço este país.”