Por Francisco Nota Moisés
Hélder Martins, um dos grandes dos terroristas da Frelimo, disse recentemente disse que Gungunhana, que foi um mau português que devia se ter entendido com o regulo Cam'buemba dos senas, que também foi um outro mau português, para impedir que os portugueses conquistassem Moçambique que não existia em 1895 quando o régulo vátua foi derrotado por Portugal. Gungunhana dos changanas era descrito no nosso livro de historia como o rei dos vátuas que desafiava o governo português quando queria até o tempo que o capitão Mouzinho de Albuquerque foi prende-lo em Chaimite antes de despachá-lo com as suas sete concubinas ou mulheres para Portugal onde foi exibido e paradado pelas suas ruas de Lisboa como os romanos faziam pelas ruas de Roma com os régulos étnicos do seu império que desafiavam o poder politico e administrativo de Roma.
Uma das duas senhoras que tinham vindo ao seminário de Zóbuè vindas da cidade de Tete em Julho de 1965 para nos dar as provas da quarta classe teriam mandado o terrorista da Frelimo passear e o teriam reprovado com a sua asneira de enaltecer o regulo dos vátuas.
O exame foi um sucesso quase total com um só reprovado. Todos os bem sucedidos, incluindo eu, devíamos ter recebido a menção de distinção nas provas escritas, o que nos teria poupado das provas orais. Mas aquelas senhoras não quiseram dar distinção nas provas escritas a nenhum de nós, o que teria dispensado os honrados de distinção das provas orais.
Ninguém perguntou porque não houve um de nós distinguido com distinção.
O padre André de Bels, malogrado padre belga que morreu alguns anos em Maryland, Baltimore, nos EUA não podia incomodar aquelas senhoras com uma tal pergunta. Pela primeira vez vi um branco a tremer perante aquelas senhoras brancas quando ele lhes trazia o chá com bolachas. Parecia estranho, mas vim a entender mais tarde quando soube que de Bels tinha arranjado a fuga secreta de alguns ex-seminaristas para o Malawi donde partiram mais tarde para estudarem nos Estados. De Bels suspeitava que aquelas senhoras podiam estar ligadas à PIDE que tinha uma ficha sobre ele e o governo português veio depois a expulsá-lo de Moçambique.
O drama sobre quem foi Gungunhana aconteceu nas provas orais quando uma das senhoras perguntou a um dos rapazes para lhe dizer quem foi Gungunhana. Não entendi porque é que o rapaz deu a resposta que deu em vez de repetir o que estava no nosso livro da história ou com uma estorieta que agradaria aquelas senhoras.
"Gungunhana foi um rei africano que resistiu a conquista do seu país pelos portugueses," disse o rapaz. Estremeci com o receio de que aquelas senhas podiam nos reprovar a todos nos. Não o fizeram. Mas a senhora que tinha perguntado ao rapaz sobre quem era Gungunhana não achou graça na sua resposta.
"Não, senhor," explodiu, gritando com uma voz que fez tremer a terra, "Gungunhana foi um mau português que se revoltou contra a soberania do seu país."
Nenhum de nos se riu. A brincadeira de considerar a resposta do rapaz como uma piada não podia ser contemplada com o regime do Senhor Professor Doutor António de Oliveira Salazar que nascera em Santa Comba Dão.
As senhoras não reprovaram o rapaz. Graças a Deus. Passou. Eu disse ao rapaz mais tarde que ele tinha sido estupido por ele ter tentado falar africanamente e que ele não devia se ter esquecido que era um cidadão português como todos nos no seminário eramos cidadãos portugueses e não devia ter enaltecido um vândalo que desafiou Portugal num exame do governo português.
Quando chegou a minha vez, uma das senhoras fez me ler uma lição com o título de Portugal no mundo no nosso livro de leitura. Depois de eu ler dois parágrafos, a senhora perguntou-me onde Portugal se situava no mundo. "Estamos," eu disse sem hesitar e com um tom e orgulho bem portugueses, "na Europa, nos Acores, na Madeira, em Cabo Verde, São Tome e Príncipe, Angola, Moçambique, Goa, sem dizer que a India tinha tomado o território à força em Dezembro de 1961; Timor Leste e Macau." Acrescentado, disse, "estávamos também no Brasil que o nosso país deixou partir para se auto-governar."
Com aquelas senhoras com ares e estilos aristocratas e salazaristas não era questão de alguém se arrumar de esperto e dizer a verdade. Eu queria passar com brilho e não reprovar por dar respostas que não agradariam aquelas senhoras. Arrumar-se de esperto enquanto você é fraco não éuma virtude.