EUREKA por Larindo Macuácua
Cartas ao Presidente da República (144)
Pela primeira vez na História de Moçambique teremos um Presidente da República, em exercício, no banco dos réus.
E eu não sei se haverá algum orgulho em reclamar esse feito. Por outro lado, soube de fontes imbatíveis que, depois de meses a esquivar-se de ser notificado com documentos legais, o Presidente instruiu advogados em Londres a defenderem que, como Presidente de Moçambique, o senhor está imune a processos na Inglaterra.
E parece que em Agosto, à porta, haverá uma audiência especial para decidir sobre esse ponto. Mas o juiz Robin Knowles já disse ao Presidente e aos seus advogados para se prepararem para participar do julgamento.
Bom: parece que o Presidente terá que viajar para Londres; não para beber chá no Palácio de Buckingham com o novo rei, mas para The High Court of Justice.
Longe da família, longe dos aduladores que sabem muito bem fingir-se de amigos, quando, na realidade, vivem à custa de quem os escuta.
E a imprensa estará lá em peso, exactamente para, sem filtros, reportar tudo o que estará a acontecer. Far-lhe-ão perguntas embaraçosas que, respondendo ou não, cairá na sua armadilha. E repara que lhe não estou a acusar de nada. Essa é a função do juiz Robin Knowles.
Mas uma coisa é certa: se já lhe notificaram, como soube que o fizeram na semana finda, é que o caso é forte. É obrigação moral do Presidente apresentar-se no tribunal de Londres. Tem que limpar a sua imagem. Tem que acabar, de uma vez por todas, essa suspeição de que tem algo que ver com as dívidas ocultas.
Chega de evocar imunidade e tais.
Quer dizer, enquanto Manuel Chang luta para evitar um dia no tribunal, a partir da sua cela na cadeia de Modderbee, o Presidente fá-lo a partir do palácio presidencial. Até dá para o roteiro de um filme de muita procura!
Somos ou não um País onde grande parte dos ocupantes de cargos electivos ou por indicação são, na sua maioria, ou ladrões ou imorais?
Salvo uma ou outra citação a alguma personalidade que não preenche o perfil que habita o inconsciente colectivo, a parte maior que circula junto ao poder, no entendimento dos ouvidos, cuida mais de abastecer as suas contas bancárias do que em prestar um serviço colectivo de qualidade.
Esta constatação, confesso, não tem carácter científico, e nada traz de muito novo, apenas reafirma o quadro de um País imerso na corrupção, desmando e mazela que por mais que prenda, investigue, fiscalize, mais parece que brotam nichos de corrupção activa e passiva que drenam finanças dos cofres públicos.
Somos um País onde o que parece se vislumbrar, mesmo a olho desarmado, é o crescimento assustador da prática dilapidadora do bem público navegando entre indicações de apadrinhados, comissionados, contratação de empresas suspeitas e exposição de rápido e vertiginoso enriquecimento dos ocupantes do poder.
Somadas estas situações a lentidão da justiça, a prática do engavetamento, o suborno a magistrados, o clima é, se não for de total impunidade, de punição selectiva. E o povo marcado, vida de gado, vai vendo tudo da arquibancada e quando instado a falar, quase em coro, mostra que tem certa consciência de que é governado por ladrões e imorais.
E cabe a quem, Presidente, mostrar ao povo de que não é governado por indivíduos que não passam de gangsters fantasiados de uma autoridade?
DN – 16.06.2023