EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (143)
Presidente, desculpa a franqueza- talvez até seja ingenuidade minha-: o senhor sofre de anosmia? Estou a falar daquela doença que faz com que o indivíduo- permanentemente ou não- perca o olfacto em virtude da obstrução nas fossas nasais. Pergunto isso porque tem algo de podre no Ministério da Saúde e parece que só o senhor é que não sente o cheiro. Embora nauseabundo!
Tem algo de podre quando os médicos prometem entrar em greve, o ministro da Saúde senta com eles, houve as suas inquietações, promete resolvê-las. E eles, felizes da vida, regressam ao trabalho e descobrem que foram engambelados.
E anunciaram outra greve, cuja data de início e o próprio caderno reivindicativo- pode haver novidades- serão conhecidos hoje. Tem algo de podre quando, também, os restantes profissionais da Saúde ameaçam entrar em greve, reivindicando praticamente as mesmas coisas que os médicos. Sentam com eles. Fazem as mesmas promessas.
Regressam ao trabalho antes de perceberem que estão a lidar com o mesmo charlatão que enganou os seus colegas. Vamos ser razoáveis: o Sistema Nacional da Saúde está falido e sem qualquer perspectiva de melhora. A nossa saúde, para ser mais específico, está em coma, está nos cuidados intensivos e o quadro é gravíssimo! Talvez até seria melhor se nos apressássemos a contratar carpideiras!
Em qualquer cidade deste imenso País não há assistência médico-hospitalar pública capaz de suprir qualquer tratamento, de forma digna e sem obstáculos, que um indivíduo necessite para restabelecer a sua saúde ou curar-se de uma doença. A saúde pública é, e sempre foi, um problema em Moçambique. E com as greves…
E o descaso é tão grande, que milhares de pessoas morrem todos os anos em decorrência das mesmas causas: falta de estrutura hospitalar, burocracia, corrupção, má administração, verbas insuficientes, péssima remuneração dos profissionais e, principalmente, o descaso do Governo, que não leva a sério nem dá a devida atenção à pasta da Saúde.
O ministro Armindo Tiago pode ser a face visível do problema, mas o que apoquenta a Saúde ultrapassam-lhe. Quem devia dar a cara e dizer o que realmente se passa naquele ministério é o Presidente da República, o líder desse Governo que mandou a saúde para os cuidados intensivos. O Presidente não sente algum desconforto quando não vem a público falar dos problemas que apoquentam o País?
Onde é que debatem os problemas do bem comum se não for em público? Há que referenciar isto: escolhemos o Presidente da República para governar o País a serviço dos cidadãos e dos seus interesses, em parceria com seus ministros, decidindo e aprovando leis e normas que resultem em melhorias para a vida da população. Lamentavelmente, nada está a melhorar.
E o povo moçambicano, na sua maioria, sofre da mesma doença: os descasos e desmandos do Governo, que só se recorda de que nós existimos quando chega a corrida e eleitoral. Daqui a pouco seremos importantes. Sentar-se-ão connosco. Fingirão que são feitos da mesma matéria que o povo. Chorarão connosco as nossas agruras. Prometerão tudo: bebidas e comidas de nunca acabar.
Far-vos-emos a vontade e nunca mais ouviremos falar de vós.
Soltar-nos-ão cães não vacinados ao tentarmos chegar perto de vós só para lembrar-vos de certa promessa não cumprida.
DN – 09.06.2023