Por Edwin Hounnou
A multinacional francesa, TotalEnergies, encomendou e divulgou uma proposta de uma série de acções que, quando aceites e levadas à prática, colocarão a nossa soberania em causa e constituirão um caminho aberto que nos conduzirá ao neocolonialismo.
Jean-Christopher Rufin, o consultor a quem foi encarregue de fazer o tal estudo, propõe três elementos com exclusividade para a zona ou região onde opera a LNG Mozambique, a saber : a) Rwanda, França e TotalEnergies trabalharão em conjunto; b) a exclusidade de uma sua fundação que se chamará PAMOJA TUNAWEZA para dar assistência humanitária às populações deslocadas devido à guerra terrorista ora em curso, excluindo a estatal ADIN - Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte; c) recomenda que a zona deve ser protegida/dedendida, só e somente só, por tropas do Rwanda.
Assim sendo, pode-se ver a perigosidade que a proposta encerra. ADIN é uma coisa e PAMOJA TUNAWEZA é outra. Analisando bem a proposta, pode-se concluir que a TotalEnergies terá a sua própria fundação - PAMOJA TUNAWEZA - que trabalha não só fora dos parâmetros definidos pela ADIN como também longe de outras organizações que apoiam a reconstrução de Cabo Delgado. A ADIN não terá a PAMOJA TUNAWEZA sob o seu controle tanto mais que esta terá seu orçamento de 200 milhões de dólares por ano.
O histórico da administração pública, em Moçambique, levanta muitas suspeitas e deve ser com base nisso que várias organizações internacionais procuram contornar a ADIN. . A região de Mozambique LNG será um autêntico estado dentro de outro estado - com seu orçamento próprio, exército próprio e o seu próprio executivo.
A jurisdição das Forcas Armadas de Defesa de Moçambique abrange todo território nacional. Não pode haver localidades, postos administrativos, distritos ou províncias fora do seu controle ou supervisão. A proposta de Jean-Christopher Rufin diz, de forma bem explícita que a zona Moçambique LNG fica sob a defesa das forças do Rwanda. Se isso não insulto, é, pelo menos, ultrajante que só uma vergonhosa cumplicidade pode aceitar que assim possa acontecer.
A jurisdição das FADM é ao nível nacional e não se pode excluir uma parte do território do país. Nem uma ilha, aldeia ou uma povoação pode ser excluída do controle das forças armadas ou securitárias nacionais. Aqui não precisamos de abrir a cartilha de como se defende a nossa soberania nacional.
A imposição da língua Swahili na difusão do programa é uma outra coisa que levanta suspeitas. Porquê o Swahili se nas regiões abrangidas por essa proposta a maioria da sua população fala ki-mwani (língua muito semelhante ao Swahili mas não é Swahili).
O estudo/proposta não teve a sensatez suficiente de propor que fosse as línguas o instrumento da difusão dos seus propósitos. Isso não é por acaso. O Swahili é a língua que se fala no Rwanda, Quénia, Tanzânia e um pouco por alguns distritos costeiros de Cabo Delgado.
Essa imposição parece que seja um passo em frente da politica da hegemonia estrangeira em detrimento das línguas faladas pelas populações locais. Vale a pena nos cuidarmos dessas artimanhas! Bsssopa, como dizemos lá em Manica!
É este tipo de acordo - uma verdadeira armadilha - que volta a aprisionar países africanos às suas antigas potências coloniais. Podemos divergir em quase tudo, tais como na forma de governação, na maneira como se organiza o acesso ao poder politico e na distribuição de recursos, como tem sido até ao presente momento, mas podemos tolerar que o nosso território ou parte dele seja entregue às potências estrangeiras em nome de seja o que for. Moçambique é só nosso e de mais ninguém.
O governo tem vindo a "doar", sim, a "doar" mesmo - não existe um outro termo mais expressivo que este - os recursos nacionais às empresas estrangeiras e às multinacionais. É tudo quanto podia vir alavancar a economia nacional, pendurando aqui e acolá as elites ligadas ao partido governamental, em claro prejuízo dos interesses do povo moçambicano. Os exemplos destas práticas abundam um pouco por todo país, como se o país fosse do governo ou propriedade privada da Frelimo.
Vemos isso na exploração das areias pesadas, carvão mineral, ouro de Manica cujo processamento só polui as águas dos nossos rios e mata as espécies aquáticas, na exploração gritante dos rubis de Montepuez, grafite de Balama. A nossa madeira está sendo devorada por empresas de chineses que devastam as florestas, contribuindo para o agravamento das condições climáticas. Os exemplos que ilustram que a exploração desenfreada de nossos recursos abundam por todos quatro cantos do país.
O maior culpado pela situação caótica em que o país se encontra - com a economia de rasto - é o partido no poder. A nossa pobreza não se deve à falta de recursos naturais, mas, essencialmente, à falta de homens e da ausência da clareza dos objectivos a médio e longo prazos.
Alguém empurrou o nosso país para o buraco. Os que procederam de tal modo, vemo-los empoleirados nas empresas e nas multinacionais que andam a esfolar o nosso país e se designam a si mesmos de empresários de sucesso. Eles têm muito dinheiro sujo nas suas contas. Estão associados a verdadeiras lavandarias de dinheiro, sucatando o país inteiro e comprometendo o futuro da nação.
Não é por mero acaso do destino que Moçambique virou um simples corredor da droga. A pobreza que nos fustiga está associada a grupos de mafiosos que capturaram o nosso estado. Estamos a pagar por termos sido eficazes no combate à corrupção, por isso, estamos a pagar uma pesada factura.
Aqui a culpa é, por inteiro, do nosso estado que se deixou capturar por bandidos, corruptos e malandros. Não temos que dividir a culpa pela aldeia como forma de tranquilizarmos a consciência de quem sempre comeu com uma colher grande, prejudicando, de forma grave, o povo moçambicano.
Andamos aos ziguezagues para que se possa roubar, saquear o bem comum, parecendo que a independência seja algo pernicioso para o país. A independência é sublime quando se tem gente honesta e laboriosa na administração pública. Caso não, temos desgraça por que estamos a passar.
Caminhamos às escuras desde à independência. O exemplo de como foi reerguida a LAM em menos de 45 dias, antes declarada empresa falida, mostra onde resiďe a doença e como ela se chama. Não foi preciso nenhuma magia de algum curandeiro para "ressuscitar" a LAM. A empresa sul-africana que está a gerir a LAM recuperou 47 milhões de dólares, num piscar de olho. Precisamos de gente de bem, honrada, competente e não de aventureiros, famintos e corruptos. Estamos a colher o mal que andamos a semear durante esses anos todos.
Este facto mostra que é possível reerguer o nosso país e retirá-lo da desgraça, desde que a Frelimo deixe de pensar e agir que as empresas públicas ou participadas pelo Estado sejam suas coutadas onde pode retirar o que bem entender. Gente séria e dedicada pode produzir milagres. A LAM pode ser um milagre e outros milagres poderão vir se a gente que está a frente da gestão da coisa pública tiver mente aberta e, sobretudo, sem as mãos largas!
O desenvolvimento está ao nosso alcance! O país está a precisar de gente íntegra e arrojada para produzir milagres! A pobreza em que o povo se encontra mergulhado tem o seu autor bem identificado e chama-se Partido Frelimo.
VISÃO ABERTA – 06.06.2023
Visão Aberta, 06.06.2023