A mineradora australiana Syrah Resources, que explora e exporta grafite para baterias de carros eléctricos, revelou esta terça-feira, 18 de Julho, que, em Abril, produziu 15 mil toneladas de grafite tendo, no mês seguinte, interrompido as actividades devido ao excesso de stock nos mercados internacionais.
“As operações da fábrica de Balama, em Cabo Delgado, foram interrompidas. Não houve nenhuma produção nos meses de Maio e Junho de 2023, devido à volatilidade no mercado chinês de ânodo e à boa disponibilidade de stock de produtos acabados”, lê-se no relatório de actividade do terceiro trimestre, divulgado pela Syrah, no qual estima custos de quatro milhões de dólares por cada mês de encerramento naquela unidade.
A empresa argumenta ainda que a decisão de suspender a produção deve-se à necessidade de escoar o stock que é, actualmente, de 28 toneladas, enquanto aguarda por uma melhoria nas condições de procura do mercado por grafite natural.
“A decisão de reiniciar a produção dependerá do aumento das vendas do stock e de novos pedidos de vendas a preços acima dos custos operacionais em volumes de produção de, pelo menos, dez mil toneladas por mês, de acordo com a revisão do modo de operação em Balama”, lê-se no documento.
A Syrah foi uma das empresas mineiras cuja operação foi afectada pelo conflito armado em Cabo Delgado.
Em Junho de 2022, a cadeia logística foi suspensa temporariamente devido a ataques que se aproximaram da estrada por onde é escoada a grafite. Em Novembro, as instalações da mina tiveram de ser evacuadas devido à violência nas proximidades.
A mineira tinha vindo a recuperar progressivamente a produção na unidade Balama e em Abril operou “ininterruptamente”.
A firma australiana está também a construir a sua própria fábrica de material de baterias Vidalia, nos Estados Unidos da América, que será alimentada com minério moçambicano.
100 milhões de prejuízo
A consequência do anúncio feito pela mineradora foi imediato e tem vindo a fazer-se sentir nas últimas semanas — as acções da Syrah caíram 16% depois de a produtora de grafite ter admitido que não reiniciou a exploração mineira na sua principal operação em Moçambique porque os preços ainda estão muito baixos.
A Syrah, cotada na ASX (mercado de capitais australiano), revelou nos resultados do trimestre de Junho, esta terça-feira, que retomaria a produção assim que os clientes fizessem encomendas da sua grafite para baterias acima do preço de custo.
“Os pedidos de venda e as propostas de preço para os produtos de grafite natural da Balama ainda não atingiram esse nível”, disse a Syrah, acrescentando que os preços da grafite estavam “insustentavelmente” baixos.
Porque está o mercado da grafite a parar?
A verdade é que as fortes vendas de veículos elétricos que levaram as mineradoras a aumentar a oferta no ano passado não se repetiram no início de 2023, já que uma mudança no regime de subsídios chinês e as regras do COVID-19 prejudicaram as vendas de automóveis eléctricos. O resultado foi a acumulação de grandes stocks de minerais de bateria acumulados em fábricas e portos, especialmente na China, onde a Syrah vende a maior parte de sua grafite natural.
Nos três meses até Junho, a Syrah registou um preço de venda médio ponderado de $US688 ($1000) por tonelada. No mês de Abril, a produção custou $US565 por tonelada.
A pausa de dois meses na produção significa que a produção total foi de apenas 15 quilos de toneladas no trimestre, em comparação com 41kt no trimestre anterior. A Syrah reiterou a orientação a médio prazo de $US430-$US480 por tonelada a uma taxa de produção de 20kt por mês.
A Syrah tornar-se-á este ano no maior produtor de um mineral crítico para baterias fora da China, mas o preço actual das suas acções não reflectem essa realidade.
A empresa mineira é uma das 10 empresas mais vendidas a descoberto na ASX, com os vendedores a descoberto a deterem 7% das acções, que caíram 16% esta terça-feira. Consequência disso, a sua capitalização bolsista baixou de 600 milhões para 500 milhões de dólares.
Numa entrevista ao The Australian Financial Review, a 16 de Maio, o director executivo da Syrah, Shaun Verner, referiu-se à suspensão da mina de Balama: “Não esperamos uma paragem prolongada. Se é um mês ou três meses, não tenho essa garantia. Mas o aspecto positivo é que a procura do mercado final de veículos eléctricos está de volta aos níveis do ano passado [em Março e Abril] e está a começar a ultrapassar essa necessidade [de grafite]”, afirmou.
A Syrah é a primeira empresa a construir um negócio verticalmente integrado de grafite esférica revestida e tem contratos para vender o produto da sua fábrica no Louisiana ao fabricante de veículos eléctricos Tesla.