Manuel Chang, ex-ministro das Finanças de Moçambique, vai ser extraditado para os Estados Unidos, depois de estar detido vários anos na África do Sul à espera de uma decisão sobre onde deveria ser julgado.
O braço de ferro entre Estados Unidos e Moçambique terminou: ambos querem julgar Manuel Chang, mas os EUA levaram a melhor. O ex-ministro das Finanças moçambicano será extraditado para os Estados Unidos, tal como aconteceu com Jean Boustani, em 2019.
Boustani foi acusado de montar o esquema das chamadas "dívidas ocultas", mas acabou por ser absolvido. O júri afirmou, na altura, que não via a relevância do julgamento ser realizado nos EUA, longe do local onde tudo teria acontecido.
Chang será um "novo Boustani"?
Mas no caso de Chang as opiniões dividem-se: se por um lado há quem adivinhe um desfecho semelhante ao de Boustani, por outro, surge o argumento de que o julgamento em solo americano permitirá desvendar mais sobre o caso, tal como aconteceu durante o julgamento de Boustani.
Manuel Chang é tido como a "figura-chave" no escândalo das "dívidas ocultas", que defraudou o Estado em mais de 2,6 mil milhões de euros.Foto: Reuters/S. Tassiem
O diretor do Centro de Integridade Pública (CIP), Edson Cortez, afirma que a opinião pública vê um julgamento em Moçambique como não sendo transparente. Cortez fala ainda na possibilidade de Chang abrir o jogo em troca de liberdade. Até porque a acusação poderá recorrer a e-mails supostamente comprometedores, como fez com Boustani.
"Pensa-se que Chang, indo aos Estados Unidos, na tentativa de ser absolvido, possa abrir-se o máximo possível contando detalhadamente tudo o que aconteceu", começou por dizer.
Edson Cortez lembrou o caso do empresário franco-libanês, Jean Boustani, que foi julgado por envolvimento no esquema das dívidas ocultas de Moçambique e absolvido em 2019 por decisão unânime dos 12 integrantes do júri.
"Nós vimos, durante o julgamento de Boustani, parte das provas apresentadas pelo FBI eram baseadas em e-mails. Pode ser também que parte da acusação contra Chang seja baseada em e-mails", comentou.
Marcelo Mosse, jornalista moçambicano ouvido pelo da DW, acredita que o julgamento nos EUA fará com que Chang tente de tudo para ser absolvido, trocando informações do caso das dívidas ocultas e nomes ligados à corrupção em Moçambique, em troca da sua liberdade.
"Há aqui a ideia de que Chang vai trocar a sua liberdade pelo fornecimento de informações ligadas à podridão da corrupção em Moçambique e os seus protagonistas. É o que se espera, mas é improvável", disse.
Manuel Chang será então julgado nos Estados Unidos. O Centro de Integridade Pública lembra que isso não impede um futuro julgamento do ex-ministro em Moçambique, no caso de ser absolvido e voltar ao país.
DW – 09.07.2023