É largamente sabido que o antigo Ministro das Finanças de Moçambique já se encontra nos Estados Unidos de Améroca para enfrentar acusações relacionadas com o seu papel nas Dívidas Ocultas. Na sua primeira audiência num tribunal norte americano ocorrida nesta quinta-feira, 13 de Julho de 2023, um detalhe mereceu grande curiosidade e convida para uma reflexão sobre o fenómemo de Diplomas, Certificados e Títulos Acadêmicos duvidosos a pulular na Pérola do Índico e o seu impacto no desenvolvimento do país.
Todos sabemos que a educação é a chave de desenvolvimento de qualquer país. Quanto maior o número quadros formados tanto no sector públicos ou privado, maior desenvolvimento económico e social do país seria de esperar, tanto em qualidade, como no rítmos com que esse desenvolvimento se faz sentir.
Mas pelo que se vê em Moçambique, quanto mais Doutores/ PhDs tivermos, mais probre ficamos. Os vários indicadores socioeconómicos do país não poderiam ser mais esclarecidores sobre o cenário: taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), os níveis de Rendimento por Pessoa (PIB per capita), Índice do Desenvolvimento Humano, Taxas de Incidência de probreza absoluta, entre outros indicadores caóticos que podemos citar infinitamente. Mas o número de Doutores/ PhDs não deixa de disparar. São Doutores/ PhDs, Doutores Honoris Causa, Mestres, Lincenciados (já nem falamos) em tudo quanto é canto no país e no estrangeiro. Sua contribuição para a ciência e para o desenvolvimento? Ínfima e quase inexistente!
Então, o que move as pessoas para a corrida para Doutoramentos, Mestrados, etc.? Pela falta de impacto visível desses Diplomas/ Certificados no progresso do país, só nos leva a pensar haver outros movitos mais prementes, um deles: ganhos financeiros ou o bolso dito na gíria popular. As pessoas correm para esses diplomas e graus acadêmicos motivados por dinheiro ou para amealhar mais dinheiro e prestígio social e nada mais. No aparelho do Estado e no sector privado o nível académico é um dos factores determinantes para o escalão salarial dos trabalhadosres, quanto mais graus académicos e diplomas a pessoa tiver, maior o salário. Mas o problema é que esse salário maior não é proporcional ao desempenho e contribuição desses Doutores no aumento da eficiência da organização em que trabalham ou no geral na produção e productividade da economia. Ou seja, estamos perante o problema de troca de gato por lebre. As instituições estão a pagar diplomas e graus acadêmicos e não aumento da eficiência e qualidade dos produtos e serviços dai decorrenrtes.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) já descobriu que a folha salarial do sector público é obesa/ cheia de gordura, igual aquelas barrigas de diâmetro complicado e extraterrestre dos seus governantes. O FMI recomendou esta semana que o Governo deve conter a massa salarial para investir em sectores prioritários. Mas o problema que o FMI talvéz ainda não descobriu, é que a questão não é o volume da massa salarial, a questão é que o Estado, no quesito dos salários, está a fazer investimento improdutivo e sem retorno. Uma das razões é a que estamos a discutir neste texto.
Outro motivo para a corrida aos Doutoramentos (incluindo os famosos e banalizados Honoris Causa)/ Dimplomas a todo custo, é a influência na política, que em muitos casos acabam servindo para resolver dois problemas para o político (aquele mesmo ligado ao Sistema, que em Moçambique quase sempre é funcionário público ou sempre ligado a uma vaca leiteira – uma instituição ou empresa pública): questões salariais/ do bolso (da barriga, daquelas que se confude com gestação de 6 meses ou mais) e prestígio entre os pares e na sociedade.
Cutting a long story short e voltando a Nova York, na audiência de Sua Excelência Ex Ministro das Finanças Manuel Chang: Numa das passagens, o Juiz pergunta se o Ex Ministro fala inglês (obviamente em ele se dirindo ao Ex Governante em Inglês). Manuel Chang: Não falo Inglês, mas entendo. Este facto, acabado de revelar-se pela boca do ilustre Ex-Ministro, para o espanto do Juiz, levou ao recurso a um intérprete para que a audiência prosseguisse. O Juiz (como qualquer mortal), justifica a pergunta pelo facto de ter visto no vasto Curriculum Vitae do S. Excelência, que tem um Mestrado obtido na Universidade de Londres (Inglaterra). A Ponta do Iceberg se releva aqui mesmo. Como é possível uma pessoa com Mestrado obtido em Londres (capital do língua do Shakespare) não sabe falar inglês? Não conhecemos nenhum programa de Mestrado naquela capital ou no Reino inteiro onde se lecciona em Português.
Mas o que não nos espanta, é que esse fenómeno é comum em Moçambique, sobretudo entre a classe política. No Curriculm do próprio presidente da República Felipe Nyusi (disponível na Internet) consta que ele tem Pós Graduação em Gestão pela Universidade de Vitória, localizada em Manchester (em plena terra da Sua Majestade), mas em vários eventos internacionais o vimos a discursar em Português e com recurso Intérpretes ou tradução simultânea. Porque será?
Também em conferências ou outros eventos internacionais, temos visto acadêmicos (com diplomas de países anglófonos) e políticos são geralmente vistos com aqueles headsets (auriculares) a caçarem tradução simultânia, onde outros, de tão desconfortável que é a coisa ou mesmo os temas em debate, acabam filmados ou fotografados a dormir e sonhar com seus antepassados ou com uma viagem ao Dubai ou com aquela comissão (os famosos 5% a 10%) daquele projecto que já tem ou vair ter em breve, o almejado go-ahead/ aprovação.
Se temos problemas com a língua ou idioma, o que podemos deduzir dos conteúdos assimilados (?) nos tais Doutoramentos e Mestrados, o que podemos dizer sobre a sua utilidade para resolver problemas actuais e futuros em prol do progresso dos nossos países e povos? Apesar de toneladas de PhDs, não descobrimos nada, não inventamos nada, não conseguimos resolver os nossos grandes problemas de desenvolvimento/ progresso, é só consumismo até ao infinito (até importar tomate, cebola e outros produtos inemagináveis, apesar de milhares de PhDs em Agronomia) e ganância em encher bolsos e barrigas `a custa dos mais pobres e marginalizados sem acesso a esses academismos baratos e em muitos casos, inúteis.
(Recebido por email)