Por Edwin Hounlnou
A nossa oposição compara-se a uma manta curta em tempo de frio que não chega a tapar completamente a quem quiser se cobrir.
Quando tapa a cabeça, os pés ficam d.e fora e quando puxa a manta para tapar os pés, a cabeça fica a apanhar frio. A noite passa puxando a manta ora para os pés, ora para a cabeça até amanhecer. Não tem dinheiro suficiente para comprar uma manta grande que cubra todo o corpo dos pés à cabeça para, como os outros, desfrutar do sono e curtir a noite.
Nenhum partido da oposição se pode gabar, enquanto separado um do outro, de, um dia, vir a destronar o partido Frelimo do poder. Não por que seja assim tão forte e invencível, como se pode acreditar, mas se comporta como estado.
A Frelimo apresentasse sob a couraça da máquina do Estado, incluindo, como sempre, se apodera de fundos de empresas públicas para subvencionar as suas actividades políticas e campanhas eleitorais. Usa a polícia, viaturas e combustíveis do Estado. Socorrer-se dos tribunais e do Conselho Constitucional, dos funcionários do Estado como professores e enfermeiros para "vencer os seus inimigos".
O partido governamental tem do seu lado os órgãos eleitorais, a polícia cinzentinha/azulinha, a Força de Intervenção Rápida, que costuma exibir musculatura à volta das assembleias de voto, o SISE que aparece a passear pelo pátio de escolas onde decorre a votação.
Os tribunais de primeira estância para os quais os partidos concorrentes devem submeter ás suas queixas e o Conselho Constitucional funcionam como pilares sobre os quais o partido no poder sempre se apoia para vencer uma eleição. Não estamos a contar nada de outro mundo. As pessoas sabem que é assim como decorrem as eleições no país.
O partido no poder só se conforma com a derrota depois de experimentar todos os meios legais e ilegais tais como o enchimento de urnas com votos falsos, violência policial, importação de eleitores e/ou impedir o recenseamento como foi recentemente, etc. Não é por acaso que, sempre, a seguir às eleições o país mergulha em conflitos. Isso resulta da falta de clareza das vitórias retumbantes, sufocantes e convincentes.
A Renamo sabe desta realidade. O MDM tem conhecimento disso. Os partidos extraparlamentares vivenciam isso. A sociedade civil está informada do que acontece.
A comunidade internacional ganhou a consciência do perigo que isso representa, por isso, já não repete o refrão de que as ilicitudes verificadas não afectam o resultado final. Diz coisas que não se atreve pronunciar nos seus países, mas cá o conceito de democracia chega distorcido.
Querendo dizer que há democracia para europeus/americanos e uma outra para nós em que se admite violentar adversários políticos, prendê-los, fazer enchimentos de urnas com votos falsos sem a afectar o resultado? Dá nisso quando se pede para eleições, para construir latrinas, salas de aulas ou um pedaço de estrada.
A oposição não tem a consciência de que a manta de que se cobre é curta. Não chega aos pés nem lhe tapa a cabeça. Não sabe que se se juntar e fazer uma frente única eleitoral é capaz de mudar o cenário político. Um ditado diz que a chuva miúda não mata a sede e a oposição finge que não conhece esse saber popular. Continua agarrada a interesses mesquinhos e outros entrelaçados por compromissos obscuros.
Oposições de outros países vizinhos já entenderam a importância de união. Estão a introduzir mudanças profundas nos seus sistemas de governação. Os seus povos começam a experimentar outro tipo de governação.
A nossa oposição continua a bater-se por questões de pequena monta como quem vai ser o candidato presidencial, quem será o primeiro-ministro, em caso de vitória, e mais outras coisas por aí. Perde-se em coisas sem importância, por isso, o caminho que leva ao poder ainda é longo e sinuoso.
O partido Frelimo, mais do que em outros momentos, está na lama pela crise económica sem precedentes por que o país passa. Uma oposição inteligente e com vontade de vencer, seria agora que deveria unir esforços em frente eleitoral. Desperdiçar esta ímpar oportunidade equivale deixar voar o pássaro das mãos.
As dívidas ocultas que deveriam ser exploradas para mostrar ao eleitorado o culpado pela pobreza, porém, perde tempo a pensar que a frente única eleitoral seja uma boleia a dar aos preguiçosos e indolentes. Já passaram mil oportunidades que a oposição não soube aproveitar e nem quer se mexer para ser poder. A oposição está satisfeita miando, com orgulho, debaixo da mesa do poder. Não aceita subir ao poder para se sentar à mesa e não se limitar apenas a dar voltas nas redondezas.
Uma oposição amorfa, sem vontade própria, compara-se a uma pedra que rola no fundo das águas do mar de acordo com a corrente dos ventos. A oposição jamais será poder enquanto se fustiga a si mesma ao invés de pensar em estratégias de como governar o país.
Estamos à porta das eleições, continuamos a ver a oposição como se nada de especial vai acontecer dentro de mais ou menos 60 dias. O povo tem azar. Não tem sorte. A Frelimo pode ser esperto mas é, perfeitamente, vencível bastando preparar-se com afinco. A Beira tem sido um bom exemplo de persistência política.
Esta oposição não tem vergonha de continuar, eternamente, no banco da oposição. Se fosse possível trocar esta oposição por outra mais inteligente e laboriosa, o povo não hesitaria nem por um minuto por estar claro que esta oposição não quer acordar. É intragável, estéril e prejudica o desenvolvimento da democracia. Não quer crescer para ficar "big". Sofre de raquitismo político grave.
É esta oposição que mantém a Frelimo no poder por tempo indeterminado. O povo bateu palmas quando ouviu falar de uma possível coligação da oposição. Afinal, não passou de um sonho. A oposição não quer ser nada para além de ser apenas oposição.
É raro encontrar uma oposição como esta que foge do poder tal como o diabo foge da cruz. Não existe nenhuma parte do mundo uma oposição como esta do nosso país, que se orgulha de ser só oposição e nada mais. Gosta de ser, apenas, oposição.
A maior fraqueza da oposição, em Moçambique, é o egoísmo. Não consegue organizar-ser numa frente comum para atingir o mesmo objectivo contra um adversário corrupto e mafioso por causa de agendas pessoais.
VISÂO ABERTA – 25.07.2023