Por Edwin Hounnou
Os ventos da segunda independência dos países da África Ocidental Mali, Guiné-Conacri, Burkina Faso e Níger) sopram forte ao ponto de deixarem perplexos a França, antiga potência colonial, e seus aliados, de fora e de dentro do continente africano, que procuram sufocar a vontade pela liberdade, paz e desenvolvimento dos povos africanos.
Os africanos querem participar da festa que os recursos dos seus países proporcionam. Preferem sentar-se à mesa ao invés de continuarem a apanhar migalhas que caem da mesa dos banquetes de Paris, Londres ou Washington ou de outras capitais da Europa Ocidental.
Nós distinguimos três tipos de golpes de estado. 1. Golpe de estado com militares invadindo ruas, palácios, rádio e televisão. 2. Golpe de estado que presidentes fazem alterando as constituições que seus partidos aprovaram por aclamação a fim de permitir os respectivos chefes de estado continuem no por poder. 3. A fraude eleitoral é golpe de estado por impedir a vontade popular expressa nas urnas.
Os povos são ludibriados com falsas eleições que as potências europeias se apressam a chamar de eleições livres e justas. Porquê os países não se opõem à essa farsa eleitoralista?
Os novos estados independentes devem reembolsar o custo das infraestruturas construídas pela França durante a colonização.
Os países africanos devem depositar suas reservas financeiras no Banque de France. Desde 1961, a França "guarda" as reservas financeiras de 14 países africanos: Benim, Burkina Faso, Guiné-Bissau, Costa do Marfim, Mali, Níger, Senegal, Togo, Camarões, República Centro-Africana, Chade, Congo-Brazzaville, Guiné Equatorial e Gabão.
A política monetária permanece assíncrona pelo facto de ser gerida pelo governo francês, sem qualquer vínculo com as autoridades financeiras de países da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados de Africa Ocidental).
Devido às condições que vinculam os bancos dos 14 países da zona económica e financeira da CFA, estes são obrigados a manter 65% das suas reservas cambiais numa conta de operações mantida pelo Tesouro francês, um adicional de 20% para cobrir "riscos financeiros".
Os bancos da zona CFA impõem a cada país membro um limite de crédito de 20% das receitas do Estado no exercício orçamental, embora o BCEAO (Banco Central dos Estados de África Ocidental) detenha maiores possibilidades de levantamento junto do Tesouro francês. A decisão cabe ao Tesouro francês, que investe 85% das reservas dos países da CFA na bolsa de valores de Paris.
Os bancos da zona CFA são africanos pelo seu nome, não decidem a política monetária.
A França tem o primeiro direito de comprar os recursos naturais das suas ex-colónias, só depois de a França dizer que não está interessada, os países africanos podem procurar outros parceiros. Na adjudicação de contratos públicos, as empresas francesas têm prioridade sobre as licitações, mesmo que os países africanos possam obter uma melhor relação custo-benefício em outros lugares.
Na maioria das ex-colônias francesas, as alavancas econômicas dos países estão nas mãos dos franceses. Na Costa do Marfim, por exemplo, as empresas francesas são proprietárias e controlam os serviços públicos, como água, eletricidade, telefone, transporte aéreo, portos e grandes bancos, comércio, construção e agricultura.
Graças a um sofisticado sistema de bolsas de estudo, subvenções e aos "acordos de defesa" vinculados ao pacto colonial, os africanos devem enviar seus oficiais para treinamento na França e obrigados a abastecer-se de equipamento militar da França. Pela força dos "acordos de defesa" do pacto colonial, a França tem o direito de intervir militarmente nos países africanos, bem como estacionar tropas em bases militares, geridos por franceses.
As ex-colónias francesas são obrigadas a usar exclusivamente o FCFA. Os directores dos bancos centrais das ex-colónias apresentam o relatório em reuniões anuais dos Ministros das Finanças e o relatório é compilado pelo Banque de France e pelo Tesouro francês.
A maioria desses países só tem alianças militares com seus ex-colonizadores porque a França os proibiu qualquer outra aliança militar. Mais de um milhão de soldados africanos lutaram ao lado da França contra o nazismo e fascismo durante a Segunda Guerra Mundial. Agora que a França está militarmente ligada à NATO e aos Estados Unidos, a África está comprometida ao lado da França em caso de uma 3ª Guerra Mundial.
Os 11 acordos ainda estão em vigor entre a França e os 14 países da zona CFA, e nenhum meio de comunicação francês ou dossiês africanos falarão desses acordos sinistros.
Os países da zona CFA não estão autorizados a ter uma aliança militar com outros países. Não estão autorizados a comprar equipamento militar de outro país sem a autorização da França. É contra este tipo do neocolonialismo que a África Ocidental está se batendo e que os seus peões locais, também, se opõem..
VISÃO ABERTA – 18.08.2023