O golpe militar no Gabão tem repercussões na África Central, até agora poupada a golpes de Estado. Na região, há mais presidentes que se instalaram no poder a longo prazo. É o caso de Paul Biya, nos Camarões.
No Ruanda, na quarta-feira (30.08), o Presidente Paul Kagame "aceitou a demissão" de dúzias de generais e mais de 80 outros oficiais de alta patente. No Djibouti, Ismail Omar Guelleh apressou-se a condenar o golpe no Gabão e denunciou a tendência recente para golpes militares.
Nos Camarões, o Presidente Paul Biya procedeu também na quarta-feira a uma remodelação das chefias do exército camaronês, nomeando novos oficiais da defesa. O nonagenário Biya está no poder desde 1982, tendo cumprido sete mandatos consecutivos.
"A situação no Gabão deve inspirar-nos quando conhecemos o contexto camaronês, que é o de um chefe de Estado que está no poder há 42 anos. Em 2025, quando o seu mandato terminar, terá estado no poder 44 anos", disse à DW o empresário e ativista camaronês Angelo Toueli. "Se não quisermos seguir o mesmo modelo, resta-nos esperar que em 2025 o Presidente Paul Biya já não volte a concorrer ao cargo".
Mas o analista Alex Gustave Azebaze, membro do Grupo de Movimentos Civis pela Reforma Consensual do Sistema Eleitoral, tem reservas quanto a uma comparação direta entre a situação nos dois países. Embora admita que os camaroneses estão a seguir os acontecimentos no Gabão com muita atenção, defende que essa não é melhor solução. "Acreditamos que os democratas camaroneses, de todos os quadrantes, se levantarão, de modo a impedir a entrada dos militares na cena política", disse.
Alguns observadores consideram, no entanto, ser importante ter também em conta as semelhanças entre os modelos políticos dos Camarões e do Gabão, onde os presidentes assumiram o controlo de todas as instituições para poderem governar o máximo de tempo possível.
O fim anunciado de uma era
Como qualquer autocrata, Biya tem dificuldades em tolerar qualquer tipo de oposição. Uma alteração constitucional em 2008 permitiu-lhe eternizar-se no poder. Nas últimas eleições, e 2018, que ganhou oficialmente com 71% dos votos, a oposição reclamou fraude. Protestos públicos contra os resultados foram brutalmente reprimidos.
Biya recusa-se igualmente a negociar com os rebeldes nas regiões anglófonas no país, que pretendem maior autonomia, o que desencadeou um conflito violento que dura até hoje.
Dada a idade avançada do Presidente, a sucessão no topo do Estado é assunto perene de debate, até agora sem a participação de Biya. Dieudonné Tedjisse, do Partido para a Paz, a Democracia e a Construção, acredita que a situação está a mudar: "A partir de agora, os eleitos devem respeitar a vontade do povo. Se não forem eleitos, devem aceitar a escolha do povo".
DW – 31.08.2023