ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Como um Continente, como nações tão ricas e povos tão ricos, quanto os povos do Continente africano sofrem tanto com a pobreza e a desigualdade. É sobre isso que vamos tentar falar hoje. Qual é a origem da desigualdade e da pobreza dentro do Continente africano levando a 'perspectiva histórica' do processo colonial europeu. Por isso, eu quero falar para você[s] sobre de que forma a Europa subdesenvolveu e a África.
Imagine se todo o ouro e metais preciosos do Oeste africano que 'irrigam' o mundo desde o Império Malí, Gana e Songai fossem realmente dos povos africanos e não explorados e controlados e administrados pelas mineradoras europeias; imagine se os diamantes que são 'abundantes' na África Central, Ocidental e na África do Sul fossem realmente dos povos africanos, destarte como petróleo é da Arábia Saudita.
As nações europeias agora 'expandidas' sob bandeira da globalização mantém até hoje controles económicos e políticos em grande parte das nações colonizadas, através do controle e interferência política interna e externa e, também através de suas Empresas Multinacionais. Grande parte dos problemas sociais, económicos e dos conflitos enfrentados pelas nações africanas eles são 'resultados' dessa herança ou consequência directa ou indirecta da colonização europeia na África.
Para você[s] ter[em] uma ideia no final da década de [30] do Século [XX] houve uma grande expansão de Empresas Europeias poderosas dentro do Continente africano e em especial no Congo que era colonizado pela Bélgica. De 19[19] / 19[30] o montante de capital investido aumentou [1] bilhão de francos ouro incluindo [1] bilhão em emissões coloniais. A carteira do Estado congolês estava estimada em metade do valor dos títulos congoleses possuídos por particulares. Houve uma 'transferência' de Estado congolês para o sector privado, que também era belga de forma que os activo do Estado em 19[28] eram de [16] milhões de francos ouro e caíram para [5] bilhões apenas em Setembro de 19[30], apenas dois anos depois transferindo riqueza público para o privado. E o maior 'impulso' dessas riquezas vieram das actividades de mineração e actividades ferroviárias no Congo-Belga. Os quatro principais Grupos económicos eram A Societé Generale, a Impanhie, A Comunier e o Banco de Bruxelas e eles garantiam com + de [6] bilhões de francos ouro aproximadamente [75%] de todo capital congolês.
O Grupo + importante foi a Societé Generale. A Societé Generale respondia sozinha por metade desse capital. Controlava [3] Companhias ferroviárias, [13] Empresas gerais, [2] Bancos, [12] Companhias de mineração, [6] Plantações, [13] Empresas financeiras, [11] Companhias Indústrias e Comercias e [1] Empresa imobiliária. O quê significa que quase toda a produção mineira de cobre, de diamante, de rádio, boa parte do ouro, toda Indústria do Cimento e as + importantes Instalações Hidroeléctricas do Congo estavam sob controle e domínio dos colonizadores belgas e não dos africanos.
O sucesso da Societé Generale estava relacionado com a produtividade das suas minas dentre as quais se destacavam principalmente a União Mineira do Alto Katanga que era Mina de cobre, a Diamantes Kasai. Nessas Empresas os salários eram mantidos sistematicamente baixos. Os colonos e outros residentes europeus, bem como os próprios Directores das Empresas estrangeiras todos se entendiam para pagar menos possível para os trabalhadores, que trabalham em condições semi-feudal. Os trabalhadores não 'recebiam benefícios' em caso de doenças, incapacidade, desemprego ou mesmo velhice.
O Congo-Belga na 'véspera' da grande depressão por volta de 19[29] contava com cerca de [278] Empresas Indústrias e Comercias e [36] representações de Companhias estrangeiras em + de 66[00] negócios particulares estrangeiros dentro do país. Apesar do Tratado de Berlim de 18[85], nós temos que entender que a colonização foi um processo não apenas um acto, porque o Comércio com a Europa já se dava pelas rotas transarianas. Mas, este processo colonizador vem com uma outra cara, com um outro perfil, com perfil de controle, porque a colonização trouxe uma nova relação, uma relação 'predatória' entre os povos do Continente africano e eles queriam agora muito + do que, produtos, queriam domínios, queriam terras, queriam poder.
Repare, se a Europa foi 'devastada' durante duas grandes guerras mundiais e a guerra destrui a estrutura produtiva, de trabalho, agrícola e minou tecido social das nações europeias, uma 'tragedia humana' e tendo que administrar os milhões de mortos na guerra e os outros que morreriam em consequência da guerra, imagine com o Continente africano, imagine com o Congo como foi o exemplo que acima atirei.
Para 'remediar' a situação foram criados Tratados internacionais que buscavam responsabilizar as nações agressoras e sobretudo 'reparar os danos sofridos' pelo povo vitimado pela guerra. E assim, a Europa foi reconstruída através de Acordos, de investimento internacionais sendo que o + conhecido de todos foi o Plano Marshal. O Plano Marshal oficialmente conhecido como Programa de Recuperação Europeia foi um ambicioso Projecto de empréstimos e doações financeiras realizado pelos Estados Unidos [EU] e os seus capitalistas aos países europeus 'devastados pela guerra'.
Claro que o Plano Marshal, também era uma estratégia contra o Comunismo, a partir da reconstrução dos países sob influência dos EU. O Plano Marshal entrou em vigor em 19[48] e encerrou em 19[51] cerca de [18] bilhões de dólares foram entregues aos países europeus que aderiram ao Plano através de doações, empréstimos e investimentos feitos directamente nos países.
Mas, porquê eu estou falando disso? Porque não houve Plano Marshal para as nações africanas que foram 'destruídas' pela colonização e olha que elas também sofreram com as consequências directas e indirecats das guerras mundiais, uma vez que, quando houve a guerra mundial, tanto a primeira, quanto a segunda guerra mundial essas nações estavam sob o domino colonial; francesa, alemã, belga…
Por exemplo, de 18[80] antes da Conferência de Berlim, há uma presença colonizadora bastante reduzida, apesar já estarem presentes França, Espanha, Portugal e Grã-Bretanha e no Norte dos Egipto ao que hoje é a Tunísia estava o Suzeranato Otomano. A partir de 19[14] é possível perceber a presença colonialista, ou seja, apenas [24] após a Conferência de Berlim onde os territórios africanos estão sistematicamente loteados. E eles foram loteados sem 'respeitar' fronteiras étnicas; colocando em territórios unificados povos diferentes, dividindo etnias. Você pode perceber isso, a partir do «Mapa de Pátria Étnica» de 19[59] do etno-linguista George Murdock.
Um Documento chamado «Os Efeitos da Longa Duração da Disputa pela África», mostra como decisões arbitrarias de fronteira afectaram com a guerra e provocaram distúrbios civis no Continente africano especialmente entre os grupos étnicos que estavam divididos e os seus vizinhos.
Os autores estudaram os conflitos africanos de 19[70] até 20[05], um período pós-independência e descobriram que o conflito civil está concentrado na parte histórica das etnias divididas. A colonização europeia não operou da mesma forma em todos os lugares é preciso levar em conta as diferenças étnicas, as diferenças regionais e a estratégia que cada elemento colonizador para dominar, para manter o poder no local onde eles pretendiam estar. Por exemplo, a França usava o próprio Governo como um 'articulador da ocupação', os ingleses entravam na África por meio de Companhias Comercias privilegiadas. Algumas regiões foram incorporadas como Colónias outras apenas como Colónias administradas de forma indirecta pelos Estados europeus.
Ouçam bem isto! Os países africanos não são subdesenvolvidos eles foram subdesenvolvidos, através da 'desestruturação do tecido social e da exploração colonial'. Um Documento recente do «Instituto Tricontinental de Pesquisa Social», aponta que actuação de Empresas Multinacionais no Continente africano teve como consequência a 'desindustrialização' do Continente. Um Relatório recente do Banco de Gana trouxe algumas estatísticas chocantes: dos [5,2] de dólares em ouro exportados por Empresas de mineração estrangeiras de Gana, o Governo recebeu apenas [68,6] milhões de dólares em pagamentos pelos royalties e [18,7] milhões em impostos sobre a renda dessas Empresas. Dizendo em outras palavras, o Governo do Gana recebeu menos de [1,7%] dos retornos globais do seu próprio ouro. E este Documento conclui que a parcela da riqueza que vai para as comunidades directamente impactadas pela mineração é de apenas [0,11%] dos lucros totais.
Em um Relatório de 20[13] da ONU ficou claro que a África 'perde' cada ano em favor de Empresas estrangeiras [38] bilhões dólares em 'Contratos injustos' para exploração de recursos naturais do Continente africano. E apesar de representar apenas [2%] do PIB mundial o Continente africano tem [15%] das reservas de petróleo, [40%] das reservas de ouro e [8%] da de platina e no seu subsolo tem [1/3] da reserva minerais + importantes do mundo.
Quer dizer, não podemos dizer que o Continente africano é um Continente pobre ou subdesenvolvido, mas consequentemente precisamos 'entender' como o processo colonial imperialista 'empobreceu' o Continente através da 'desestruturação do tecido social', e da implementação de políticas de interesses, exploração económica capitalistas sem nenhuma 'consideração' pelos povos que ali viviam. E se você quer conhecer + a história da Africa é preciso atentar para este ponto.
Por isso, através do exemplo que eu acima atirei para você[s] nesta carta, eu espero que você[s] possa[m] compreender, de que forma a colonização europeia não produziu efeitos positivos obviamente no tecido social africano, causando empobrecimento e os diversos conflitos que surgem, a partir dessa 'reorganização arbitrária administrativa' que foi imposta aos povos do Continente. Como no mapa etno-linguístico de 19[59] é possível perceber que diversos Grupos; Grupos diferentes foram colocados dentro do mesmo espaço gerando tensão social entre eles.
E eu vou falar sobre isso outro dia quando vou tratar sobre a questão de como o imperialismo europeu racializou a África. Quando você vê hoje africanos atravessando o Mar Mediterrâneo 'morrendo afogados' você pode se perguntar porquê isso? Se lá é tão rico? É preciso entender 'quem controla riqueza' dentro dos países onde essas pessoas estão ou de onde elas são. Quem forram os colonizadores? Então, essas pessoas colhem na verdade os frutos malgrados da colonização europeia. E…é obvio que precisamos contextualizar cada colonização, cada processo colonizador, mas que no plano geral trouxe um dano e um prejuízo inestimável para os povos do Continente africano. E…isso é preciso considerar!
Repare, apesar de eu ter utilizado aqui um exemplo do Congo-Bela, esse exemplo pode servir de parâmetro para analisar outros processos coloniais como por exemplo na África do Sul, como no Ruanda, como em Moçambique, em Angola como em diversos outros países do Continente que foram colonizados.
E agora quando os africanos vão a Europa eles são considerados personas non gratas, porquê foi criada todo um processo de subjugação colonial, assunto que vou tratar outro dia.
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, aos [13] de Agosto, 20[23]