Em julgamento nos Estados Unidos, Manuel Chang tenta implicar Presidente de Moçambique nas "dívidas ocultas". Para analistas, antigo ministro das Finanças quer forçar uma intervenção governamental no processo.
Prossegue nos Estados Unidos a audiência de Manuel Chang, ex-Ministro das Finanças de Moçambique, no caso das "dívidas ocultas", que lesou o Estado moçambicano em cerca de 2,7 mil milhões de dólares.
De acordo com o jornal Canal de Moçambique, na audiência, Chang lançou as responsabilidades diretas para a contratação ilegal das dividas com garantias do Estado ao Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, antigo ministro da Defesa Nacional.
Manuel Chang disse que terá garantido as dívidas por instrução do Ministério da Defesa.
Entretanto, o analista e pesquisador do Centro de Integridade Pública de Moçambique, Borges Nhamirre, considera que esta é uma estratégia dilatória de Chang para arrastar o Presidente da República para o processo.
"Eu penso que faz parte da estratégia de defesa de todos os réus das dívidas ocultas procurar empurrar responsabilidade ao Presidente da República para ver se ele, que é quem manda no Governo para seguir com os processos, possa intervir".
Por seu turno, o membro do Fórum de Monitoria do Orçamento, André Manhiça, refere que estas declarações de Manuel Chang são uma tentativa de tirar benefício no processo que corre contra ele nos Estado Unidos da América (EUA).
"De alguma forma, apesar de se ter declarado inocente, Manuel Chang está a tentar usar uma estratégia de conseguir algum tipo de benefício em relação ao processo nos Estados Unidos", avalia.
O que pesa a favor de Nyusi
Segundo Borges Nhamirre, não faz sentido que as dívidas tenham sido contraídas por instrução do ministro da Defesa: "Ele (o Presidente Nyusi) estava simplesmente a cumprir um papel formal, por isso não foi pago. O pagamento dele surgiu mais tarde, em 2014. Ele não contava no xadrez daqueles a quem se distribuía dinheiro. Ele autorizou a auditoria da Kroll e também o Presidente da República instruiu o Ministério Público para iniciar o processo em Londres. Então, eu tenho sérias dúvidas que o Presidente esteja envolvido no planeamento e execução das dívidas ocultas".
Entretanto, André Manhiça, do Fórum de Monitoria do Orçamento, entende que não se pode isentar Manuel Chang das suas responsabilidades.
"Claramente, há também responsabilidade da parte de Manuel Chang, na medida em que um ministro não pode receber instruções e seguir, mesmo que sejam do chefe de Estado", finaliza.
A busca por justiça e transparência no caso das dívidas ocultas continua a ser um ponto central para o futuro de Moçambique, à medida que o país se esforça para superar as adversidades econômicas delas resultantes e reconstruir sua reputação a nível internacional.
DW – 24.08.2023