O edil da capital da província moçambicana de Nampula, Paulo Vahanle, confirma ter sofrido tentativa de assassinato a 22 de agosto. Mas a Polícia desmente e diz que o acusado é membro da corporação e estava em serviço.
Paulo Vahanle quebrou o silêncio e veio publicamente confirmar ter sofrido uma tentativa de assassinato na passada terça-feira (22.08), dia em que a autarquia celebrava 67 anos de elevação à categoria de cidade.
Em conferência de imprensa, o autarca de Nampula conta que a sua segurança deteve um homem que confessou pertencer à Unidade de Proteção de Altas Individualidades (UPAI).
"Ele disse que vinha de uma viatura de cor azul e que, além dele, tinha mais quatro colegas com a mesma missão [assassinar-me]. Aliás, lamentou-se e disse que iria sofrer ou seria morto por causa da senhora ministra do Trabalho. Nós ficamos sem perceber como é que a ministra do Trabalho vai delegar a ele essa missão [assassinato]", começou por explicar.
O suposto assassino foi detido na posse de uma arma de fogo, do tipo pistola, carregada com 15 munições. O edil de Nampula conta também com um ajudante de campo, que também é membro da UPAI. Este ajudante teria reconhecido o indivíduo como colega, mas disse desconhecer as razões da sua presença no local das festividades.
"Esta força [UPAI] funciona aqui ao lado, há quase cinco ou dez metros, e a cerimónia era aqui. Como é que ele precisaria de viatura com quatro colegas [para reforçar o efetivo]? É duvidoso, E além disso esse senhor foi capaz de se introduzir aqui, pedir uma camisola do município e vestir-se aqui. O que quer dizer que a camisa dele [fardamento policial] tinha tirado", questiona o edil.
"Ligações político-partidárias" na origem do atentado
Paulo Vahanle diz que a tentativa de assassinato teve a ver com ligações político-partidárias, mas que não vai vergar e continuará a lutar por Nampula mesmo que lhe custe a vida.
"Há questões que nos deixam muito preocupados. A primeira é que essa força [UPAI], que traz esta arma, reside no quintal do cabeça de lista do partido FRELIMO [simultaneamente governador de Nampula]. E é esse cabeça de lista e toda a direção máxima do partido que não se faz presente em nenhum dos momento das festividades dos 67 anos da nossa cidade”, lamenta.
A Polícia de Moçambique, através do seu porta-voz do Comando Provincial de Nampula, Zacarias Nacute, nega que tenha havido uma tentativa de assassinar o autarca e destaca que o acusado é membro da corporação e estava escalado para proteger o edil e a população.
"É preciso deixar claro que a Polícia da República de Moçambique (PRM), no âmbito da garantia da ordem e segurança públicas, tem várias formas de funcionamento e uma delas é alocar agentes da PRM à paisana para garantir a segurança, sem que para isso possa levantar suspeitas entre indivíduos que, por ventura, possam querer cometer algum delito", justificou.
Nacute repudia a edilidade por alegadamente estar a agitar a cidade.
"No entanto, queremos repudiar também este acto, dado o facto de que tratava-se de um local onde existiam outros membros da Polícia a garantir a segurança. O próprio comandante da Polícia Municipal é um membro da PRM e poderia fazer chegar essa informação à direção da PRM que estava no local a garantir a segurança. Mas infelizmente tivemos essa situação e reiteramos que trata-se de um agente que estava devidamente escalado".
Mas Paulo Vahanle refuta a explicação da polícia.
"A PRM não pode, de forma alguma, comunicar ao povo moçambicano que se trata de falso alerta. Não é, vinham para assassinar o Paulo Vahanle, mas o Paulo Vahanle não está sozinho", reiterou.
O edil de Nampula, que além da segurança oferecida pelo Estado usa outra alocada pelo seu partido, diz que vai reforçar a sua equipa, para evitar um possível assassinato tal como aconteceu com o seu antecessor, Mahamudo Amurane, a 4 de outubro de 2017.
DW – 24.08.2023