Economistas e gestores empresariais queixam-se da crise de financiamento que afecta a economia moçambicana nos últimos tempos, devido ao elevado custo do dinheiro no sistema financeiro nacional, motivado pelas políticas monetárias restritivas tomadas pelo Banco de Moçambique e não só.
“Há crise de financiamento em Moçambique”, afirmou o economista-chefe do Millennium bim, Oldemiro Belchior, durante o briefing económico organizado na última quinta-feira, (03) em Maputo, pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).
Segundo Belchior, concorrem para a crise no financiamento à economia as medidas restritivas que vêm sendo tomadas pelo Banco Central, com o objectivo de reduzir o elevado custo de vida, com a subida generalizada de preços de bens e serviços (inflação), em todo o país. Trata-se de medidas de aumento da taxa de juro de política monetária (vulgo taxa MIMO), e as reservas obrigatórias (em moeda interna e externa) que, no primeiro semestre de 2023, subiram em mais de 28.5 pontos percentuais, facto que originou o aumento da prime rate em 90 pontos bases.
Falando numa plateia de perto de 200 participantes, em presença física e remotamente, o economista, que também é membro do conselho directivo da CTA, deu a entender que, apesar de as medidas do Banco de Moçambique serem bem-vindas para estancar a inflação, estão a encarecer o dinheiro no sistema financeiro, o que leva os empresários a recearem contratar novos empréstimos para investir nos seus negócios.
Para defender o seu pensamento, Belchior recorreu aos dados sobre crédito à economia do próprio Banco de Moçambique. Ilustrou que, em Maio último, os bancos concederam no geral 298.2 mil milhões de Meticais em empréstimos à economia, valor que representa um crescimento de 7.8% se comparado com igual período de 2022, em que o Banco Central registou um crédito total à economia de 276.6 mil milhões de Meticais.
Contudo, ilustrou que, do crédito total concedido à economia no primeiro trimestre deste ano, 171.2 mil milhões de Meticais foram destinados ao sector produtivo, as empresas, verba que representa um aumento de apenas 1.5% se comparado com igual período em que os bancos concederam 168.6 mil milhões de Meticais.
Com esses dados percebe-se que o financiamento às empresas foi quase insignificante e demonstra receio da classe de contrair novos empréstimos porque os juros são caros.