Por Edwin Hounnou
A Direcção Provincial de Educação de Sofala sempre gazetou a eventos de entrega de escolas ou centros de saude edificados pelo Conselho Municipal da Beira. Mesmo convidados, nunca se fizeram presentes e as razões para tal postura são, sobejamente, conhecidas.
O governo de Sofala ou seus representantes gazetarem a esse tipo eventos, já não constitui novidades. Sempre agiram desse modo. O convite serve, apenas, para cumprir formalidades e o Conselho Municipal sabe que eles não aparecem. Devem ter medo de serem conotados como frouxos, incapazes de fazer frente ao "inimigo" do seu suposto glorioso partido.
Os puritanos da Frelimo não se deixam misturar com os "antipatriotas e inimigos" como Nelson Carlos do Rosário, director distrital do STAE, na Beira, caracteriza àqueles que não se identificam com o partido Frelimo. Em várias ocasiões vimos Daviz Simango, o falecido edil do Município da Beira, a entregar escolas, carteiras, centros de saúde e ambulâncias na ausência dos membros da Direcção da Saúde e da Educação. O mais caricato ainda, os membros das direcções das escolas e centros de saúde ou dos hospitais serem instruídos para não estarem presentes no acto da entrega.
As motorizadas que Daviz Simango levava para oferecer às respectivas direcções, para facilitarem a movimentação do expediente, acabavam sendo oferecidas a professores e enfermeiros mais distinguidos e, no dia seguinte, os chefes ficavam a assistir os seus subordinados a "gingarem" de motorizadas e eles a secarem nas paragens à espera de "chapa-100". Em surdina, os chefes murmuravam que os seus superiores hierárquicos lhes fazerem perder coisas boas. Mas já é tarde para lamentar porque as motorizadas que seriam para eles, já têm novos donos de ocasião, que não se esquivarem por detrás da "ordem superior", não identificado e, geralmente, sem rosto.
Daviz Simango dizia que as escolas e centros de saúde que construia destinavam-se às populações beirenses e não para agradar a qualquer partido, por isso, continuaria, sempre que for possível, construir mais escolas, mais centros de saúde. Havia de oferecer mais carteiras às escolas e mais ambulâncias aos centros de saúde. Daviz Simango morreu, mas as suas ideias continuam vibrantes.
As novas autoridades continuam a construir escolas e a tirarem mais crianças do chão em que estudam encurvadas. Constroem mais centros de saúde para curar os doentes. Mais ambulâncias para transportar os enfermos. Mais motorizadas para professores e enfermeiros distinguidos. Mais machimbombos para o público beirense. Os "suicidas" que se matem, não se sabe se de corda, se jogarão no Chiveve ou beberão veneno ou se adorarão de algum prédio, porque as coisas não param de acontecer ainda que importem mais eleitores dos distritos, mais praticantes de "kung fu", a Beira prossegue.
Os que mandam gazetar à recepção de escolas, centros de saúde, de carteiras e ambulâncias, sofrem de uma doença grave que se chama INTOLERÂNCIA POLÍTICA. É uma doença que pode levar a conflitos e guerras. Eles ensinam a odiar o outro por pensar diferente. Dizem que o pensar diferente faz dos homens inimigos uns dos outros. Alguns jovens embarcam nessa mentira. Não se envergonham de semear ódio entre moçambicanos para se baterem enquanto eles comem com uma colher grande.
Foi pela INTOLERÂNCIA POLÍTICA que mergulharam Moçambique numa guerra civil sem paralelo e não aprenderam nada. Continuam a temperar as eleições com fraudes. Eles não se lembram que, se quiserem continuar como governo, devem trabalhar mais e deixar o povo escolher, de livre vontade, por quem deseja ser governado. A exclusão, enchimentos de urnas com votos falsos, a violência policial e os truques dos órgãos eleitorais não constroem a paz. Ao fim do dia só trazem mais problemas.
Temos medo do que se passou na Praça do Município da Beira, a 20 de Agosto, que seja o prelúdio do que serão as eleições autárquicas de 11 de Outubro. Desejaríamos de deixar expresso o nosso pedido. Deixem o povo escolher por quem deseja ser governado. Não façam imposições. O povo está cansado de ser burlado. É um direito que assiste ao povo de ter eleições livres, pacíficas e transparentes. A gente da Beira não se deixará levar por camisetas, uma lata cerveja e uma espetada de galinha.
O desenvolvimento e paz são duas caras da mesma moeda. Vendo bem, não custa concluir que o país regrediu desde que se tornou independente, a 25 de Junho de 1975. O mal piorou quando alguns se fizeram de lobos dos outros e, de boca fechada, engoliram as propostas da destruição do país com políticas neoliberais nefastas.
A independência tem que servir para acelerar o desenvolvimento. Não é para retardar como está acontecendo com o nosso país. O povo perdeu quase tudo e só ficou com a bandeira, numa mão, na outra o BI, e um presidente preto na Ponta Vermelha como fruto da independência. Ninguém lutou para ter apenas um BI, uma bandeira e um presidente de cor preta. O significado da luta do povo é muito mais profundo - liberdade.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 30.08.2023