Por Edwin Hounnou
Os sinais de que as eleições autárquicas serão, extraterrestre, violentas, sobre isso que não haja sombra de dúvidas. Os confrontos, entre membros do partido Frelimo, no poder desde a independência nacional, e os do Movimento Democrático de Moçambique, MDM, que governa a autarquia da Beira, nos festejos dos 116 anos da Cidade da Beira, no dia 20 de Agosto, elucidam, para qualquer cidadão atento, que as próximas eleições serão de choro e ranger de dentes.
Os sinais foram lançados e o desafio vem aí. Resta às lideranças dos respectivos partidos imprimir uma direcção diferente a essas animosidades que em nada contribuem para harmonia social. A paz faz falta ao país. O povo precisa de paz para trabalhar e produzir enquanto os "graúdos" desejam pancadarias e guerras para ganharem dinheiro. É para obterem comissões na compra de armas. As colunas militares representam dinheiro que vai para os bolsos de alguns. A guerra é uma maquina de fazer dinheiro. Não tenhamos dúvidas disso.
Eles promovem desavenças e alimentam pancadarias. Querem ver o país, de novo, envolvido em violência. Hoje, fornecem varapaus para o povo se bater. Amanhã, vão trazer AKM"s, bazukas e granadas. Vão instruir como se faz uma emboscada, como se destroem infraestruturas. Essas actividades são bastante lucrativas. Não é por acaso que odeiam a paz e concórdia entre os moçambicanos.
Eles gostam de ver o para, como recompensam, distribuírem pelos seus "soldados" um kg de feijão, uma barra de sabão, dois kg de carapau, três kg de arroz, dois kg de farinha de milho, um bocadinho de açúcar e uma mão de sal e umas cervejas. É tudo quanto valem esses que se envolvem em pancadarias que beneficiam outros que passam refeições em grandes hotéis e se tratam fora do país quando têm gripe.
Querem ver o povo em conflitos e a morrer. Isso lhes faz bem porque um povo em guerra não tem tempo para pensar na governação e justiça nem em democracia. O povo em guerra só pensa como se esquivar das balas enquanto os seus promotores usufruem sozinhos os benefícios da independência.
Eles sabem que, quando o povo viver alegre e em paz, torna-lhes difícil fazer "kandonga" com capa de Estado. Há 48 anos que o país está independente mas ainda não conhece uma paz efectiva e definitiva. Desorganizam a economia para roubarem a granel. Os jovens devem recusar ser usados por políticos que perseguem objectivos obscuros. Que não aceitem entrar em camiões para irem fazer distúrbios nem espancar outros jovens. Devem dizer-lhes que têm objectivos opostos aos deles. Os jovens querem paz, liberdade e democracia.
Ignorar o que aconteceu na Beira pode ser atitude de uma irresponsabilidade imperdoável contra a periclitante história da democracia moçambicana. Os moçambicanos e, em particular, os jovens não devem aceitar que sejam aprisionados a ideias como o retorno ao sistema de partido único ou de partido dominante. O povo lutou e, em algumas circunstâncias, deu a sua vida pela liberdade, ontem contra o colonialismo e mais recentemente contra a opressão comunista que a todos pisava e fuzilava a quem pensava diferente.
Os jovens devem se lembrar de que as feridas provocadas por esses "madalas" continuam abertas nos corações e na alma de muita gente. Os jovens devem lutar para construir o futuro do seu país despedaçado por guerras e destroçado por roubos e má governação.
Nós não somos a última geração de moçambicanos, pois outros virão e temos que deixar para eles um país próspero, inclusivo, acolhedor e em franco desenvolvimento. Nós não estamos condenados ao raquitismo e/ou à morte lenta. Não foi para os moçambicanos pegaram em armas.
A situação não está nada bem para ninguém. A tendência é de piorar cada vez mais. As regras mais elementares de uma convivência democrática e salutar são pisoteadas e jogadas ao lixo, quando se trata da luta pela conquista ou manutenção do poder. A culpa dos acontecimentos da Beira não pode morrer solteira, como se pretende fazer.
Existe um autor ou autores que devem ser, por isso, descortinados e responsabilizados para se cortar a violência pela raiz. Aquela senhora, cujo nome é Margarida Talapa, actual ministra do Trabalho e chefe do grupo da Frelimo para assistência à província de Sofala, que jurou "arrancar" a Beira das garras do inimigo e, se necessário, disse ela, passariam por cima do seu cadáver, não será responsabilizada por incitar à violência?
Se o tal pronunciamento viesse de outros quadrantes políticos, a Procuradoria-Geral da República estaria a transpirar por todos os poros possíveis para responsabilizá-la, mas como foi da "casa" que falou, nada vai acontecer.
Os discursos inflamatórios que proferem e até se "nenecam", para ficar bem na fotografia, exacerbam a violência, plantam rancores em mentes fracas, semeiam a divisão no seio do povo. O país não vai evoluir enquanto se apostar na violência de uns contra os outros.
O poder tem que ser legítimo e não poder pelo poder. Não basta que seja legal. O poder pelo poder só serve para satisfazer os apetites pessoais ou de grupo.
A Procuradoria-Geral da República, PGR, não deve fechar os olhos por quem quer que seja. Alguns chamam a outros actores políticos de "antipatriotas e inimigos", como designou o director distrital do STAE na Beira, Nelson Carlos do Rodario, àqueles que pensam diferente do seu partido e nada lhe aconteceu. Continua numa boa, impune e a desempenhar as mesmas funções do processo que ele tramou. Que país é o nosso?!
Usar uma instituição pública para discriminar não é crime nenhum? - No Moçambique de hoje não há crime nisso quando feito por uma certa casta política. O autor desse pronunciamento não teve quaisquer escoriações e vive na santa paz. O que a lei diz? A PGR está a fazer de conta que não ouviu nada.
A fonte dos problemas do amanhã são preparados hoje. Não serão de inspiração externa. O viveiro está nas práticas de alguns de nós, aliás, como foram as guerras pelas quais temos passado.
Precisamos de evoluir e aprender que pensar diferente não nos torna inimigos uns dos outros. A (re)conquista do poder não nos deve fazer inimigos uns dos outros ao ponto de organizarmos caravanas para jogarmos os jovens uns contra outros.
VISÂO ABERTA – 29.08.2023