Por Edwin Hounnou
A chefe do grupo da Frelimo de assistência à província de Sofala, Margarida Talapa, disse que recebeu uma tarefa muito especial do seu partido a de "arrancar" o Município da Beira que se encontra fora do controle dos camaradas desde 2003. Talapa disse que, caso seja necessário, ela daria a sua vida para reaver a Beira. Isso para além de ser perigoso, é uma declaração de guerra aberta, politicamente infeliz e demonstra o baixo nível de compreensão do que deve ser a convivência democrática no país.
A Frelimo, na sua tentativa de reaver a Beira, já recorreu a vários métodos antidemocráticos, porém, sem sucesso e agora os seus mandatários juram estar prontos para sacrificar as suas vidas. Ficou ridículo ver Stela Pinto Zeca, Secretária na Província, indicada cabeça de lista para Beira, às costas de Talapa, fazendo recordar brincadeiras de infância. São pessoas adultas e com responsabilidades acrescidas, mas sem a consciência da cena do que estavam fazendo. Isso tudo será pelo poder que pessoas adultas se fazem de crianças? Afinal, os adultos, também, se "nenecam" como crianças?! Isso é inédito!
Margarida Talapa tem se esforçado para agradar o seu chefe que deseja arrebatar a Beira a fim de terminar o seu mandato como um herói que reconquistou a autarquia das garras do "inimigo". Para ter a Beira de volta, a Frelimo não precisa rastejar de barriga, basta mostrar que é um partido de alternância, o que "desconsegue" fazê-lo desde que foi introduzido o multipardarismo.
A Frelimo não lhe custa nada dar provas de que é, de facto, alternativa à actual governação, por exemplo, pagando salários a tempo às forças de defesa e segurança, ao pessoal de saúde, entre médicos e enfermeiros e aos funcionários públicos que, hoje, passam por dificuldades por falta de disponibilidade dos seus salários a tempo. Fazendo isso, não precisaria a gente da Frelimo exibir cenas baixas, desnecessárias e vergonhosas como a que temos vindo a assistir de jogar à "neneca" no colo de Margarida Talapa ou até de importar de outros distritos manifestantes e votantes.
O Presidente Filipe Nyusi e seus ministros têm reclamado feitos inéditos na Beira. Eles dizem que as obras de protecção costeira e do Parque das Infraestruturas Verdes sejam da sua iniciativa, o que é refutado por beirenses. Os chivevianos, porém, não são crianças para se deixarem enganar com tanta facilidade. Eles ainda se lembram de como a cidade esteve no tempo dos chivavices quando o lixo inundava as ruas e algumas estavam encerradas ao público.
A cólera e águas paradas apoquentavam a Beira, em particular, em tempo chuvoso. Ninguém tem saudades desses tempos que não voltarão a incomodar a Beira por terem sido um grande retrocesso na vida da cidade.
Os beirenses não se deixam intimidar pelo papo furado de suicídio e garantem que, em eleição livre, transparente e sem violência policial nem os habituais truques que os órgãos eleitorais protagonizam, a Frelimo vai encalhar na Beira.
O partido Frelimo sempre esteve em saias justas e, desta vez, não será diferente tanto assim que os beirenses vêm experimentando outra governação mais próxima às suas aspirações. Não descerão do carro para cavalos que não correm. Os que prometem fazer harakiri (suicídio em publico), que se preparem porque a Beira se deixará intimidar. Natural não treme, diz a gente do Chiveve, em tom de quem está a desafiar o tempo e os homens.
Em jogo limpo, a Frelimo não passa na autarquia da Beira porque os beirenses transportam uma ferida exposta e profunda nos seus corações contra o partido no poder que sempre os hostilizou. Nem que se socorra de curandeiros e feiticeiros ou de violência de nada lhes valerá.
Os beirenses não têm boas recordações da Frelimo devido à exclusão e ostracismo a que sempre estiveram sujeitos. Deve-se levar em conta isso sempre que se analisa a situação da Beira e sua gente. Será, seguramente, sufocada em águas turvas do Chiveve, como vem acontecendo há 20 anos seguidos. A Frelimo precisa retratar-se para se reconciliar com a Beira, e não só. Precisa de bater no peito em sinal de arrependimento.
De nada valerá se socorrer da violência policial ou agarrar-se às fraudes protagonizadas pelo STAE (Secretariado Técnico de Administração Eleitoral), na pessoa do seu director distrital, Nelson Carlos do Rosário que, criminalmente, mandou excluir do recenseamento eleitoral milhares de cidadãos suspeitos que fossem do "antipatriotas e inimigos", referindo-se aos suspeitos que não fossem membros ou simpatizantes do partido no poder, assim sendo, não votariam na Frelimo.
Os beirenses estão tranquilos e, de pulmões cheios, gritam : NATURAL NÃO TREME!
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 16.08.2023