EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (139)
Recentemente, o Presidente disse que o principal objectivo da Frelimo para as próximas eleições é “levar tudo”, isto é, conquistar todos os 65 municípios. Bom: inquieta-me essa “ambição” do partido, numa altura em que tanto a Frelimo assim como o seu líder não são nada famosos perante o eleitorado. Motivos? São fartos e enumerá-los aqui levaria quase todo o mandato presidencial.
Vamos pela lógica: como é que a Frelimo “vai levar tudo”, sobretudo se considerarmos os principais municípios urbanos : Beira, Nampula, Quelimane e possivelmente Matola?
Beira, Nampula e Quelimane sempre foram hostis a Frelimo, mesmo antes do estabelecimento do multi-partidarismo no País. Estes têm sido os territórios que historicamente deram origem à oposição à Frelimo, principalmente devido ao crescente sentimento de marginalização que atribuem ao partido no poder.
A Matola, no entanto, entrou recentemente na categoria de territórios hostis devido à má gestão dos assuntos municipais pela Frelimo. Como se pode ver, a tarefa não será nada fácil. Se me permite, vou lhe perguntar isto: o “levar tudo” a que se refere inclui recorrer àquela velha, mas bem conhecida táctica? Refiro-me o contornar as regras do jogo. É que, a meu ver, observando escrupulosamente as regras do jogo, não estou a ver a Frelimo a ganhar nem uma dúzia municípios!
Não acredito, também, no resultado das eleições gerais de 2019. É que não estou a ver alguém, acossado pelos EUA por alegadamente estar envolvido no grande roubo da história moçambicana- o calote-, a ganhar uma eleição folgadamente. E o Presidente venceu com percentagens norte coreanas!
Quer dizer, contra todas as probabilidades, o Presidente conseguiu obter impressionantes 73% dos votos. A Frelimo obteve 73,6% dos votos – uma vitória massiva contra os seus adversários: a Renamo e o MDM. Isto é de intrigar qualquer analista minimamente sério!
Só Kin Jong-un tem a certeza que a eleição, independentemente do contexto, esta ganha!
Quase que não durmo com esta inquietação: o que significa para Moçambique estar a caminho das eleições autárquicas no contexto de ataques terroristas, provas de irregularidades massivas no recenseamento eleitoral e uma greve silenciosa e contínua do sector público. A verdade é que faltam apenas alguns meses para as eleições autárquicas. Todavia, a Frelimo não parece muito preocupada com o crescente ressentimento público ou com os funcionários públicos em greve. E pergunto: o aparente a vontade do partido não será porque em Moçambique as eleições raramente reflectem a verdadeira dinâmica num determinado contexto sócio-económico e político?
DN – 18.08.2023