Por Edwin Hounnou
"São coisas da nossa terra!" e termina com a recomendação de que "A África deve ser estudada!" - é assim como terminam as encantadoras, numa voz quase cantante as crónicas de Ortega Teixeira, jornalista da Rádio Moçambique, a partir da Cidade de Chimoio, Capital da Província de Manica. Aprendendo com Ortega Teixeira, nos propomos contar estórias curiosas que retardam a nossa periclitante democracia que, de democracia, tem, apenas, a realização das eleições e tudo se esgota na urna. É um ritual sem nenhum interesse popular, por constantemente, legitimar mafiosos e burlões.
O sistema democrático concede ao povo a oportunidade de escolher seus representantes ou decide como resolver as grandes questões nacionais. Entre nós, as coisas acontecem de modo diferente. As eleições servem para legitimar as burlas do partido que se julga com a maioria parlamentar nem que seja, para tal, necessário passar por cima a vontade do povo.
As eleições são motivos de lutas devido à falta de transparência. Noutros quadrantes do mundo democrático e civilizado, as eleições funcionam como um verdadeiro tribunal onde são julgados os executivos. Se trabalhou bem, cumpriu o que prometeu fazer, é premiado com a recondução Se passou o tempo a passear, a dançar e a cortar fitas, é descartado. Não é isso o que se vê. Assiste-se a polícia a defender gatunos, os órgãos eleitorais a cometerem ilegalidades e a polícia encher urnas com votos favoráveis ao partido no poder.
O estado em que o país se encontra, demonstra, de forma evidente, o abandono. Um país sem rede viária, com a única Estrada Nacional Número Um (EN1) destruída em cerca de 1000km dos 3000km da sua extensão, colocando em perigo os meios circulantes - machimbombos e passageiros e outros carros de mercadorias.
Há mais 10 anos que o Governo não faz investimentos de manutenção em estradas e pontes. A rede comercial de cantineiros coloniais nas zonas rurais, funcionavam como pequenos bancos, nas desapareceu e as respectivas infraestruturas a caírem de podre.
Ao longo de estradas, erguem-se barracas construídas de material precário que vendem petróleo de iluminação, óleo de cozinha, sabão, açúcar, bolachinhas, créditos para telefonia móvel, etc. Os que levaram o país a esse descalabro são, admiravelmente, reconduzidos de eleição em eleição ao invés de serem punidos. Isso é perversão do sentido de uma eleição democrática. Está claro que se trata de uma burla. Uma farsa. É um golpe contra a democracia. Um golpe contra o povo.
O desflorestamento tomou de assalto os nossos recursos florestais. Pelas nossas estradas circulam, de modo incessante, camiões carregados de troncos a caminhos dos portos para exportação. O nosso país virou num simples "take away" das elites político-económicas do partido governamental e de cidadãos chineses que derrubam o ecossistema.
Como consequência directa do desbravamento das florestas temos os sucessivos ciclones, ventos fortes que partem e destroem tudo que encontra pela frente. Os ciclones que nos esmagam resultam da acção humana e não uma mera fúria da natureza. Os cortes de madeira contribuem para agravar ciclones e ventos fortes.
A campanha em curso contra a devastação do mangal é uma grande mentira porque é visível em todas cidades, e não só, que esta espécie protegida continua sendo devastada para material de construção e as autoridades nada fazem para combater o mal.
O país está entregue à sua própria sorte. O país vem regredindo cada vez mais por cada dia que passa, transmitindo a nefasta ideia de que a independência não tenha sido coisa boa que aconteceu na vida do povo. Como se explicam as vitórias retumbantes, convincentes e asfixiantes do partido Frelimo, uma vez que o país se encontrava se encontra na lama?! Há uma razão que explica essas vitórias que nada têm com o povo.
Não se trata do voto popular que mantém a Frelimo, mas a magia protagonizada pelos órgãos eleitorais, pela polícia e por tribunais de primeira instância para onde os partidos e outros concorrentes devem remeter às suas reclamações. Há alguma diferença entre os órgãos eleitorais, a polícia, tribunais de primeira instância e o Partido Frelimo? Portanto, as vitórias com as quais a Frelimo se vangloria estão enroladas em mistérios.
Os diversos governos da Frelimo vêm fazendo desinvestimento no sector de saúde.
Um país onde se nega o direito à alternância política, não pode viver em paz. Um país onde as eleições são viciadas a partir do recenseamento, não pode ter paz.
Moçambique está doente. Vale a pena gritamos que : são coisas da nossa terra!
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 09.08.2023