Por Edwin Hounnou
Os golpes que surgem é a derradeira maneira que os povos africanos encontram para complementaram as suas independências recusadas pelas potenciais neocoloniais que persistem em manter os países africanos sob seu domínio. É de África onde as potências neocoloniais tiram matérias-primas para suas indústrias, deixando a África cada vez mais pobres e dependentes.
Os golpes que, hoje, assistimos são contra dirigentes que propiciam o neocolonialismo e facilitar roubar recursos naturais de seus países. É contra os feiticeiros de dentro que abrem as portas do país para que os feiticeiros de fora entrem sempre que quiserem.
Os feiticeiros de dentro são aqueles dirigentes que não deixam o poder pela vontade popular expressa nas urnas. São os governantes que se socorrem da polícia, dos órgãos eleitorais e dos tribunais partidarizada para não saírem do poder. São os corruptos que roubam fundos públicos, inventam projectos mafiosos como forma de encherem os seus bolsos. São os dirigentes que se vendem ao capital estrangeiro para sugarem seus povos em nome de desenvolvimento. Sair em defesa desse dirigentes é imoral. É contra a corrente da História de Africa. Nós não condenamos golpes contra dirigentes podres e apodrecidos, corruptos e corrompidos.
Os golpes são um forte grito de protesto contra o saque dos recursos naturais e de reafirmação dos povos africanos. Não deixa de ser ridículo quando países africanos agrupados em qualquer coisa a condenar a revolta ou até a ameaçar invadir o território dos que se revoltam contra o neocolonialismo. É o novo despertar dos povos africanos na busca da independência e reafirmação da sua personalidade.
O novo dirigente do Níger, o Capitão Ibrahim Traoré, disse que se as eleições não tiram tiranos do poder, apoiamos golpe de estado. Estamos de acordo com o pensamento de Traoré.
Os golpes de estado que agora acontecem são de teor diferente dos que tiveram lugar nas décadas de 60/70. No passado, os militares golpeavam pela razão de que queriam ser eles a governar e estimulados por potências estrangeiras.
No passado, ocorriam golpes de estado reaccionários e antidemocráticos contra presidentes e regimes que introduziam transformações positivas nos seus países e sociedades. Houve golpes de estado ao serviço dos interesses de potências estrangeiras e outros contra o progresso e desenvolvimento dos seus povos.
Como consciência de muitos povos era ainda baixo e pouco poderiam fazer para se oporem ao neocolonialismo, regimes progressistas eram destituídos, seus governantes presos e mortos por agentes dos que almejam roubar os seus recursos naturais, por exemplo, o golpe contra Milton Obote por Idi Amin Dadá.
Na arte de cavalgar povos africanos, os neocolonialistas apoiam-se em regimes autocraticos que entregam, de mão beijada, os recursos naturais dos seus países a potências estrangeiras. Os povos africanos já não querem viver de mão estendida e de olhos vermelhos de tanto esperar por esmola quando têm a sua terra cheia de generosidade. Optaram por afastar os garotos dos neocolonialistas que miam debaixo da mesa do banquete dos seus patrões nas capitais dos países europeus.
A revolta dos povos não se limita à região da África Ocidental, no Zimbabwe, junto às fronteiras de Moçambique, os ventos do descontentamento popular e dos militares já sopram com alguma intensidade. Os garotos locais que ajudam os neocolonialistas a roubarem os recursos dos países africanos, muitas vezes, o fazem em nome dos seus povos, até dizem que o fazem por terem a legitimidade conferida pelo voto popular.
Não é por acaso que alguns procuram alargar os mandatos para continuarem a comer numa boa das mãos dos seus povos. Em Angola já começaram a reforçar a segurança à volta do grande chefe por saber que tem dívida com o povo. Os povos africanos já não engolem as fraudes eleitorais como no passado em que se limitavam a lamentar.
Um golpe reacionário, a exemplo do golpe de estado contra o capitão Thomas Sankhara, em Burkina Faso, no qual o presidente foi assassinado e, às pressas, enterrado como forma de evitar que o povo continuasse a protestar contra o traidor Blair Campaoré, era condenável. Agora, Campaoré está a minguar e os seus antigos patrões não o querem ver nem pintado a ouro por ter expirado o seu tempo útil.
Os golpes que estão a aconteceram no Sudão, Mali, Burkina Faso, Guiné-Conacri, Níger e mais recentemente, no Gabão contra o regime nepotista da família Omar Bingo, são contra regimes-peões das ex-potências coloniais, que deixam os seus povos na pobreza apesar de imensas riquezas que ostentam no solo e subsolo dos seus países.
Os ditadores entregam os recursos dos seus países às multinacionais estrangeiras para roubarem aos povos. Porém, agora as coisas mudaram. Os militares são os salva-pátria do neocolonialismo e do saque desenfreado dos recursos nacionais pelas ex-potências colonizadoras.
Se o golpe salva o país, nós apoiamo-lo incondicionalmente. Os que estão habituados a "vencer" eleições através de fraudes eleitorais que se cuidem porque os ventos da História sopram com rajadas!
CARTA DE MOÇAMBIQUE – 06.09.2023