A petrolífera francesa TotalEnergies planeia recomeçar as obras de construção de uma central de gás natural liquefeito (GNL) da Área 1, na bacia do Rovuma, ainda este ano, anunciou o CEO da empresa numa conferência com analistas, considerando que “a situação melhorou claramente”.
De acordo com a agência de informação financeira Bloomberg, Patrick Pouyanné, disse aos analistas que considerava que a situação de insegurança que levou à suspensão dos trabalhos em 2021 “melhorou claramente”, o que permite o recomeço dos trabalhos na península de Afungi, província de Cabo Delgado, ainda este ano.
Com o novo calendário agora em cima da mesa, o início da produção de gás num projecto de 20 mil milhões de dólares poderá acontecer em 2028, e dá um novo ânimo para o aumento dos pagamentos dos juros da dívida de 900 mil milhões de dólares, cujos juros passarão de 5% para 9% a partir de Março do próximo ano.
“O recomeço dos projectos de GNL é crucial para os títulos de dívida”, comentou o chefe de investimentos na Capitulum Asset Management, Lutz Roehmeyer, uma gestora de fundos com sede em Berlim, acrescentando que “sem o recomeço das obras, uma nova reestruturação da dívida só é evitável se os mercados de capitais voltarem a abrir-se para África”.
A notícia do recomeço das obras surge na semana seguinte à agência de informação financeira Moody’s ter piorado a perspectiva de evolução da economia, de positiva para estável, mantendo o ‘rating’ oito níveis abaixo da recomendação de investimento.
Mesmo com um programa de apoio financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI), as finanças de Moçambique continuam pressionadas, havendo registo de atrasos no pagamento da dívida interna e de dificuldades para pagar aos funcionários públicos.
Moçambique tem três projectos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, sendo que estão localizadas ao largo da costa da província de Cabo Delgado.
Dois desses projectos têm maior dimensão e prevêem canalizar o gás do fundo do mar para terra, arrefecendo-o numa fábrica para depois o exportar por via marítima em estado líquido.
Um é liderado pela TotalEnergies (consórcio da Area 1) e as obras avançaram até à suspensão por tempo indeterminado, após o ataque armado a Palma, em Março de 2021, altura em que a energética francesa declarou que só retomaria os trabalhos quando a zona fosse segura. O outro é o investimento ainda sem anúncio à vista liderado pela ExxonMobil e Eni (consórcio da Área 4).
Um terceiro projecto concluído e de menor dimensão pertence também ao consórcio da Área 4 e consiste numa plataforma flutuante de captação e processamento de gás para exportação, directamente no mar, que arrancou em Novembro de 2022.