ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
A UP, no entanto, já + conseguiu ter essa maioria almejada, não teve tempo de conquistar essa maioria almejada. Salvador Allende teve [36,6%] dos votos nas eleições Presidenciais, contra [35, 29%] de Jorge Alessandri o candidato da direita e [21, 08%] de Radomíro Tomic do Partido Democrata Cristão [PDC] que poderia ser classificado como um Partido de Centro para usar a linguagem + comum na imprensa.
Pela Constituição chilena da época uma Constituição de 19[25] quando nenhum candidato obtinha maioria absoluta em uma primeira volta, a segunda volta tinha que ser realizada apenas entre os membros do Congresso, a segunda volta no Chile era indirecto não era com voto popular. Nessa segunda volta realizada pelo Congresso Nacional chileno na Secção do dia [24] de Setembro de 19[73], Allende foi vitorioso com [153] Parlamentares votando por ele, contra [35] votando em seu concorrente Jorge Alessandri. Essa maioria que Salvador Allende tem na Secção do Congresso em [24] de Setembro de 19[73] foi graças ao apoio do PDC e de grupos independentes.
A UP, portanto, não tinha maioria parlamentar em seu melhor momento nas eleições ocorridas em Março de 19[73], porquê quando Allende ganha as eleições em 19[73] ele não tem essa força, nas eleições ocorridas em Março de 19[73] a UP conquistou [44,23%] dos votos obtendo [63] das [150] cadeiras entre Deputados e [19] das [50] vagas entre Senadores. Foi o melhor momento parlamentar da UP que nas eleições anteriores tinha obtido um resultado inferior a [40%].
Há apenas seis meses do golpe, portanto em Março de 19[74] toda direita, incluindo PDC estava unificada em uma coalizão chamada Confederação da Democracia. Essa Confederação da Democracia obteve nas eleições parlamentares em Março de 19[73], [87] Deputados contra [63] da UP e [31] Senadores contra [19] Senadores da UP. Repito, essa situação era parecida até pior quando Allende tomou posse em [04] de Novembro de 19[73]. Em Março de 19[73] a UP havia aumentado o seu apoio popular mesmo assim não obteve maioria parlamentar.
Portanto, em todo seu período de Governo Allende viveu a contradição entre o Programa escolhido pelo povo nas eleições Presidenciais e a falta de 'respaldo' em uma maioria legislativa. Nos primeiros meses Allende ainda contou com votos de Deputados e Senadores
da Democracia Cristã [DC], enquanto esse Partido teve como seu sector predominante a ala liderada pelo antigo candidato Tomic que era democrata cristão, mas uma figura política progressista. Quando a ala direita da DC prevaleceu chefiada pelo Eduardo Frei e Patrício Helión, a DC deslocou-se para uma aliança com o Partido Nacional de direita formando então, como eu já disse, a Confederação da Democracia que era o bloco conservador e golpista que se organizou no Parlamento e na sociedade chilena contra o Governo de Salvador Allende.
Mesmo assim, mesmo sem ter maioria parlamentar o Governo Allende conseguiu 'implementar' reformas estruturais impulsionando a mobilização social sobre o Parlamento e aproveitando divergências eventuais nas fileiras dos Partidos burgueses, além de também operava negociações no Parlamento, mas recorria muito a mobilização social sobre Parlamento.
O avanço na reforma agrária, a nacionalização da mineração do cobre e de outros sectores vitais adotação de Programas sociais e a ampliação dos serviços públicos estão entre os principais feitos da curta gestão de Salvador Allende, ainda que o compromisso da UP, isso é importante destacar fosse duma transição sem ruptura da institucionalidade, o Governo e os Partidos de esquerda trataram de fomentar entre 19[70] / 19[73] o que era chamado de poder popular.
Por exemplo, formaram-se cordões indústrias nas regiões fabris, no quais os trabalhadores elegiam Conselhos e interviam na direcção das empresas, além de debater e actuar no cenário político nacional. Outro exemplo, além dos cordões indústrias com a JAP’s [Junta, Abastecimentos e Preços] os bairros e as comunas passaram a ter estruturas de poder para 'intervir' sobre os meios de produção e comércio ameaçados pela sabotagem dos empresários que progressivamente tentavam desestabilizar o Governo. E um dos instrumentos dessa desestabilização era provocar uma situação de escassez de mercado em paralelo aumentando o preço dos produtos e tornado cada vez +difícil a população especialmente população carente encontrar esses produtos nos mercados. Esse foi um dos instrumentos de tentativa de desestabilização do Governo Allende e é quando se 'constituem' essas JAP’s que eram instrumentos do povo nos bairros e nas comunas para ir atrás dos produtos escondidos pelos empresários para distribuir esses produtos para população para garantir que não houvesse escassez.
Esse processo paulatino de empoderamento popular no Estado, nas fábricas, na produção, nas Universidades e até em núcleos militares, esse processo de empoderamento popular foi capaz de arrancar conquistas relevantes como tentei descrever, ao mesmo tempo em que, conduziu a sociedade para uma polarização frontal entre trabalhadores e capital, entre esquerda e direita.
Como consequência, o país foi sendo levado a um 'impasse' irrevogável, o Governo Allende mesmo limitadamente implementava as reformas propostas pelo Programa da UP, dentro da ordem institucional mesmo sofrendo forte pressão de sectores que exigiam maior radicalidade e ruptura com as instituições controladas pela direita.
Por sua vez era furiosa a reacção burguesa aliada aos Estados Unidos [EU] em plena guerra fria contra a União Soviética [US] e o campo Socialista. Tudo que os EU não queriam era o sucesso do Governo Allende mostrando que seria possível construir uma sociedade Socialista mantendo os direitos democráticos e as liberdades isso poderia ser um péssimo exemplo para outros povos do mundo na opinião dos EU.
Até as eleições realizadas em Março de 19[73] que eu acima mostrei que é quando a UP reúne [45%] dos votos essa reacção burguesa até aquela data era predominantemente constitucional, o Plano era afastar Allende através dum julgamento parlamentar em um processo de impeachment. A Confederação da Democracia, esse bloco da direita imaginava ganhar as eleições de Março de 19[73] e ter 'maioria suficiente' para o de Salvador Allende.
Quando o resultado eleitoral, no entanto deu maioria para o bloco conservador, para Confederação da Democracia, mas por pequena margem sem números suficientes para o impeachment, nesse momento em função do resultado eleitoral a burguesia passou para uma táctica abertamente golpista apoiada nas Forças Armadas [FA]. Naqueles meses pós Março de 19[73] as sabotagens já atingiam um patamar elevado: desabastecimento de produtos básicos, greve dos camionistas, corte do crédito internacional, sanções dos EU, sabotagens dos + diversos tipos sempre em alta intensidade buscando disparar a inflacção e a escassez para desestabilizar o Governo de Salvador Allende.
Após, Março a burguesia chilena como eu já disse passa uma táctica abertamente golpista e o ensaio geral desse golpe aconteceu em [29] de Junho de 19[73] quando o tte-coronel Roberto Souper precipitando-se levantou o Regimento blindado número [2] em Santiago em um episódio que foi chamado de «tanquetasso». Essa intentona do dia [29] de Junho foi sufocada pela reacção do Comandante do Exército Carlos Práti, leal a Allende. Carlos Práti, seria assassinado com uma bomba no seu carro em 19[74] na Argentina.
Carlos Práti consegue sufocar o levantamento liderado pelo tte-coronel Roberto Souper, ironicamente um dos Generais que participa da ofensiva contra aquela primeira tentativa golpista foi Augusto Pinochet que era tido pelo Governo, que era tido por Salvador Allende como um legalista e Pinochet substituiria Prátis no Comando do Exército a partir do dia [22]
de Agosto - de um mês antes do golpe militar. Prátis renunciam e Pinochet nomeado por Allende para o Comando do Exército.
Tudo indica, que havia muita ilusão de Allende, dos Partidos de esquerda sobre o quê ocorria nas FA e sobre a própria história das FA chilenas. As FA chilenas não tinham o mesmo histórico de intervenção política, por exemplo, que as FA da Argentina ou do Brasil. Allende estava convencido de que, as FA chilenas se manteriam no seu papel constitucional que elas já + participariam de um golpe de Estado, que elas eram legalistas. Salvador Allende respondeu a isso abertamente em várias entrevistas, incluindo durante uma vista que Fídel Castro faz ao Chile em 19[71] e Fídel pergunta a Allende se, ele confiava nos militares e Allende responde exactamente isso, que as FA chilenas tinham um papel constitucional e tinham uma cultura legalista sobre a qual ele não tinha nenhuma dúvida.
Nem mesmo a demissão de Prátis acusado pela pressão dos próprios militares parece ter alertado o Governo parece ter 'alertado' o Presidente Allende sobre o quê se passava. Allende continuo acreditando na cultura legalista das FA até os últimos momentos de sua Administração. E não apenas Allende não foi um problema individual, o Partido Comunista, o Partido Socialista a maioria do Partido Socialista e o Partido Comunista mantinham a tecla, continuavam batendo na tecla do carácter legalista das FA.
No dia [04] de Setembro de 19[73] + de um milhão de pessoas marchou em defesa do Governo de Allende, a manifestação havia sido convocada pela Central Única dos trabalhadores e pelos Partidos de esquerda para celebra o terceiro ano da eleição presidencial de Salvador Allende. A crise económica era grave o ambiente político estava crispado, mas Allende e a UP seguiam no rumo traçado: evitar rupturas, manter a lógica da via institucional, neutralizar as forças antidemocráticas por dentro das instituições ainda quê as pressionando através da mobilização social.
A palavra de ordem lançada pelo Partido Comunista em Junho, depois do «tancasso» foi “não a guerra civil” foi a palavra de ordem, também abraçada por Allende. Sectores Socialistas e o MER tinham outra concepção, defendiam outra linha a da preparação imediata para o confronto com fechamento do Parlamento e a construção duma força militar que fosse leal ao Governo. Com o «tancasso» com aquela intentona do dia [29] de Junho de 19[73] que é sufocada pelo então Comandante do Exército Carlos Prátis, Allende poderia constitucionalmente ter 'decretado' Estado de emergência e fechado o Parlamento, mas decidiu não fazê-lo por lealdade e a sua concepção sobre a chamada via chilena para o Socialismo.
(Continua)