ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Ao contrário Allende tentou negociar até as vésperas do golpe, um Acordo pelo qual seria convocado um Referendo sobre a continuidade ou não de seu Governo que legalmente deveria ser encerrado apenas em 19[76], o mandato no Chile presidencial era e continua sendo de quatro anos.
As [05] horas da manhã do dia [11] de Setembro as FA 'deslancham' um movimento golpista, poucas horas depois o Palácio La Moneda passa ser bombardeado; as [14] horas e [15] minutos Allende estava morto, despois do último discurso ao povo chileno 'rechaçando' qualquer possibilidade de renúncia ou rendição decidira tirar a própria vida quando a resistência no Palácio já se mostrava incapaz de deter os militares por + tempo.
Houve resistência naquelas primeiras horas e dias, sectores dos trabalhadores, dos Partidos de esquerda [progressistas] tentaram nos bairros e nos cordões industriais organizar a resistência, havia alguma capacidade de resistência armada, mas eram estruturas muito pequenas frente ao levante liderado por Augusto Pinochet frente ao levante consolidado pelas FA. A resistência dura pouco, porquê segundo a avaliação de muitos historiadores e protagonistas não havia ocorrido preparação para aquele momento, porquê haveria um buraco na concepção da transição democrática ao Socialismo.
A ideia de que, fosse possível evitar a ruptura, a ideia de que, seria possível neutralizar tentativas de rupturas e golpe por parte da burguesia era uma ideia que não passou + uma vez da prova da história, já não tinha passado nos anos [30] na República espanhola. A República espanhola é uma referência que pode ser comparada à experiência chilena nos anos [70]. Um Governo republicano com hegemonia Socialista e comunistas, tenta aplicar um Programa popular, há um levante militar liderado entre outros por Francisco Franco, o Exército espanhol se divide naquele caso, ou seja, o Franco não consegue manter a unidade do Exército, o Exército se divide há uma guerra civil, mas a República não havia se preparado para aquela situação de enfrentamento, embora a divisão do Exército permitisse ao Governo republicano um grau de resistência ao contrário do que, aconteceu no Chile.
Mas, de toda maneira não havia sido impossível impedir que a burguesia recorresse ao golpe e a guerra civil para impedir aplicação de um Programa popular como aquele que era proposto pelo Governo republicano na Espanha. No Chile foi a mesma coisa, não pode evitar a pesar do compromisso de Allende com a ordem institucional não se pode evitar o golpe, não se pode evitar a ruptura 'patrocinada' pela burguesia, pelos EU e organizadas pelas FA para deter um Governo como do Salvador Allende.
E o facto dessa lógica da transição democrática ao Socialismo não prever a inevitabilidade da ruptura teria feito o Governo de Salvador Allende não se preparar para aquele momento e tornando-se um alvo fácil para acção golpista dos militares. Depois do golpe e contra Salvador Allende, há uma profunda divisão, um profundo debate pela esquerda mundial sobre os erros que teriam sido cometidos e que teriam permitido a vitória do fascismo, dos militares, da burguesia chilena contra o Governo de Salvador Allende, além da mobilização social, além da democratização do Estado, além da participação popular tinha que se preparar no terreno militar, tinha que se preparar para o enfrentamento para guerra civil.
Quê a única forma de derrotar um golpe era ter uma força militar superior a dos golpistas ao contrário de tratar FA como uma estrutura legalista, constitucional, neutra e profissional tinha que ter-se compreendido que as FA precisavam ser disputadas porquê a burguesia recorreria aos militares para uma operação golpista e além de disputar as FA, os Partidos da UP deveriam ter construído sua própria força militar para tentar se fosse o caso derrotar a burguesia, também neste terreno.
E outra figura importante que faz essa crítica e retira da situação chilena uma lição para o seu próprio processo foi o Presidente Hugo Chaves da Venezuela para quem ambos os processos têm como objectivo Socialismo respeitando a via institucional e eleitoral, ambas são Revoluções institucionais, mas a Revolução venezuelana é armada, é institucional como a Chilena, mas armada. Porquê o Presidente Chávez 'buscou' conduzir uma profunda reforma dentro do Exército venezuelano para atrair para o seu Projecto às FA e o faz especialmente, depois da tentativa golpista de 20[02] que chega a tirá-lo do Governo por [48] horas.
Ou seja, Chávez 'compreendeu' a importância da questão militar e compreendeu a importância com uma abordagem totalmente diferente daquela de Salvador Allende. Chávez 'compreendeu' quê era necessário não se iludir com eventual carácter legalista das FA ao contrário imaginar que as FA em última instância sempre são uma 'ferramenta' da burguesia contra-Governos de esquerda e que àquilo que haveria ser feita era disputar as FA, reformar as FA, e além disso, construir uma força popular armada que na Venezuela são as milícias. Milícias na Venezuela não têm a mesma conotação que em Moçambique, milícia na Venezuela é o armamento organizado do povo não é que cada um tem a sua arma e faz e o quê quiser. Não! Milícias são estruturas organizadas nos bairros ou nas comunas da Venezuela, estruturas com Direcção, com Comando é uma estrutura auxiliar das FA baseada no armamento geral do povo para enfrentar o golpismo.
Chávez, portanto, tirou lições da experiência chilena, a partir desse ponto de vista de que era necessário se preparar para ruptura e de que, o grande erro político de Salvador Allende com todo seu heroísmo havia sido não se preparar para ruptura, o grande erro dos Partidos de esquerda especialmente os Socialistas e os comunistas foi não ter-se preparado para inevitável ruptura não apenas em termos de mobilização social, mas também em termos de preparação militar e armada. Essa foi a lição que o Presidente Chávez tira da experiência chilena.
O principal papel de um Governo progressista [esquerda] nessas circunstâncias era preparar o povo para reagir ao golpe em todos os terrenos, preparar o povo para resistir ao golpe e esse é, do ponto de vista político não histórico apenas o grande debate, quais as lições tirar do processo chileno. Claro, que as principais lições dizem respeito a como se comporta a burguesia, como se comportam os EU quando os seus interesses são afectados: sabotagem, sanção, bloqueio, golpe, assassinato, repressão, uma trilha de sangue e dor para garantir os interesses dos grandes empresários do grande capital.
As grandes lições a se tirar é sobre a violência e o carácter antidemocrático estrutural da burguesia latino-americana. Mas, além dessas lições que apontam para natureza dos inimigos da democracia na América-latina há também lições a se tirar a respeito de como enfrentar situações desse tipo nas quais Governos populares são eleitos se depõem a implementar reformas, a burguesia reagirá de uma forma ou de outra como que se deve enfrentar essa reacção? Basta ampliar alianças é, por aí que se resolve o problema ou é necessário ter uma força popular, social e até mesmo uma força com capacidade militar para 'enfrentar' as tentativas golpistas da burguesia para interromper processos de mudanças.
É um debate que continua muito actual. A ilusão do Partido Comunista chileno sobre a possibilidade duma transição democrática e pacífica, a ilusão sobre o papel das FA, a ilusão a respeito duma possibilidade de comportamento democrático da burguesia chilena e da necessidade da esquerda construir forças sociais de combate e construir quando se está no Governo e quer realizar uma transição no rumo duma sociedade Socialista a necessidade de construir uma força militar ou de ter força militar para 'enfrentar' o golpismo.
Na avaliação sobre o golpe sofrido por Salvador Allende, chega-se à conclusão de que, alianças são insuficientes e que em determinados momentos a polarização na sociedade é tão forte, a contradição entre burguesia e trabalhadores, entre capital e trabalho, entre esquerda e direita é tal forte que o espaço de alianças reduz-se. Quê as alianças não são desprezíveis, que as alianças devem ser feitas, mas que elas não resolvem os cenários nos quais há enfrentamento, porquê nos cenários nos quais há 'enfrentamento' as classes crispam suas posições e já não há + o mesmo espaço para alianças e quê, portanto, a única forma de ser vitorioso é ter força, força própria, autónoma, política, social e… se necessário militar.
Portanto, essa é a forma de ver o golpe chileno que têm Hugo Chávez, que teve Fídel Castro e que tiveram personagens muito importantes da história chilena. Ou seja, uma compreensão de que, a formulação original de Salvador Allende e do Governo da UP, trazia embutida uma ilusão sobre as possibilidades e mudanças na América-Latina sem ruptura.
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, aos [15] de Setembro, 20[23]