ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Você, já ouviu falar da última Carta de Patrice Lumumba à sua esposa? Não! Então, hoje eu te conto essa história.
Patrice Lumumba foi um dos principais líderes do movimento para independência do Congo-Belga [Congo-Záire] e também da luta contra o colonialismo belga e dos interesses empresarias europeus no seu país. Como pan-africanista Patrice Lumumba foi um dos principais 'pilares' do pan-africanismo no Continente africano e ele se tornou primeiro, Primeiro-ministro do Congo então independente aos [35] anos de idade. E [7] meses do seu mandato ele foi 'assassinado' no dia [17] de Janeiro de 19[61] com ajuda da Bélgica e também dos Estados Unidos [EU].
E, por ser um líder anti-imperialista Patrice Lumumba teve várias prisões decretadas por falsas acusações das autoridades imperialistas colonias. E esta é a última Carta de Patrice Lumumba direccionada a sua esposa e também seus Filhos. Esta Carta de Patrice Lumumba foi escrita na prisão de Thysville que é hoje actual Cidade de Mbanza-Ngungu e a Carta começa assim:
“Minha querida esposa!
Estou escrevendo estas palavras para você, sem saber se elas chegarão até você ou se estarei vivo quando você as ler.
Ao longo da minha luta pela liberdade do nosso país, nunca duvidei da vitória da nossa causa sagrada, à qual eu e os meus companheiros dedicamos toda nossa vida. Mas, a única coisa que queríamos para o nosso país era o direito, a uma vida digna, à dignidade sem pretensões, à independência sem restrições. Este nunca foi o desejo dos colonialistas belgas e seus aliados ocidentais.” Aliados ocidentais são França, Inglaterra, Portugal e EU.
“que receberam, directa ou indirectamente, aberta ou ocultamente, o apoio de alguns altos funcionários das Nações Unidas, o Órgão em que depositamos todas as nossas esperanças quando apelamos para ele para ajuda.” Ou seja, até as Nações Unidas, também estão dentro deste acto colonialista dentro do Continente africano, porquê nós sabemos que os principais países das Nações Unidas são países que colonizaram o Continente africano.
Patrice Lumumba ainda continua dizendo:
“Seduziram alguns dos nossos compatriotas, compraram outros e fizeram de tudo para distorcer a verdade e manchar a nossa independência. O que posso dizer é que vivo ou morto, livre ou preso não é uma questão minha pessoalmente o principal é o Congo, nosso povo infeliz, cuja independência está sendo pisoteada é por isso, que eles nos trancaram na prisão e nos mantém longe do povo, mas minha fé permanece indestrutível.
Sei e sinto no fundo do meu coração que mais cedo ou mais tarde o meu povo se livrará dos seus inimigos internos e externos, se levantará como um só para dizer “Não” ao colonialismo, ao colonialismo descarado e moribundo para ganhar sua dignidade em uma terra limpa”.
E Patrice Lumumba continua.
“Crueldades, insultos e torturas nunca podem me obrigar a pedir misericórdia, porquê prefiro morrer de cabeça erguida, com fé indestrutível e crença profunda no destino de nosso país do que viver em humildade e renunciar aos princípios que me são sagrados. Chegará o dia em que a história falará. Mas, não será que será ensinada em Bruxelas, París, Washington ou nas Nações Unidas.
Será a história que será ensinada nos países que se libertaram do colonialismo e de seus fantoches. A África escreverá sua própria história e, tanto no Norte quanto no Sul, será uma história de gloria e dignidade.
Não chore por mim, sei que meu atormentado país saberá defender sua liberdade e sua independência.
Viva o Congo!
Viva África!
Prisão de Thysville
Patrice Lumumba”
n/b: Patrice Lumumba teve uma morte cruel, pois foi 'assassinado’ e 'descortejado' corpo dissolvido em aço e ainda tendo sobrado apenas um dente que a Bélgica levou para Europa e devolveu recentemente em um acto simbólico. Mas, Patrice Lumumba continua inspirando jovens e movimentos pan-africanistas por toda a África e pelo mundo fora.
Você conhecia essa Carta de Patrice Lumumba?
Tradução e arranjos do texto: Manuel Bernardo Gondola
Maputo, aos [07] de Setembro, 20[23]