Um dhow típico do oceano Índico voltou a ligar a Ilha de Moçambique à aldeia piscatória costeira de Cabaceira Pequena, construído com técnicas tradicionais no âmbito do projeto de preservação do património "Sea Sound", financiado pelos Estados Unidos.
Fonte da Embaixada norte-americana em Moçambique explicou que o projeto Sea Sound envolveu seis jovens líderes comunitários e 10 estagiários que receberam formação em pesquisa do património oral e técnicas de gravação, filmagem e edição, naquela histórica ilha a norte, “afetada pelas alterações climáticas e sob a ameaça de perder a sua história única devido à propagação do extremismo violento”.
“Foi construído um dhow de 8,5 metros, utilizando as tradições ancestrais da comunidade, que agora serve para transportar os moradores entre a Ilha de Moçambique e a Cabaceira Pequena. O processo de construção da embarcação faz parte de mais de 80 conteúdos sobre o património cultural marítimo e 120 canções de mulheres e homens do mar, gravadas em áudio e vídeo, que em breve estarão disponíveis numa plataforma digital e nas rádios comunitárias”, explicou a fonte.
O dhow é um veleiro típico do oceano Índico, de várias dimensões e caracterizado por possuir pelo menos um mastro com velas latinas, utilizado durante séculos, na região, para transporte e pesca.
O Governo norte-americano refere ter disponibilizado 161.280 dólares para o projeto “Sea Sound”, defendendo que poderá “ser usado como uma ferramenta de turismo comunitário e de resiliência local às alterações climáticas”. Esse financiamento foi garantido através do Fundo dos Embaixadores para a Preservação Cultural, que volta assim a apoiar a defesa do património cultural local na Ilha de Moçambique, declarada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO em 1991.
As três principais componentes do projeto “Sea Sound” em implementação incluem a identificação e documentação de canções tradicionais, cantos do mar, mitos, contos, relatos orais da escravatura, técnicas antigas de fabrico de barcos e de navegação através de entrevistas individuais aprofundadas e de análises sociológicas e antropológicas.
Também prevê a apresentação destes conteúdos em podcasts áudio e visuais “de forma criativa para sensibilizar para o património marítimo, utilizá-los para criar um programa de turismo sustentável da UNESCO e preservar este património para as gerações futuras em todo o mundo”.
Incluirá igualmente o desenvolvimento de uma plataforma digital de património cultural marítimo “onde se pode ouvir e ver o podcast de oito episódios sobre o património marítimo da Ilha de Moçambique e ligações à diáspora africana”.
O conteúdo recolhido neste projeto já deu origem à “Nakhodha and the Mermaid” (Nakhodha e a Sereia), uma experiência imersiva de 33 minutos de meios mistos, que inclui financiamento adicional do Sound Connects Fund, uma iniciativa da Music In Africa Foundation (MIAF) e do Goethe-Institut, financiada pela União Europeia com o apoio da Organização dos Estados ACP (África, Caraíbas e Pacífico).
A exposição leva o visitante numa viagem sensorial e experimental, através de uma combinação de podcast áudio espacial, imagens de mapeamento de vídeo de 360° e realidade virtual. A exposição está disponível na Ilha de Moçambique para turistas e residentes de todas as idades.
LUSA – 11.09.2023