Em 2000 comecei a leccionar no então muito recente curso de antropologia na Universidade Eduardo Mondlane, a primeira formação superior na disciplina realizada em Moçambique. Naquela época o plano de cursos implicava um bacharelato em ciências sociais com a duração de três anos, ao qual se seguia um biénio para a realização de licenciatura, para a qual havia três opções: administração pública, antropologia e sociologia.3
As minhas prelecções decorriam nesse biénio, ao qual os alunos acediam após algumas disciplinas introdutórias à antropologia. No seu início eu perguntava-lhes as causas da opção por aquela licenciatura e quais as suas expectativas, intelectuais e profissionais. Sempre esperava que fosse invocada a inspiração de Eduardo Mondlane, fundador e primeiro presidente da Frelimo, vulto cuja memória está muito presente no quotidiano, inclusivamente dando o nome à universidade que nos acolhia. Isso também porque ele fora um dos raríssimos moçambicanos a concluir estudos superiores durante o regime colonial, sendo comummente referido como antropólogo,4 e de uma sensibilidade antropológica ser visível tanto na sua obra fundamental, Lutar por Moçambique (Mondlane 1995 [1969]), como na sua autobiografia literária Chitlango, Filho de Chefe (Khambane, Clerc, 1990).5
Mas ele raramente era referido, e nunca espontaneamente. Tornou-se-me óbvio que, para a maioria dos alunos, o vulto político ocultava o seu perfil intelectual, assim não influenciando os discentes nas suas opções disciplinares.
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