Por Edwin Hounnou
Foi morto, em combate, o terrorista mais procurado pelas autoridades moçambicanas, Ibn Omar. Ele era, igualmente, conhecido por Bonomade Machude Omar ou Abu Omar, a 22 de Agosto de 2023, em Quitarejo, no Distrito de Maconha, província de Cabo Delgado.
Desde o dia 05 de Outubro de 2017 que o terroristas fizeram o primeiro ataque contra a Vila da Mocímboa da Praia e até aos dias que correm, mataram mais 2500 pessoas, destruíram infraestruturas, e rovocou êxodo das populações. Forçou a retirada das populações dos seus locais de origem que tiveram que se refugiar em terras estranhas, deixando para trás suas machambas, árvores de fruta, seus cemitérios e seus animais.
Ibn Omar ceifou muitas vidas, destruiu muitas infraestruturas, implantou muito terror no seio das populações. Mandou assassinar muitos concidadãos seus a sangue-frio. Era comandante de um bando de assassinos e malfeitores. Eles poderiam se chatear com o Governo, o que pode ser compreensível, mas não tinham que meter no barulho as populações e ao procederem de tal forma, mostraram que são uns malfeitores e terroristas que, na sua rota, só perseguiam a morte e a destruição de infraestruturas.
O terrorismo é infundir medo, espalhar a morte pela aldeia, pela povoação, pelo distrito, pela província e, se possível, pelo país inteiro e destruir infraestruturas.
A morte de Ibn Omar significa que a guerra terrorista, em Moçambique, vai terminar? - Pode ser que sim, mas, também, pode ser que não. A História nos ajudar a fazer uma análise do fenômeno. O abate de um líder de uma organização terrorista, pode não significar o fim da organização. Quando foi abatido Osama Bin Laden muitos se regozijaram que o fim do Al Qaeda era eminente, porém, aquela organização terrorista continua a matar e a destruir infraestruturas, tal como acontecia no tempo do seu líder.
Vários líderes do ISIS foram mortos por soldados norte-americanos, porém, vimos como militantes do ISIS assaltaram Kabul, capital do Afeganistão, enquanto os militares norte-americanas saíam. O último avião ainda em terra com soldados norte-americanos-americanos a cidade capital afegã caía sob as garras dos terroristas.
É tão difícil quanto imprevisível afirmar que a morte de um líder possa significar, necessariamente, o fim de uma organização. A História não responde, de forma tão linear, a esta questão. O tempo, estudo e verificação se encarregam de dar resposta.
Em outro contexto, podemos verificar o nosso caso. Em 1969, Eduardo Mondlane, líder da FRELIMO, tombou, em Dar-Es-Salam, na Tanzânia. Depois viu-se uma FRELIMO mais robusta a levar a sua luta para mais outras zonas. A FRELIMO não morreu como os colonialistas esperavam.
Em 1973, Amílcar Cabral, líder do PAIGC, que lutava pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, era assassinado na Guiné-Conacry.
O PAIG continuou com a luta e até proclamou a independência da Guiné-Bissau enquanto a guerra decorria.
Ficou provado que o desaparecimento do líder pode abalar a organização, mas nada diz que seja o fim da luta. A questão é controversa. Por isso, desejaríamos de lançar um veemente alerta para ninguém saltar de alegria por ser cedo demais, para não lançar foguetes e abrir garrafas de champanhes por esta pequena vitória. A grande vitória seria eliminar o terrorismo e as causas a si subjacentes.
Para o nosso caso, julgamos que as causas do terrorismo se assentam, fundamentalmente, na pobreza extrema em que as populações se encontram. mergulhadas, na distribuição desigual dos benefícios dos recursos naturais e das oportunidades que o país oferece.
Não se pode descartar a possibilidade de se tratar de uma guerra pelo mercado de venda de hidrocarbonetos. A injustiça estimula revoltas e a descoberta de recursos naturais pode servir de contamina que ressuscita conflitos.
Em 1979, André Matsangaíssa, comandante supremo da guerrilha da RENAMO, que foi morto e substituído por Afonso Dhlakama. A guerra estendeu-se por todo o território nacional. O país ficou destroçado. A economia ficou reduzido a quase nada. As estradas cortadas, as populações deslocadas. Escolas e centros de saúde destruídos.
A morte de Matsangaíssa não fez parar a guerra, muito pelo contrário, a sua intensidade aumentou e a RENAMO ficou cada vez mais forte. Quando Matsangaíssa foi morto, muitos pensavam que o fim da guerra havia chegado. Foi um puro engano.
Esses elementos podem-nos ajudar a ver o que será, doravante, dos terrorista que apoquentam no Norte de Moçambique.
Quanto a nós, é cedo para aplaudimos que o terrorismo vai acabar por ter sido decapitado.
Os movimentos tanto da guerrilha de libertação quanto terrorista, não desaparecem, de modo automático, com a morte dos seus líderes. Muitas vezes, têm a capacidade de se reinventarem e aparecerem com mais força e dinamismo.
Estamos atentos para nos apercebermos de qual vai ser o rumo que os terroristas tomarão depois da morte do seu líder. Não vale a pena esfregar as mãos de contentamento. Vamos esperar para ver.
O mais importante é diversificar as frentes de combate para não dar trégua aos terroristas de se reorganizarem. Não lhes dar a oportunidade de iniciativa de ofensiva. Contentar-se com o que se diz que os terroristas foram desalojados de todos os distritos que, antes, ocupavam, é muito pouco.
Os terroristas têm um comando em cada frente. Quer dizer, sem o seu terrorista-mor, eles podem prosseguir com a guerra e fazer surpresas bastante desagradáveis para o país e para as FADM.
Desejaríamos que a morte de Ibn Omar fosse o início de um reboliço que terminasse com o fim do terrosismo no país. Isso só será possível quando as FADM e suas congêneres do Ruanda e SAMIM, forças da SADC forem fortes e o Governo tiver uma diplomacia capaz de anular as fontes de abastecimento que alimentam o terrorismo.
Precisamos de uma inteligência capaz de estudar o pensamento do inimigo para lhe impedir que tenha iniciativa combativa e não aquela inteligência que alimenta fofocas e intrigas entre os comandantes, como acontecia noutros tempos de triste memória em que as armas eram viradas contra os comandantes mais inteligentes e expressivos.
VISÃO ABERTA – 05.09.2023