Por Edwin Hounnou
Manuel Rodrigues (MR), actual governador da Província de Nampula, está sendo sepultado ainda vivo pelos extremistas do seu partido - Partido Frelimo, pelo facto de ter declinado ser cabeça de lista para a autarquia da Cidade de Nampula para as eleições de 11 de Outubro próximo.
MR havia sido indicado, aqui dizem ter sido eleito, para a Frelimo recuperar aquela autarquia que lhe foge desde 2014 e aproveitando-se do seu cabedal político, a Frelimo queria chamar para si a gestão municipal, embora os veículos da Frelimo digam que, para eles, o colectivo sempre se sobrepõe ao individual. Os factos demonstram que esta versão nem sempre corresponde à verdade.
Se isso fosse verdadeiro, a Frelimo não teria avançado, para a autarquia da Cidade da Matola, com um governador, nem para a Cidade da Beira teria indicado uma secretária de estado na província, para disputar naquelas autarquias. Esse gesto mostra que não basta o colectivo. Porém, é preciso uma miscelânea com qualidades individuais do candidato ou cabeça de lista com a energia do partido.
Afirmar que o que conta é o colectivo é um desprezo. Para a escolha de lider tem sempre que levar em linha de conta a capacidade e qualidades para liderança. Um cavalo de alta competição, bem adestrado não corre sozinho, precisa de um bom cavaleiro. Uma arma de último grito da tecnologia, vai precisar de um soldado bem treinado e à altura do desafio em jogo.
MR pertence a uma nova geração de militantes. A liberdade não faz parte daquele grupo que foi mentalizado para não questionar nenhuma ordem recebida de cima. Depois de ter sido indicado para um cargo, a ordem superior é inquestionável. Não se pergunta nem se pode duvidar. A ordem superior é infalível, como aqueles dogmas antigos que aprendemos nas tardes de catequese. Questionar a ordem superior é um sacrilégio.
Esperamos que MR venha a sofrer represálias e Celso Correia disse que "na Frelimo não se recusa tarefas". MR ponderou a sua posição e comunicou que não estava disponível para concorrer às eleições autárquicas como cabeça de lista e devolveu a bola. Presume-se que os militantes de "gema" devem ter ficado muito furiosos. Às pressas, a Frelimo teve que arranjar um outro para fechar o buraco deixado por MR.
MR vai comer, seguro, o pão que o diabo amassou. Dias difíceis lhe esperam porque ninguém já havia confrontado a Frelimo desse modo que sempre se habituou a missão dada, missão cumprida e ponto final.
Na Frelimo, não existe a cultura de interpelar os chefes, de questionar uma decisão. É o tipo de democracia revolucionária que marca a morte política, neste caso, de MR. O seu futuro político já está tramado.
A escumalha da Frelimo já começou a inventar estorietas, calúnia e difamação pelo meio para satisfazer a patrão. Uma das invenções que lemos, nas redes sociais, diz que MR ambiciona ser Presidente da República, e é chamado de capim alto desnecessário. É o tiro de desespero para atingi-lo em cheio. Visa neutralizá-lo para liquidá-lo politicamente.
Na Frelimo, o boato e a calúnia sempre tiveram uma velocidade espetacular. Sempre ocuparam um lugar privilegiado e serviram de arma de arremesso contra quem pensar diferente. Não será nada de admirar que MR venha a ser vítima de atropelo de veículos de influência do seu partido.
Desde o dia da luta de libertação nacional até meados da década de 80, a intriga e a mentira sempre tiveram um peso especial na classificação de quem é patriota ou antipatriota, revolucionário ou antirevolucionário. Conhecemos algumas vítimas dessa política.
Pode ser que essa mentira venha a colar como tantas outras que provocaram danos em muitas famílias e fizeram vítimas que desapareceram do convívio das suas famílias. Nós sofremos as consequências dessa intolerância política. Sabermos muito bem do que falamos.
Essa prática ainda se mantém inalterável e continua a atropelar muita gente sem voz. Essa é a prática dos partidos libertadores - a intocabilidade e a mania de pensar que as suas ideias e decisões sejam inquestionáveis. O filme mudo está a passar da História. O mundo está a evoluir. Está a correr. A maneira de julgar os fenômenos como dogmas vai ganhando novas formas.
MR está sendo vítima de um sistema ultrapassado instalado na Frelimo. É o sistema de missão dada, missão cumprida. Não há liberdade para questionar nem duvidar. Para a Frelimo, MR deu passo em falso e vai pagar uma pesada factura pelo seu atrevimento.
Esperemos aqui para ver o desenvolvimento desta mirabolante novela!
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 20.09.2023
Recent Comments