EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República(156)
É do conhecimento do Presidente que em anos não muito recuados fomos um povo orgulhoso. Tínhamos amor-próprio pelo que os nossos heróis (muitos ainda vivos) haviam feito, pelo que fazíamos, e por aquilo que vislumbrávamos um dia poder fazer. Tínhamo--nos como patriotas, na sua definição mais estreita. Sofríamos de manifestações de amor aos símbolos do Estado, ao nosso Hino, à nossa Bandeira e às nossas instituições. Tínhamo-nos como nacionalistas por adoptar a preservação da nossa pátria enquanto entidade. Prendíamo-nos aos deveres morais que tínhamos para com a nossa comunidade política, e ligávamo-nos às questões relativas à nossa moçambicanidade.
De repente, tudo esfumou-se. A nossa sociedade passou a enfadar-se. As coisas que diziam respeito ao nosso ânimo, e atinham-se, por exemplo, à política, acabaram por permitir a inflação do sentimento de desgosto da população para com a mesma. Não vou culpar exclusivamente o Presidente por isto. Mas faz parte dos que destruíram a esperança do povo.
O Presidente não é diferente desses oportunistas de ocasião que, apercebendo-se da frustração popular, prometeu ao povo sonhos, mas são só pesadelos. Avalia para o antes de ser Presidente da República e agora que o é. O que deu de tão valioso aos moçambicanos?
A verdade é que à revelia de uma população entendida como incauta, foram criadas as grandes teias que se tornaram capazes de centralizar, comandar e gerenciar as massas, fazendo uso de vários recursos para criar o seu domínio. Hoje, cá entre nós, convive--se com uma colectividade absolutamente destituída de moçambicanidade, sem sentimentos de laços de sangue ou de amor por seu País.
Nos estádios, à hora do jogo, em detrimento de entoar-se feliz o Hino que é de todos nós, amaldiçoam-no. Quando aparece a imagem de um político na televisão, antes de se ouvir o que diz, troca-se de canal. Nos autocarros- como se estes ainda existissem- e outros transportes públicos não mais se oferecem lugares, nem para deficientes físicos. As vagas de estacionamento, destinadas a necessitados, são ocupadas por argutos. No Aparelho de Estado, os funcionários são pressionados a filiarem-se ao partido Frelimo, como condição para a sua progressão na carreira administrativa.
As reuniões partidárias da Frelimo são realizadas nas instalações do Estado e durante as horas normais de expediente. Quer dizer, usa-se o tempo pago pelo Estado para se realizar reuniões estranhas à administração pública e aproveita-se para recensear e amedrontar os que ainda têm a veleidade de sonhar. Nos ambientes institucionais surgem malas de dinheiro que, ao invés de socorrer hospitais, geram herança para infindáveis bandos de corruptos, enquanto sectores do Poder Judiciário, literalmente, fazem-se cegos. Pobre das nossas futuras gerações!
DN – 22.09.2023