Por Edwin Hounnou
Os antigos gestores da LAM (Linhas Aéreas de Moçambique ) quando tomaram conhecimento de que, a 18 de Abril de 2023, o governo, através do Ministério dos Transportes e Comunicacões, a sul-africana FMA (Fly Modern Ark) ia fazer a gestão da empresa, começaram a fazer um intenso esforço de saque aos fundos da companhia.
Com medo do futuro, os antigos gestores decidiram fazer um escandaloso aumento de 100 mil meticais aos seus salários, numa de que ficariam com o salário histórico.
Pensavam os antigos gestores da LAM que estariam tranquilos nem que tivessem que passar a serventes ou sem qualquer visibilidade na empresa, tinham o futuro tranquilo.
A drenagem de fundos vinha fluindo, fazendo pagamentos de serviços não prestados à empresa ou sobrefacturando os pagamentos para o posterior recebimento posterior do valor extra do que foi pago. Mesmo empresas e singulares sem qualquer contrato com a LAM perfilavam para receber dinheiro grátis. A LAM virou um autêntico "take away".
Aquilo não era roubar porque o roubar se faz com algum receio e exige alguma dose de inteligência. Era levar para casa aquilo que cada espertinho conseguia arrumar para si e seus comparsas. Não era por acaso que a LAM, mesmo operando em ambiente de exclusividade e proteccionismo, nunca saiu do buraco em que se encontrava - altos preços do custo do bilhete de viagem e mau serviço a bordo prestado aos passageiros.
O saque de fundos na LAM era ao sabor dos seus gestores até à entrada da FMA. Era gerida como se fosse barraca da avó e não um bem público que têm regras a obedecer. Não havia nenhum controle contabilístico, típico de gestores indicados com base em confiança política, sem mérito nem competência técnica reconhecida, basta exigir o cartão vermelhinho para subir pelos píncaros do poder.
Os antigos gestores da LAM, uma companhia com cerca de 10 aeronaves, eram muito gananciosos que elevaram seus salários e outros honorários ao nível de gestores de empresas aéreas com mais 300 aeronaves.
Nessas condições, era impensável que, alguma vez, a LAM fosse rentável e gerasse lucros por estar entregue a uma quadrilha de saqueadores.
Para agravar a situação, a LAM tem atrás de si um verdadeiro exército de trabalhadores. Fontes internas falam em mais de 900 trabalhadores, entre comadres e compadres, padrinhos e madrinhas, sobrinhos e sobrinhas, enteados e entradas e camaradas.
Assim, não se podia esperar de outra coisa para além do descalabro e falência. As políticas protecionistas do governo têm contribuído bastante para o estado de sonolência em que a LAM chegou que sempre contou com o apoio incondicional do governo. Nunca se preocupou com a competência nem com o critério de boa gestão.
A corrupção, nepotismo e roubo sempre foram as principais características da gestão da LAM. A doença de que padece a LAM é comum a todas as outras empresas públicas ou com a participação do Estado e essa doença se chama nepotismo, saque e roubo. Na LAM já vimos um ministro de tutela e um PCA no banco dos réus acusados de sobrefacturação na compra de uma aeronave Embrayer.
Para elucidar com exemplos, podemos chamar à conversa como caíram em vertical a Mcel e as TDM, estão hoje quase extintas. Mesmo fundidas numa só - TMCEL - não conseguem sobreviver aos ventos da concorrência. Hoje, está com as portas quase fechadas.
Ninguém sabe até quando continuarão a funcionar porque os embates de roubos, saques, endividamentos e gestão danosa foram tão fortes que deixaram a empresa em estado de coma.
A EDM vinha trilhando o mesmo caminho até à chegada de Mateus Magala que iniciou um duro processo da rentabilização da empresa. Essa atitude, segundo as nossas fontes, granjeou-lhe grandes dissabores entre os camaradas que haviam tomado a empresa como sua vaca leiteira. Hoje, a EDM é uma empresa rentável e tem lucros pelas suas operações. Está a deixar de ser um fardo às costas do Estado. O actual desempenho da EDM demonstra que é possível colocar as empresas públicas a produzirem lucros.
Para tal precisa de medidas corajosas como estancar as nomeações com base em confiança política, pôr fim à gatunagem desenfreada e dar primazia a competência e transparência na gestão da coisa pública.
É possível mudar o cenário sombrio por que passam as empresas públicas. Elas são uma dor de cabeça. É nelas onde muitos malandros comem à grande. Precisamos de gestores íntegros e competentes para reerguê-las para voltem a ser rentáveis e contribuam para o desenvolvimento.
CANAL DE MOÇAMBIQUE