EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (161)
A Frelimo pode fingir que ainda governa e seus aliados podem fingir que são por ela governados. Até os carreiristas, lambe-botas, todos os que sustentam a Frelimo podem participar desse fingimento.
Mas a Frelimo passa a ser uma representação de si mesma, sem nenhum poder de facto porque este é legitimado pelo povo.
Há uma coisa que me faz confusão: como é que a Frelimo pôde, nestas eleições, “ganhar de forma retumbante” se perdeu o povo? Existe essa possibilidade, senhor Presidente, de se ganhar uma eleição e perder-se o povo? É a manifestação clara do paradoxo!
O povo nunca erra. E se o Presidente dedicar algum do seu tempo para decifrar a mensagem das urnas com muita atenção, sem medo, sem colocar os próprios interesses em primeiro lugar, e com a maior sinceridade intelectual possível, há-de perceber de que lado o povo está.
A Frelimo faz o oposto do que o povo esperava que fizesse e o seu Governo escora-se nos devotos da seita frelimista. É preciso fé para acreditar que isso pode dar certo!
Cada vez mais questionada pelo modo caótico como governa e por seu comportamento hostil ao povo, a Frelimo vem atribuindo as suas vicissitudes à acção de forças externas que estariam a sabotar os seus esforços para desenvolver o País. Segundo essa retórica, quem é contra a Frelimo só pode ser contra o “povo”, pois a Frelimo nada mais faz que cumprir rigorosamente a vontade dos eleitores.
Em nome desse suposto desejo popular, a Frelimo tem se dedicado com afinco a degradar Moçambique. A Frelimo, definitivamente, implodiu todas as pontes com o povo. Deixou o povo na miséria, no desemprego, sem habitação, sem, pelo menos, o que comer. E ainda gozou com o povo ao afirmar que este tem inequivocamente três refeições por dia. A lista é longa – e, pasmem, estamos a falar de um Governo que diz que ganhou as eleições autárquicas do dia 11 com apoio popular!?
Ocorre que isso só é verdade nos desvarios da Frelimo!
Este Governo estimulou mais o ódio contra quem não comunga da sua ideologia, ampliando a cisão entre “nós” e “eles” que tão mal vem fazendo ao País desde tempos inomináveis. Como é que da boca de um Presidente da República podem sair, por exemplo, palavras como “quem não gosta da Frelimo o problema é dele”?
Estou a falar de um Presidente que foi eleito como razão directa do cansaço do eleitorado de camaradas oriundos da luta de libertação nacional e que governavam o País com uma tirania tal como se o povo lhes devesse alguma coisa.
E o que o Presidente fez? Atirou o País a uma longa e dolorosa crise económica, política e moral. E, apesar de tudo, esperava que o eleitor o abraçasse...
DN – 27.10.2023