A possibilidade de juntar um conjunto de artigos sobre a história e a atualidade do futebol moçambicano é por diversas
razões oportuna. Por um lado, a história do futebol moçambicano é muito rica. Dos subúrbios da capital, Maputo, vieram
alguns dos maiores talentos do futebol mundial no século XX; acima de todos eles, Eusébio da Silva Ferreira. Esses talentos, que nasceram do ambiente competitivo e criativo dos bairros periféricos da então Lourenço Marques, passaram a barreira da discriminação racial imposta pelo colonizador e seguiram para os grandes clubes da metrópole portuguesa, chegando mesmo à seleção nacional. Eles fazem parte de uma história global, marcada pelo tempo dos impérios. Nessa altura, como em tantas outras, o futebol, resgatado às paixões mais autênticas do povo torcedor pelos poderes, foi usurpado por estratégias políticas e diplomáticas. Em troca, porém, esses poderes tiveram de aceitar que os pobres jogadores mestiços e negros fossem elevados pela cultura popular ao estatuto de heróis nacionais, algo que contrariava as suas pulsões classistas e racistas.