O filósofo da antiguidade clássica, Aristóteles entendia que a Política é a ciência que tem por objectivo a felicidade humana e para tal desmembra-a em ética (que se preocupa com a felicidade individual do homem na pólis) e na política propriamente dita (que se preocupa com a felicidade colectiva da pólis). Para Aristóteles, a Política e as instituições do governo devem assegurar uma vida feliz ao cidadão, uma vez que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda ela se forma com vistas a algum bem (o bem-comum) e todos as acções que os homens praticam devem estar em vista com este bem.
Já John Rawls defende que “uma sociedade justa é, em princípio, uma comunidade política onde prevalecem a cooperação, o senso de justiça e as virtudes da cidadania. Rawls que estabeleceu os conceitos democracia deliberativa e o dever de civilidade, entende que só “o cidadão é que cumpre e colabora com a construção e manutenção da democracia”, porque este respeita a razão pública quando as instituições responsáveis pela salvaguarda da normatividade do Estado agem dentro dos seus deveres de civilidade.
Olhando para estas duas perspectivas de pensamento e virando para o actual cenário em que nos encontramos em Moçambique, verificamos que os nossos políticos nunca estiveram concentrados para o nosso bem comum e muito menos para o respeito do nosso dever de civilidade, razão pela qual corremos o risco de nos próximos dias a maior preocupação do País ser a luta de filhos da mesma terra, por algo que poderia ser evitado bastando apenas respeitar a vontade popular.
Os resultados que serão anunciados nesta quinta-feira (26.10) não irão trazer nenhuma novidade e mesmo com o combate jurídico que advirá depois disso. Sabem por que? É que Moçambique é um Estado corrupto e com lideranças que não medem esforços para prender ou mesmo matar um civil e alegar “que estávamos a trabalhar para repor a ordem publica”, que infelizmente nunca existiu, porque todos nós andamos inseguros, inclusive a própria é caçado, os agentes comerciais são raptados a luz do dia e com as ruas banhadas de agentes armados até aos dentes, que perguntem ao amigo pessoal do Presidente da República que foi raptado, pago resgate e mesmo estando fora do cativeiro ainda era chateado e tinha que pagar aos sequestradores uma taxa diária, semanal e mensal.
Os nossos políticos já assassinaram a nossa fértil democracia e as recentes eleições só vieram carimbar este desiderato. Meus irmãos, o País já foi retalhado, infelizmente, estamos diante de um teatro que dentro de dias abrandará e aqueles que já não suportam isso, se revoltarão e irão preferir partir para a via que muitos de nós já estamos cansados de viver: a via armada, em que os acordos que são alcançados são tão vazios e sem elementos de defesa do interesse nacional.
Os nossos partidos políticos há bastante tempo que perceberam que os privilégios da política são enormes, independentemente de ser da posição ou da oposição, apesar da existência no seio deles figuras que sentem a dor do povo, que acreditam num bem-comum e pretendem ser recordadas com “bons filhos de Moçambique, de África e do mundo”. Razão pela qual, não lhes interessa se salvam ou assassinam está fértil democracia ou votocracia.
E estranhamente, nenhum magnata ou filantropo ocidental virá intervir nisso porque o regime já conhece como os calar (aprovando taxas enfadonhas de exploração de recursos valiosíssimos e com prazos inconcebíveis ou mesmo entregando ao privado a exploração de recursos que deveria ser o Estado a fazer). Diante destes dilemas todos, cabe agora ao povo moçambicano, em especial a juventude calar e assistir o assassinato da nossa fértil democracia ou votocracia/ começar a pensar e agir para que no futuro não seja julgado como quem contribuiu para derrocado de um Estado que tinha tudo para dar certo, mas ambição e a ganância de um grupinho aniquilou todos os anseios de um povo e das gerações vindouras.
Contudo, não será a decisão da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e curiosamente esta, composta por políticos misantrópicos que irá salvar esta fértil democracia ou votocracia, mas sim, os moçambicanos de gema e verdadeiros patriotas. Deste modo, caso a nossa democracia ou votocracia venha a ser salva, devemos imediatamente começar a revitalizar o nosso Estado e responsabilizar os implicados nesta toda trama por alta traição ao Estado e aos moçambicanos de hoje e de amanhã. Caso contrário, não adiantará que marquemos mais eleições gerais com estas instituições corruptos e que não sabem que o fim último da política é fazer feliz o cidadão conforme defendia Aristóteles, assim que a democracia só anima quando existe respeito pelo dever da civilidade do cidadão, tal como disse John Rawls. (Omardine Omar)