1 Este artigo foi elaborado a partir de algumas impressões etnográficas retiradas do quotidiano de Maputo durante o ano de 2006. Se é certo que procurei suportar estas impressões com dados de natureza mais objec tiva, que pudessem fortalecer as
considerações produzidas, é elementar insistir que não substituem um traba lho mais profundo sobre um tema bastante particular da relação de Portugal com os países africanos de lín gua oficial portuguesa.
2 No fim do mês de Março de 2006, no exterior do Mercado Central de Maputo, fui abordado por um jovem vendedor ambulante que se distinguia da multidão por envergar uma camisola garrida do Liverpool FC, clube de futebol inglês. Enquanto lhe garantia não ser um turista e não estar interessado nas várias peças de roupa, distribuídas por diversos cabides, que procurava vender, ele insistia para que eu olhasse para a sua mercadoria adiantando que sempre era melhor vender do que andar a roubar. Numa cidade com inúmeros problemas, onde grande parte da população vive em condições extremas, procurando sobreviver na vasta economia paralela, o fim da frase soou como um aviso. Parei, apontei para a sua camisola e disse que tinha vindo a Moçambique para ver jogos de futebol, aproveitando para lhe relembrar que o Liverpool acabara de ser eliminado, nos oitavos de final da Liga dos Campeões Europeus, pelo Benfica. O jovem vendedor olhou-me com um sorriso e apresentou-se como Marcos Isaías, normalmente conhecido por Isaías, nome dado pelo pai em homenagem ao antigo jogador de futebol brasileiro que jogou pelo Benfica.
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