Por Edwin Hounnou
A profissão de ensinar e de educar é muito nobre, desde os todos mais antigos. Sempre foi uma profissão respeitada pela sociedade até ao dia em que o professor se deixou prostituir, partindo a correr atrás de um osso sem tutano.
No passado, o enfermeiro e o professor eram pessoas de referência social, respeitáveis. Eram profissões tomadas como um exemplo tanto no campo assim como nas zonas semi-urbanas. Qualquer família almejava ter um filho professor ou enfermeiro porque eram tomados como reserva moral, profissões de bem servir a sociedade e de rreferência.
O enfermeiro e o professor eram muito respeitados porque se faziam respeitar. Sabiam que a sua profissão anda sob o escrutínio popular e, por nada, fariam algo que pudesse manchar essa fama. Não se deixavam levar por nada que deixasse cair na lama a sua reputação.
Hoje, o professor e o enfermeiro se deixam vender por um rebuçado, uma cervejinha, um pedaço de galinha, um quilo de feijão, um litro de maheu ou de nipa.
Muitos dos antigos professores e enfermeiros não haviam estudado muito por aí além. Muitos não tinha mais que uma quarta classe mais dois anos de formação específica, mas tinham uma formação moral vertical. Ninguém tinha licenciatura de nada ou algo parecido. Ninguém sabia que isso existia, mas todos o respeitavam pela sua conduta. Eram os professores que ensinavam nas escolas primárias subordinadas das missões católicas. Quem concluísse a quarta classe se orgulhava de ter sido bem formado.
Os seus alunos sabiam ler. Liam sem gaguejar. Conheciam a Tabuad, Aritmética e História. Não cometiam erros de palmatória no Ditado ou Cópia. Cantavam a Geografia e conheciam as configurações e potencialidades do seu país. Eram exímios em Leitura. Na aldeia, eram meninos que as mamãs e papás recorriam para mandar escrever, de forma correcta e percetível, cartas para maridos e familiares em terras distantes. As escolas, hoje, são fabriquetas de meninos que não sabem nada. De jumentos.
Os professores de hoje - que lecionam em escolas primárias e secundárias - ainda que apresentem o canudo de licenciatura, não têm carácter, não ensinam nada e seus alunos estão sujeitos a passagens automáticas. O aluno tenha competências ou não, transita de classe com vista a atingir os Objectivos do Milênio e como resultado disso, saem das escolas um exército de analfabetos, de burros que não mal sabem ler um parágrafo ou ler duas palavras sem gaguejar.
Ouvir um aluno da décima segunda classe a ler qualquer que seja o texto, é uma lástima que pode provocar o enfarte. Não conhecem a tabuada.
É legítimo que a gente se pergunte : que país queremos e para onde vamos? A culpa de tudo isso é o sistema da educação existente no país que permite a reprodução de analfabetos ainda que tenham passados lá 12 anos ou mais a estudar, porém, com aproveitamento nulo. A escola é, na verdade, a base para o povo tomar o poder, mas isso agora já não é verdade.
Hoje, a arma de destruição de um povo ou de país jjá não é como aquela que os norte-americanos lançaram sobre as cidades japonesas de Nagasaki e Hiroshima, em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial. A nova arma de destruição massiva é o analfabetismo. É o fraco sistema de saúde onde você não encontra fármacos para curar uma dor de cabeça, uma diarreia. Não encontra o básico como álcool, ligaduras, compressas, etc., por vezes, nem papel adequado para a prescrição médica.
Os professores médicos e enfermeiros estão na situação de pobres menores do Estado. Temos tudo para que Moçambique esteja no pelotão dos países mais atrasados do mundo.
A corrupção endêmica na administração pública vem apimentar o cenário de um país sombrio, lixado, tramado e sem futuro. Em pouco mais de 48 anos, saímos do escalão dos países de desenvolvimento médio, ao nível do Continente Africano, para a cauda. Não conseguimos manter o ritmo que o país havia atingido ainda na era colonial.
O sistema da educação é mau e com profissionais de baixa consciência política. Todos se batem por uma côdea de pão. Lutam para fazerem parte dos comités do partido no poder que infestam todas as escolas. Querem ser primeiro-secretario da célula da Frelimo para, desse modo, poder subir na vida. Isso é falta de carácter de muitos professores. A Frelimo já se apercebeu da "faraqueza" dos professores e não os leva em conta.
A culpa é dos professores por socorrerem o regime sempre que este estiver em apuros em momentos eleitorais. São fracos, não sabem retribuir pela mesma moeda. São lacaios e lambe-botas, por isso, a Frelimo não os respeita.
Nunca se viu uma célula da Frelimo nos tribunais e nos hospitais porque os juízes e médicos são profissionais sérios. Eles têm carácter. Nunca vimos um médico ou juiz ou procurador como fiscal nas eleições nem como delegado de candidatura. Os professores abandonam suas famílias, profissão e alunos para se juntarem à Frelimo na fraude eleitoral e participando de outro tipo de batota.
Presidente da República, Filipe Nyusi, que também é Presidente da Frelimo, quando das reivindicações por melhores salários mandou os professores "beber água". Mas o governo teve uma postura diferente quando da reivindicação do magistrados. Deu-lhes papel e caneta para escreverem os salários que achavam mais convenientes para eles.
Quando da greve dos médicos o governo quis brincar mas depois se apercebeu que o "game" era sério. Para agilizar a resolução do problema, Nyusi destacou o primeiro-ministro para chefiar a equipa governamental.
Os magistrados e médicos são interlocutores respeitáveis enquanto os professores não o são por serem demasiados maleáveis e vulneráveis.
O Governo tomou uma postura de respeito e consideração no caso dos magistrados e dos médicos, todavia, não ligou patavina aos professores. Porque? Os professores não se fazem respeitar. Nyusi mandou-os "beber água" por saber que são moleques e puxa-sacos que permitem que a Frelimo lhes tire parte do seu salário. Os professores nem têm controle do seu salario.
Os professores enquanto não mudarem de postura, sempre a Frelimo lhes vai dar água para beberem. Não tarda para lhes darem vinagre.