O truque de Filipe Nyusi ontem não passou despercebido. O Presidente participou nas comemorações do 20.º aniversário de criação do Conselho Constitucional (CC), que ontem se assinalou. E em jeito de discurso deixou inderectamente recados ao CC mas, para bem entendedor- como sói dizer-se- meia palavra basta.
Numa altura em que o CC tem às mãos o complicado dossier sobre as eleições autárquicas, Filipe Nyusi devia afastar-se de eventos como o de ontem. Não era tão necessário que ele estivesse lá. A sua presença desperta suspeitas. O que o Presidente foi lá fazer?
Quem nomeia o presidente do CC é o Presidente da República. Portanto, ele é que é o “boisse”. E qual é a interpretação do nomeado quando o “boisse” lhe visita? Obviamente tem de lhe fazer todas as vontades, mostrar que tudo está em ordem, tanto que a continuação do nomeado no cargo depende exclusivamente da boa vontade do “boisse”.
A participação de Filipe Nyusi ontem no evento do CC pode ser interpretada como uma chantagem indirecta à senhora Lúcia Ribeiro, actual presidente do CC. Ou decide a favor da Frelimo ou, então, está fora.
O truque usado ontem pelo Presidente, não está longe do que a máfia faz. Tem que mostrar quem manda. E vejam que a presidente do CC até acabou por não dizer nem uma palavra sobre o dossier eleições- embora ela não fosse obrigada a dizer nada. Pode até ter evitado tecer qualquer comentário por medo de Nyusi.
Para entenderem melhor, os jornalistas normalmente aproveitam ocasiões como a de ontem para interpelarem determinadas autoridades. Ondem, para além daquele evento, há-de se encontrar a senhora Lúcia Ribeiro? E o que ela devia dizer ontem aos jornalistas se o individuo directamente interessado estava lá? E é um individuo que não gosta de ser contrariado. Todos devem dançar o seu Mapiko.
O então presidente do Instituto Nacional de Estatísticas não foi chamado de ”capim que quer crescer sozinho” só por ter dito poucas verdades? E como é que ele terminou?
O que o CC está a fazer agora é mais ou menos isto: julgar os crimes que dizem ter sido cometidos pelo partido do “boisse”. E antes de haver sentença, o “boisse” aparece. Que interpretação se pode ter disto?
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