Por Adelino Timóteo
Circula por aqui uma informação de que o voto que castigou a FRELIMO nestas eleições autárquicas, em que o partido no poder perdeu copiosamente, em Maputo, funda-se no êxodo de cidadãos do centro e norte para a Xilinguine, Delagoa Bay e Lorenzomarqui. Não pode se tratar senão de uma alegação infundada. Ouvindo videos da «operação tira-camisa», a correr em Maputo, pode-se ouvir pessoas desconcertadas, falando português e com acento ronga a liderarem o assédio contra os apoiantes do «outro lado». É um movimento de manifestação popular que está a ocorrer e creio que independente de raça, etnia, posição social.
Vive-se um momento de grande revolta em Moçambique e esta revolta não deixa indiferente os tsongas, changanes, matswas, senas, ndaus, matewes, nhungwés, nyanjas, macondes, kimwanes e macuas.
Só tenho a lamentar que a intolerância tenha chegado a esse extremo no nosso belo país. Os moçambicanos não têm consciência do quão valioso é Moçambique. Se o tivessem, já há muito estariam a viver a real democracia, repeito mútuo, tolerância e harmonia.
Se os moçambicanos não forem condescendentes entre si, não serão outros povos que o serão consigo.
É irresponsável advogarmos a pureza das nossas raças hoje. Nunca os moçambicanos estiveram tão misturados como nos últimos quarenta/cinquenta anos.
Indo a factores históricos, uma das primeiras manifestações de moçambicanos ocorreu no Porto de Lourenço Marques. Em Setembro de 1974 houve um grande levantamento de populares africanos contra uma minoria que os atacou nos subúrbios.
Maputo está cansada do regime. E este assunto é muito sério.