Por Edwin Hounnou
A paz sempre esteve ameaçada, no nosso país. Nunca vivemos em segurança e em paz. Desde que Moçambique ficou independente da potência colonial nunca conheceu, até ao presente momento, uma paz efectiva e duradoura. Sempre andou de guerra em guerra e os intervalos entre as guerras são raros, bem escassos. As guerras por que temos passado devem-se aos excessos abusivos da governação da Frelimo que sempre colocam a paz em causam instabilidade.
Nenhum povo do mundo expulsou o colono para mergulhar o seu país em guerras sem fim. Nós somos um raro exemplo de um povo lutou pela sua independência e depois de esta alcancada descambou em guerras e nunca conheceu o sabor de uma paz efectiva.
O país retrocedeu em todos os capítulos e isso não se deve a qualquer destino mas à maneira errada e arrogante como o país tem sido conduzido. É falso alegar que as guerras que nos assolam, talvez à excepção do terrorismo ora curso em Cabo Delgado, as restantes guerras resultaram foram produto da má governação pela Frelimo que se comporta como proprietário do país e senhor absoluto do seu povo.
O Partido Frelimo tem sido o único e exclusivo responsável pela instabilidade permanente e guerras constantes que devastam o país, há cerca de 50 anos, por um lado. A Oposição, por outro, não tem sido suficientemente firme para levar o partido no poder à consciência a fim de deixar de brincar com o fogo.
Os fuzilamentos sem fundamento de cidadãos acusados de qualquer coisa, as restrições de movimento sujeito a guias de marcha, as repressões do sistema restringindo a liberdade de expressão e política foram sementes para semear o descontentamento que desembocou em resistência armada.
É falsa a propaganda de que a guerra civil que devastou o nosso país tivesse sido concebida e movida pelo regime racista da Rodésia do Sul (hoje Zimbabwe) e pelo regime do Apartheid da África do Sul. A génese das guerras por que temos vindo a passar assenta-se nos excessos da governação do país. A Rodésia e o Apartheid, entraram na boleia. Ninguém se aproveita de nós quando tudo estiver em conformidade.
A falta de vontade de consolidar a paz e a reconciliação nacional sempre foi patente nas acções quotidianas do partido no poder. Tudo tem feito para que não haja paz nem sossego. As eleições autárquicas de 11 de Outubro de 2023 deixou bem evidente que um grupo de bandidos assaltou o leme do Partido Frelimo e, de forma louca, conduz o país para uma verdadeira tragédia sem paralelo na História recente do país.
Nenhuma estratégia humanamente aceitável nem mesmo com recurso à magia negra poderia conferir à Frelimo uma vitória quase a 100 porcento. O país anda à deriva e impossibilitado de se desenvolver devido a políticas nefastas dos diversos governos da Frelimo. A pobreza que cobre os moçambicanos resulta da má governação e não por falta de recursos. Os roubos são feitos por quem se acha dono do país.
O nosso país tem recursos suficientes para se desenvolver e ser uma boa referência no mundo. Isso não tem sido possível por existir um obstáculo enorme atravessado no seu caminho. Esse obstáculo chama-se Frelimo que não deixa o país crescer e andar para frente. Não permite o povo se sentir livre e senhor do seu destino.
O desenvolvimento não resulta apenas pelo facto de um país possuir recursos como grafite, diamantes, petróleo e gás. Vários países africanos possuem minerais, hidrocarbonetos, rios e com uma longa costa marítima mas continuam subdesenvolvidos. Nós fazemos parte dos países com imensos recursos mas pertencemos ao pelotão dos países mais subdesenvolvidos do mundo. Isso não acontece por um mero acaso ou azar, é produto de políticas a que estamos submetidos.
Enquanto não tivermos em conta que a corrupção resulta de trabalho e da seriedade do governo não sairemos do chão em que nos encontramos. Moçambique tem a terceira maior jazida de hidrocarbonetos no mundo mas isso não valerá para nada enquanto tivermos governos de bandidos.
Temos mais de 60 rios com curso de água permanente, 360 milhões de hectares de terra arável, madeiras que oferecem a empresas chineses, um invejável complexo ferroportuário, uma costa marítima de cerca 2500 quilómetros, mas continuamos pobres. Os recursos não nos valerão para nada enquanto o principal obstáculo não for removido do caminho.
As eleições seriam, em democracia, o meio para remover regimes corruptos, porém, a Frelimo continua a mesma FRELIMO da luta de libertação nacional : alérgica à democracia, intolerante ao pensamento diferente.
A Frelimo não tolera resultados eleitorais que lhes sejam desfavoráveis, socorre-se de fraudes para continuar no poder. Desta vez atingiu níveis inaceitáveis. Não se pode afirmar que a Frelimo perdeu em 100 porcento, porém, é uma loucura dizer que a Frelimo venceu com quase 100 porcento. É uma grande mentira e negação à democracia.
A maioria das autarquias ficou com a Oposição e o povo está zangado por lhe dizerem o contrário. Não aceita os resultados que a Frelimo diz ter obtido por serem falsos. Os que protestam contra a burla não são apenas mal dos dos partidos da Oposição mas de todos os cidadãos fartos da governação desastrosa da Frelimo.
A parcialidade dos órgãos eleitorais - a CNE e STAE (Comissão Nacional de Eleições e Secretariado Técnico de Administração Eleitoral) são grandes factores de instabilidade política no país por favoreceram o partido no poder. Vale mais não perdermos tempo com eleições de brincadeira que só servem para agradar os Estados Unidos da América e a União Europeia que financiam um regime corrupto, apodrecido e de bandidos.
O povo quer ver o país democratizado, em paz e não andar a tolerar e ver corruptos e bandidos a ver o seu destino com recurso a fraudes eleitorais. Em democracia governa quem venceu uma eleição a aquele que perde fiscaliza o vencedor é não o inverso. É falso que a Frelimo tenha ganho tudo e a Oposição tenha perdido quase tudo.
As políticas seguidas pela Frelimo ameaçam a paz e reconciliação nacional. Perder as eleições e persistir no poder é um golpe. É uma ameaça muito grave à paz e estabilidade nacional.
VISÃO ABERTA – 17.11.2023