Resumo:
A “questão étnica” sempre foi presente no debate interno aos dois principais partidos políticos de Moçambique, sendo uma das causas de confl itos antigos e modernos. Entretanto, a imprensa, sobretudo pública, evitou abordar esse assunto devido a um discurso que o partido hegemónico (a FRELIMO) impôs ao país, privilegiando ideais como o relativo à unidade nacional e à luta contra o “tribalismo”. Usando como ponto de referência teórico o da agenda-denial, este artigo procura reconstruir o relacionamento entre imprensa e poder político de um país considerado autoritário como Moçambique. A metodologia usada assentou-se numa abordagem qualitativa, tendo como técnica privilegiada a análise do discurso e das linhas editoriais de órgãos de comunicação públicos e privados que tenham abordado, ao longo do período de tempo aqui considerado, a “questão
étnica” como um dos elementos centrais da sua cobertura. Ficou evidente que a imprensa pública, apesar de princípios constitucionais pluralistas, continua a sofrer do mecanismo de agenda-denial por parte do governo, ao passo que a privada tem procurado propor temáticas diferentes e com abordagem crítica, entre as quais, a relativa aos assuntos de matriz étnica, apesar das ameaças e violências físicas decorrentes dessa postura.
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