A vida de um homem pode ser comparada ao voo de uma ave, que tem o seu início, o seu auge e o seu regresso final a terra. Enquanto o voo dura, um homem (e também uma mulher) vai-se metamorfoseando, construindo-se como pessoa, vestindo-se com os seus gostos, opiniões, crenças. É o que podemos apreciar neste “O longo voo dum homem”, as roupagens do pensamento que vestem um homem, que aprendeu a sê-lo nesse voo e nunca aprendeu a deixar de o ser. Felizmente.
Uma das histórias incluídas nesta obra:
OS LOMUES (1916)
As pequenas e numerosas tribos do povo negro "lomuè" ocupam o extenso território central da província da Zambézia, em Moçambique. Extremamente individualistas, espalham-se por este território, construindo as suas palhotas afastadas umas das outras. Quando têm que se agrupar em pequenas aldeias, fazem-no com as palhotas afastadas umas das outras e com as portas nunca direcionadas de frente para as dos seus vizinhos.
Politicamente organizados, com os seus chefes tribais situados a dois níveis de poder, num costume ancestralmente seguido, administram a sua justiça e conceitos religiosos e exercem o comando militar das suas tribos.
O comando político de regência dos povos e terras estabelece-se em dois patamares: os "muénes" e os "samassoas", estes, na dependência dos primeiros. A sucessão do poder é feita sempre para o sobrinho mais velho, e nunca para o seu filho.
Acreditam em Deus, a quem chamam de "Mulungo", mas interpretam-no de uma forma difusa, confusa, receosa dos seus poderes, que não sabem bem quais, amarrados a superstições de toda a espécie, e a espíritos ligados a rios, árvores, animais, etc.
Praticam a poligamia. As mulheres são compradas muito novas, por bois, cabras, galinhas ou dinheiro, em negociações respeitosas com o futuro sogro. Poderão ter assim o número de mulheres que a sua prosperidade económica lhes possa permitir. No entanto, a primeira mulher tem uma ascendência e um estatuto superior sobre todas as outras. São sexualmente emprestadas a amigos, ou a qualquer pessoa por quem se sintam na obrigação de os presentear.
A tarefa do trabalho agrícola pertence às mulheres. Ao homem com mais mulheres corresponderá necessariamente maior prosperidade económica na tribo. Aos homens cabe serem guerreiros, caçadores ou trabalharem em qualquer profissão, nas cidades. Não trabalham mais que seis meses ao ano, posto o que regressam às suas casas, para ajudar as suas mulheres no cultivo das "machambas".
Desenvolvem um grande sentido de solidariedade e entreajuda com os outros elementos da tribo, principalmente para com os mais velhos.
(Págs.91/92)
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