Por Edwin Hounnou
Há muita coisa que nos torna diferentes de outros povos. A nossa passividade que nos faz deixar passar algo de errado sem dizer uma única palavra, que nos faz parecer um cordeiro que mesmo sendo cortado o pescoço não reage. O cordeiro fica quieto, não se mexe nem se convulsiona até à morte.
Não reagimos aos estímulos nem às provocações que nos fazem. Não gostamos de confusões e como nos conhecem como um povo pacífico, já não respeitam a nossa vontade. Nós já não queremos nada.
Queremos o que eles querem. Ficamos conformados com as suas ambições e desejos. Eles são a razão do nosso querer. Somos coisa e não pessoas com vontade própria. Enquanto eles não quererem, nós não podemos querer. Antes de eles se fartaram de estar sobre nós, não podemos reagir.
Somos pacíficos e embrutecidos por um sistema que nos ensina que devemos ser eternamente gratos por eles nos terem libertado do colonialismo. Ao abrirmos os olhos, nos tornamos ingratos, mal agradecidos e nos agridem com a sua polícia.
Passam mais de 48 anos que vivemos debaixo de um sistema opressor, que faz o nosso país um dos mais atrasados do mundo. O peso da mentira e da injustiça nos esmaga.
A pobreza, a corrupção nos descaracterizam como povo. A falta de um sistema de ensino de qualidade e de saúde nos tornam eternamente escravos. Brincamos às eleições para nos entreterem. Se noutros quadrantes do mundo as eleições servem para libertar os povos, entre nós, ficamos mudos e retrocedemos cada vez mais.
O cerco político vai ficando cada vez mais apertado, por cada ciclo eleitoral que passa. Já não somos um povo. Somos pessoas solúveis, sem vontade própria e aceitamos qualquer imposição.
Outros países, nossos vizinhos, realizam eleições e antes de passarem 24 horas já sabem quem ganhou. O perdedor felicita o vencedor sem rancor nem mágoa devido à transparência como os processos decorrem. Não há nada a esconder. Não tem nada de secretismo. É assim como as coisas funcionam no mundo civilizado. Nós não conseguimos fazer o mesmo.
Os nossos processos eleitorais terminam em explosões porque, geralmente, o perdedor se faz de vencedor, como está sendo agora. Os resultados passam do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral para serem realinhados. Depois vão à CNE a fim de serem refogados e mais tarde desaguam no grande tribunal - Conselho Constitucional - onde são reexaminados, aumentados ou reduzidos, para que estejam em conformidade com a "linha correta" da Frelimo.
Na Libéria, um país com feridas ainda abertas da guerra civil, realizou as suas realizações presidenciais e legislativas e ao fim de apenas quatro dias todos sabiam quem venceu e quem perdeu. Não houve centralização na mesa nem nas preliminares do STAE. Não houve chance para rasurar editais nem trocá-los por outros mais convenientes ao grande partido. Ninguém enviou editais a algo parecido com o conselho constitucional. A transparência não permite manobras para falcatruas e cambalchos.
Na Argentina, os resultados foram conhecidos no mesmo dia. Temos acompanhado como as eleições decorrem em Portugal. Antes da meia noite desse dia, os resultados são conhecidos. Aquele que perdeu felicita o vencedor. Aqui como se pode felicitar a um que foi eleito por fraude e violência? Frelimo faz tudo ao contrário - comete fraudes, rouba votos e usa a polícia para violentar o opositor. Ê isso que nos faz diferente dos outros.
Quando não há justeza nem transparência, compra-se conflitos e guerras. Os conflitos e as guerras que temos experimentado a seguir às eleições resultam da falta da transparência, da ganância de querer governar sem legitimidade.
Quem promove conflitos e guerras são as elites políticas do partido no poder que se enriquecem através das suas posições no Estado.
As guerras servem de veículo para drenar fundos públicos para seus bolsos. O poder de estado, que não querem largar mesmo com o vermelho directo, e as guerras que procuram, dão dinheiro fácil, basta ver para o tipo de vida que seus filhos levam, muito acima da média dos salários que seus pais auferem.
A pergunta que persiste é : o que eles pretendem fazer de Moçambique, nossa terra? A falta de transparência nos processos eleitorais, a falta de respeito e consideração do outro desembocam, sempre, em conflitos.
O nosso país está longe de alcançar a paz porque quem diz que ganhou uma eleição, não ganhou e a quem dizem que perdeu, afinal, não perdeu.
As nossas guerras nascem dessa postura da Frelimo. O feiticeiro que incendeia a nossa casa está entre nós cá dentro. Nunca veio da África do Sul do Apartheid nem da Rodésia racista. O nosso problema chama-se Partido Frelimo.
A diferença entre nós e os outros reside no seguinte : os outros fazem eleições para consolidar a democracia, a liberdade, o respeito pela diferenca e a unidade do povo. Entre nós, fazemos eleições para derrubar a democracia, matar a quem se opõe a nós, enfraquecer a paz e destruir a reconciliação nacional.
Os órgãos eleitorais - STAE, CNE e o Conselho Constitucional funcionam como sucursais do partido no poder. Não teremos paz nem reconciliação. Somos e seremos sempre um povo banalizado, qualquerizado pelo sistema instalado pelo partido Frelimo.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 29.11.2023