Por Afonso Almeida Brandão
Faz tempo que temos opinado como jornalista que o ex-Ministro das Infra-Estruturas Pedro Marques era um aldrabão e não tinha condições para dirigir “uma mercearia”, quanto mais um Ministério. Felizmente, o ministro foi enviado para Bruxelas, onde certamente fará muito menos estragos. Depois, de forma mais contida, escrevemos, várias vezes, de que o Ministro Pedro Nuno Santos poderia ser uma pessoa bem-intencionada, mas sabia muito pouco daquilo que andava a fazer, nomeadamente na ferrovia e que esse erro político e técnico era um desastre para a Economia Nacional. Estamos agora a escrever o que parece ser óbvio para, pelo menos, metade dos portugueses, que o terceiro Ministro das Infra-Estruturas, João Galamba, (felizmente já demitido!) também havia enveredado pelos mesmos erros dos seus antecessores, a que acrescentou alguns «outros da sua própria lavra». Parecia haver andaço no Ministério das Infra-Estruturas. E a verdade é que havia mesmo...
Um dos erros destes três ministros foi contrariarem as normais regras das Economias de Mercado de todo o Ocidente, a filosofia e a prática Económica da União Europeia e as regras e incentivos estabelecidos por Bruxelas de interoperabilidade da ferrovia em toda a Europa. Trata-se de três ministros que recusavam a concorrência internacional na Ferrovia Nacional, impedindo, através da bitola, que os comboios europeus entrassem em Portugal e os comboios portugueses não entrassem nas principais vias espanholas e em nenhuma linha do resto da Europa.
Ou seja, como o investimento na ferrovia se faz para, pelo menos, meio século, os portugueses e as mercadorias portuguesas estiveram impedidos de sair de Portugal de comboio até próximo do final do Século. Ou seja, é essa/foi essa, pelo menos, a intenção dos três Ministros Aldrabões e da “Treta”.
As circunstâncias de três ministros pensarem da mesma forma, de dois já terem deixado o Ministério e do terceiro que se encontrava a caminho, à época, levou-nos a concluir que a ideia deveria ter sido do Primeiro-Ministro (felizmente já “fora da caroça” do Governo) que, aparentemente, não via nisso um problema de maior e andou há anos a tentar seguir o exemplo de António Guterres e de Durão Barroso na obtenção de um melhor Emprego na Europa, ou noutra Latitude mais estimulante. Nada de novo; portanto também há séculos que as boas famílias portuguesas lutam para conseguir um bom emprego para os filhos, seja na Igreja, no Exército, ou na Corte, para, agora, mais modernamente, alargarem o Horizonte até à União Europeia, o que faz sentido e o Presidente da República dá uma ajuda. Menos natural é como conseguiu — que é que conseguiu — António Costa convencer os europeus a usarem a Bitola Ibérica.
Entretanto, enquanto a Europa não abria as portas dos novos empregos, o Primeiro-Ministro não fez outra coisa senão ir ao Banco “sacar alguns fundos europeus” para distribuir profusamente pelos mais diversos destinos. Tão diversos que o seu impacto no real desenvolvimento do País e na alteração do nosso Modelo Económico acabaria por ser muito reduzido. Alguém tem dúvidas? Como então escrevemos, faltou ao PRR o foco necessário, ou seja, a concentração do investimento em dois ou três grandes objectivos que tivessem o poder de fogo suficiente para provocarem as grandes mudanças de que o País necessitava. A propósito, a imagem de «poder de fogo» não é um acaso, recordamos que quando fizemos o Serviço Militar nos haviam explicado o efeito das bombas da chamada carga oca, que servem para perfurar a blindagem de um tanque, concentrando toda a sua energia num único ponto. Não nos esquecemos do ensinamento e aplicá-mo-lo agora ao domínio da economia.
Acresce que o Ministro da Economia já tinha antes dado ao Plano de Resistência e Resiliência tantos objectivos diferentes, que a concentração dos seus efeitos se tornaram inconsequente. Claro que investindo nas diversas áreas que a falta de investimento dos Orçamentos do Estado dos últimos anos deixou a descoberto alguma coisa melhorará, mas o seu efeito na Economia foi muito reduzido. O que aliás se verificou nas próprias estimativas do Governo e das instituições internacionais que previram um crescimento moderado da economia dos próximos cinco anos. E isso apesar do Turismo estar a crescer e das grandes empresas estarem a aumentar as exportações.
Insistimos que o investimento dos dezasseis mil milhões de euros na Educação — creches e pré-escolar — e na industrialização teria “o desejado foco” capaz de mudar o modelo de desenvolvimento Nacional e de lançar uma nova base para crescimento da Economia, através de uma verdadeira revolução na qualificação dos Recursos Humanos e em novos empregos industriais melhor remunerados e em mais exportações. É isso que os espanhóis fizeram/estão a fazer, pagando para atrair mais investimento estrangeiro na Indústria, o que é facilitado pela capacidade da nova Ferrovia Espanhola ajudar nas exportações destinadas à Europa, em substituição do camião.
Durante mais de vinte anos a estagnação de economia portuguesa resultou de um modelo económico errado e sem salvação. Em abona da verdade somos de opinião que se tratava de uma economia baseada em mais de 90% de empresas muito pequenas, a viverem num meio de enorme concorrência, desgraçadamente a maioria são empresas comerciais importadoras e não exportadoras, além de servidas em grande parte por recursos humanos que eram e são pouco qualificados. É um modelo económico sem salvação possível e sem que o presente PRR possa contribuir para o alterar, nem na sua dimensão Económica, nem na sua dimensão Social.
Claro que o clima de debate público dos inúmeros “casos e casinhos provocados pela má qualidade do pessoal político do PS também não ajudava. Por outro lado, a ausência de sentido de direcção da governação do País também impedia, em qualquer caso, que as escolhas feitas fossem orientadas no melhor sentido. A opção pelo Mercado Interno foi/é ainda um erro; a ausência de poupança uma limitação importante; uma dívida externa excessiva uma condicionante; a falta de investimento na indústria, nomeadamente estrangeiro, uma tragédia.
O presente atraso de Portugal em quase todos índices de desenvolvimento Económico e Social no contexto da União Europeia resulta de todos estes factores, que limitam o efeito dos muitos milhões de euros de ajudas externas que temos recebido ao longo dos anos. Este facto, só por si, deveria alertar os portugueses, o Presidente da República, a Assembleia da República e o Governo. Infelizmente, não é/foi isso que aconteceu. E aqui chegados só nos resta dizer que assim já eram três Aldrabões!!! Por mal dos nossos pecados, convenhamos...■