A empresa independente de pesquisa económica com sede em Londres, Capital Economics, afirmou que Angola e Moçambique são os países da África Subsaariana com a dívida mais arriscada caso haja uma depreciação das moedas locais ou alterações significativas no contexto do comércio internacional.
“Angola ou Moçambique, com altos níveis de dívida em moeda estrangeira, são os que estão mais em risco de sobreendividamento [debt distress, no original em inglês] caso haja uma deterioração do comércio internacional e/ou um enfraquecimento da moeda”, avançaram os analistas da instituição através de uma nota divulgada neste domingo, 3 de Dezembro, pela Lusa.
De acordo com os analistas, “com grande parte da dívida em moeda externa, estes dois países serão vulneráveis quer a súbitos recuos no valor da moeda, quer a alterações significativas nos termos do comércio internacional. A média da dívida pública na África Subsaariana está ainda acima dos níveis anteriores à pandemia”.
“A maioria destas economias vai precisar de mais ajustamentos orçamentais para estabilizar os rácios da dívida face ao Produto Interno Bruto (PIB), que é um dos principais indicadores usados para aferir a sustentabilidade da dívida de um país”, sustentaram.
“A posição dos países africanos melhorou um pouco em 2022, face a 2021, mas apenas uma pequena minoria tem um peso da dívida inferior ao registado antes da pandemia e, ao contrário do que acontecia, nenhum país tem actualmente um rácio de dívida face ao PIB superior a 100%”, acrescentaram.
No que diz respeito a Angola, os analistas explicaram que “o país conseguiu reduzir em quase 40 pontos percentuais o seu rácio de dívida sobre o PIB entre 2019 e 2022, devido não só à suspensão dos pagamentos da dívida ao abrigo das iniciativas internacionais neste sentido, mas também à valorização do kwanza e à saída da recessão económica, que fez aumentar o PIB e, consequentemente, descer o rácio”.
“Ter uma grande percentagem da dívida denominada em moeda estrangeira é um risco fundamental para Moçambique e Angola, e também para países como a Zâmbia, que já entrou em incumprimento financeiro”, disse a Capital Economics, salientando que o simples facto de o kwanza se ter desvalorizado em cerca de 40% durante o segundo trimestre deste ano faz o rácio da dívida subir 25 pontos percentuais.
A dívida pública dos países africanos tem sido uma das principais preocupações dos economistas e das instituições internacionais nos últimos anos, não só pelo encarecimento dos custos de novos empréstimos, por causa da subida das taxas de juro, mas também pelo espaço orçamental que ocupa, desviando investimento de áreas estruturais e deficitárias, como a saúde ou a educação, para além das infra-estruturas básicas, e por propiciar medidas impopulares de ajustamento financeiro.
“Implementar medidas de austeridade vai ser desafiante; vários governos já recuaram nos esforços para controlar a despesa pública e implementar impostos. A inflação elevada aumentou os receios de que mais austeridade pode aumentar a agitação social”, destacaram
Os analistas referiram ainda que as eleições do próximo ano na África do Sul, em Moçambique e no Gana “implicam que o relaxamento orçamental pode ser adoptado pelos governos para permanecerem no poder”.