João Chamusse, jornalista moçambicano, editor do diário eletrônico “Ponto por Ponte” e comentador da TV Sucesso, foi encontrado morto na madrugada de hoje na sua residência no bairro Ka-Elisa, na KaTembe.
Vizinhos e uma fonte familiar confirmaram a ocorrência. Seu corpo foi encontrado estatelado no chão do seu quintal, com marcas de sangue ao lado e sinais de golpes na cabeça. Suspeita-se que ele tenha sido assassinado. Durante a nossa apuração dos factos nesta manhã, soubemos que a Polícia estava a caminho do local.
O incidente terá acontecido depois que o jornalista deixou o recinto de um convívio com amigos, não muito longe de casa. Por volta da 1 hora, ele despediu-se dizendo que ia dormir. Horas depois foi encontrado sem vida.
Chamusse era comentador na Tv Sucesso. Ele usava uma linguagem simples para exprimir sua crítica, com um registo onde expunha as incongruências e os excessos da governação do dia. De resto, ele nutriu ao longos dos anos uma mágoa intensa contra o regime.
Antes de ser jornalista, Chamusse estudou na Escola de Aeronáutica Civil e formou-se como piloto comercial em Lisboa, tendo regressado ao país em 1985. Estava integrado na LAM. Mas quando voltou, em vez do “cockpit”, foi-lhe apontada uma cadeira na Torre de Controlo de Mavalane.
Ele zangou-se! E suspeitou que a razão dessa “marginalização” só podia ser motivada pela cor da sua pele. Em 1986, quando o Tupolev 134, presidencial, que transportava o Presidente Samora Machel de regresso a Maputo despenhou em Mbuzini, na África do Sul, atraído por um VOR falso (sistema de Rádio Ajuda), Chamusse estava na Torre de Mavalane.
Mesmo que a teoria da conspiração sul-africana para derrubar o avião tivesse logo vingado, o piloto que controlava aviões foi seviciado pela secreta (SNASP, o então Serviço Nacional Segurança Pública), o que aprofundou seu descontentamento.
Em 1997, quando Carlos Cardoso deixou a edição do mediaFax (e a Mediacoop) para fundador o “Metical”, Chamusse entra para a redacção do diário, que passou a ser editado por Fernando Veloso. O jornal mudaria radicalmente sua linha editorial, tornando-se marcadamente anti-governo. Mais tarde os dois (Veloso e Chamusse), mais o jornalista Luís Nhachote, fundaram o semanário "Canal de Moçambique", através de uma sociedade denominada Imprel.
Nos últimos anos, Chamusse, cuja mulher, Conceição Vitorino (já falecida), também era jornalista, morava na KaTembe, e tornou-se uma face conhecida nas redes sociais por causa dos seus comentários jocosos na TV Sucesso.